FORA DE CONTROLE

16 2 4
                                    


– Em seus lugares! – O líder tentou acalmar a agremiação que o assistia atônita das arquibancadas, vozes murmurando perguntas sobre o que viam, ainda duvidando do que estava diante deles. O próprio Jeremias titubeou antes de continuar. – Ele é nosso. – Encarou a escultura viva com uma expressão dura e elevou a voz: – Pare!

O leão interrompeu a caminhada pelas águas, esperando que Jeremias se aproximasse e tocasse em sua cabeça perfeitamente sólida. Era tão real quanto qualquer um ali.

– Há séculos a Efígie guarda o segredo da fonte dos desejos, o verdadeiro meio de um humano usar a magia dos bruxos, e agora esse poder é todo nosso. – O cônsul se voltou para os membros da sociedade secreta que liderava e deu passos enquanto discursava feito um orador no senado.

Derek ouvia a tudo ciente de que acabaria tendo o mesmo destino do general; afinal, também parecia feito de mármore, paralisado pela pura perplexidade. O leão olhou para ele como se farejasse o terror, o apetite deixando as presas rochosas à mostra. O animal deu um rugido grave e foi difícil para o jovem não cair para trás.

– Calminha, amigo. – Jeremias se virou e apaziguou a estátua. – Ele está do nosso lado, não está?

– Vocês são loucos! – Derek vomitou as palavras. – Não estão protegendo a magia. Estão usando-a para si.

– Exatamente. Essa é a função das moedas e da fonte. Os bruxos presentearam Georgius com elas para compartilhar seus dons. Nada como dar o poder para quem realmente quer usar, não concorda?

– Não, não concordo! Depois de tudo o que contei, do que sabem sobre a morte dos meus pais, vocês querem brincar com fogo?

– Você era só uma criança, e não deixou de ser, de certo modo. Tão ingênuo. Somos os adultos aqui. Amadurecidos nos estudos da magia e das possibilidades da fonte. Refletimos sobre cada passo que deveríamos dar quando encontrássemos um mago, ou, pelo menos, águas encantadas para as moedas. Foi assim que ele nasceu. – Jeremias apontou para o leão. – Eu vou chamá-lo de Atlas. Tive a ideia de conjurá-lo depois de uma vida olhando para a imagem do cônsul original. O leão montado representa o poder da magia dominada pelo homem. Independentemente se tenha sido um fato histórico ou apenas um símbolo, pensei se não seria interessante conseguir com o pedido primordial um meio de controlar um bruxo, para qualquer eventualidade.

– Controlar a mim? Do que está falando?

– Quer saber mesmo? Ataque-o!

O leão rugiu e saltou na direção de Derek, que caiu antes mesmo que o monstro tocasse o chão espirrando água e estremecendo a fonte.

O mago deu braçadas para trás, um nado mal ajambrado na bacia, mas nem de longe tinha condições de ser mais ágil que aquelas patas de pedra que o alcançaram, firmando-se uma de cada lado de sua cabeça. De rosto para cima, ele tinha uma visão privilegiada da boca escarada, à espera de um simples comando para saciar a fome de carne bruxa.

– Se estiver planejando algum truque, recomendo pensar duas vezes. – Jeremias de agachou à direita. – Atlas não só é imune à sua magia, como também se alimenta dela. E está totalmente sob meu exclusivo controle, de modo que apenas eu posso segurar o apetite incontrolável que ele tem por você, isso para garantir nossa amizade, caso algo dê errado com as moedas que temos. Eu sei que parece desonesto, mas estudando muito as regras dos desejos, percebi que tinha margem para essa manobra. Cada uma das moedas é como um feitiço embalado para viagem, um poder um tanto limitado, mas com uma gama interessante de possibilidades para quem tem criatividade. Você vai ver o que podemos fazer. – O cônsul levantou e abriu os braços para o público. – É chegada a hora, irmãos. É hora de a província se tornar império.

Derek Campbell contra a EfígieOnde histórias criam vida. Descubra agora