A FONTE

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A luz ainda era um único círculo luminoso no fim do túnel quando Derek começou a se sentir ofuscado, virando o rosto e deixando apenas o aperto da jovem em seu braço o conduzir pelo solo inclinado. Mesmo com as pálpebras bem fechadas, não conseguiu evitar a queimação em seus sentidos o torturando até que se acostumasse um pouco mais e pudesse abrir os olhos.

No branco ofuscante, foi distinguindo aos poucos as árvores imponentes e os arbustos altos que ladeavam a trilha por onde caminhavam com pressa. Ninguém parecia muito interessado em apreciar o jardim com as cores chamativas de algumas flores maculando o verde muito vivo, mas Derek conseguiu reparar em parte de uma enorme casa que podia ser vista através das folhagens, as faces inclinadas do telhado cor de grafite exibindo painéis solares não muito longe.

Eles viraram no sentido oposto e prosseguiram por um caminho mais amplo, pavimentado por paralelepípedos de concreto e que terminava em duas paredes de madeira. As extremidades, à direita e à esquerda, perdiam-se na vegetação, mas no meio havia uma abertura guardada por dois seguranças.

Passando por eles, logo era possível ver que no avesso daquela barreira existiam arquibancadas ocupadas por pessoas elegantemente vestidas: homens com ternos e mulheres ostentando colares vistosos que praticamente cobriam o decote dos vestidos.

Dos primeiros bancos aos últimos, no alto, onde os ocupantes colocavam a mão sobre a testa para proteger os olhos da luz do sol que passava por cima da copa das árvores, retinia uma ansiedade elétrica, como se aguardassem um jogo importante. Contudo, para onde olhavam, não havia um campo para esportes ou um palco para espetáculos, e sim uma piscina rasa, de águas muito límpidas.

As bordas de mármore contornavam o pequeno lago em formato semicircular e terminavam em uma elevação rochosa irregular no outro lado, muito semelhante à Fontana de Trevi, em Roma, exceto, principalmente, pelas estátuas. Ao invés de uma reprodução de Poseidon, no centro, havia um general romano esticando o braço direito para frente, o punho cerrado como se tivesse acabado de dar um soco. Ele estava montado em um leão esculpido em tamanho natural entre uma rocha e outra, a expressão do animal era feroz e a boca estava aberta, parecendo pronto para vomitar uma torrente de água na fonte a qualquer momento.

– Senhoras e senhores, eu vos apresento Derek Campbell, o nosso mago. – Em pé, às margens da fonte, um homem com fios grisalhos se destacando na cabeleira penteada para trás apontou para Derek, e aplausos irromperam da plateia.

Caminhando na direção do estranho, o rapaz sentiu um calafrio com o choque de passar de uma caverna solitária ao centro das atenções.

– Bem vindo, meu caro – disse o homem. – Eu o saúdo em nome de toda a Efígie.

– Senhor, eu não sei o que está acontecendo – Derek cochichou, chegando mais perto. – Pode haver um engano.

– Engano? – o interlocutor desdenhou. – Nosso irmão Schoenberg trabalhou muito para acabar com a possibilidade de engano. Você é o bruxo que tanto esperamos.

– Quem são vocês? O que querem de mim?

– Ah, sinto muito. Você perdeu a maior parte da cerimônia e sequer fomos apresentados. Eu me chamo Jeremias Wernek, sou cônsul da Efígie. Estamos aqui para conhecê-lo.

Derek o encarou, esperando alguma coisa a mais.

– Desculpa, mas o que você disse que era?

Jeremias juntou as mãos e pôs a ponta dos dedos nos lábios, em gesto pensativo.

– Vejamos como posso explicá-lo. Há aproximadamente três mil anos, um general romano chamado Georgius governou uma província ao norte do velho continente e descobriu que nativos do território recém-conquistado possuíam poderes mágicos. Acabou conquistando respeito e prestígio entre os magos, que, em prova de amizade, o presentearam com moedas mágicas que davam poderes ao general e aos seus homens de confiança quando jogadas em uma fonte previamente encantada. A história acabou sendo esquecida com o tempo, sendo desenterrada no século XVII pelo naturalista francês Eliseu Ruschell em sua busca pelo oculto e pelo antigo. Ele fundou a Efígie, uma sociedade secreta empenhada em guardar o segredo da fonte, encontrar as moedas e protegê-las contra a ignorância humana e contra o mau uso de seus poderes. – Ele passou por Derek e se aproximou da jovem. – Graças à adorável Eveline Gutierrez o encontramos. Ela também tem poderes mágicos, sabia? Ela pode encantar ouro e foi com ajuda dela que Maciel fez um relógio que aponta como uma bússola para quem tem dons sobrenaturais. Como bruxos, vocês fazem parte dessa família, fazem parte da nossa história.

Derek Campbell contra a EfígieOnde histórias criam vida. Descubra agora