CHUVA DE MOEDAS

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– Como é? – perguntou Derek. – Como uma fonte pode simplesmente sumir?

– Não a fonte inteira. Apenas a água. Estou sentindo. Está seca.

– Eu avisei – debochou Maciel, do lado de fora. – Essa operaçãozinha de vocês está fadada ao fracasso. Acharam que seria tão fácil chegar aqui e jogar uma moedinha na água? Estão no nosso território.

– A cova do leão. – Derek se lembrou do que o relojoeiro falara antes de chegarem à mansão. – Devem ter escoado a água para algum reservatório, não é isso? Não é? – Apertou a corrente através da madeira e Maciel engasgou do outro lado.

Eram esperadas batidas na porta provocadas por braços e pernas se debatendo, mas a resposta que veio do corredor foi mais incisiva. Um buraco abriu perto do canto quando o tiro entrou para a sala e atingiu a parede no outro lado, perto da janela. Eveline deu um grito e se abaixou, arrastando-se com o pai para outra parte do cômodo.

Com os ouvidos zunindo, o rapaz levantou a cabeça e conferiu o estrago.

– Já estão atirando?

– Se não quiser virar um queijo suíço, é melhor desistir e me soltar.

A ameaça se cumpriu primeiramente na porta, alvejada por mais três tiros nos cantos, ainda longe do relojoeiro, mas não tendo nada que garantisse que os próximos não chegariam mais perto.

Derek não podia parar de pensar que a preocupação da Efígie com o bem estar de Maciel estava cada vez menor, o que era uma péssima notícia. O escudo que possuía perdia sua vida útil a olhos vistos e precisava procurar outro, mesmo mal podendo se mexer, apreensivo com os tiros que passavam por ele a centímetros de distância. Contudo, mais uma força motora estava chegando para quebrar sua paralisia temerária.

O rapaz virou o rosto com o tilintar ressoando ao lado. As moedas emolduradas chamavam a atenção, tremelicando ansiosamente contra os vidros. E não apenas elas eram sacolejadas: todo o cômodo, a começar pelo piso, reverberava, ecoando o tremor. Inicialmente, chegou a acreditar que era a correria dos atiradores no corredor, mas acabou percebendo que a algazarra no lado de fora era somente mais um reflexo da atividade sísmica repentina.

– Ninguém está em condições de fazer exigências – gritou Derek. – Muito menos você. Diga-nos onde está a água!

– Você não percebe – disse o relojoeiro, o tom de desesperança resignada na voz sendo correspondido e justificado pelo rugido logo em seguida. – Você não pode chegar até ela. Ele não vai deixar.

Derek abriu as portas, trazendo Maciel para dentro e o jogando contra o piso. Ele ficou acima do homem mais velho, virando as costas para o corredor agora vazio e sujo com jarros e quadros caídos pelo chão.

– Do que está falando?

– Está querendo entrar na boca da fera? Pois é isso que terá que fazer para chegar à água. Ela foi escoada para um reservatório nas minas, e entrar na terra não é bem o que esteja planejando, ou é?

Outro rugido ressoou violentamente pelos ares, tremendo a mansão como se os andares fossem caindo um após outro até não sobrar nada.

– Temos que sair daqui – disse Vítor, recolhido no canto.

– A janela! – indicou Eveline.

Derek se virou por um instante. O corredor continuava deserto, mas as passadas e vozes esbaforidas dos efígios continuavam povoando os espaços da casa, ostentando suas armas e seus instintos bélicos, que, por hora, estavam apontados para um alvo maior e mais perigoso do que eles.

Derek Campbell contra a EfígieOnde histórias criam vida. Descubra agora