PERIGO NA ESTRADA

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Atlas bateu o automóvel no chão e afundou a cabeça para estripá-lo, despedaçando metal e borracha com avidez. Estilhaços e faíscas voando eram por si só um convite mais que suficiente para se afastar, e Derek, recobrando a consciência, entendeu isso rapidamente, ainda que com algum ar de confusão. Levantando-se com ajuda de Eveline, praticamente não conseguia desviar os olhos do leão enquanto tentava correr para a lateral do bar, mal acreditando no que via.

– Vivo – balbuciou. – Ele está vivo!

O monstro não somente estava vivo, como também crescia, a terra e o asfalto se desprendendo do chão do estacionamento e subindo pelas patas para aumentar a robustez do corpo animalesco conforme engolia os restos da moto e avançava para os motoqueiros. O rapaz desviou o rosto antes de o primeiro ser abocanhado e andou o melhor que podia até chegar à fachada do Metal Envenenado, passando pelos três últimos clientes que corriam para ver o que se passava na parte de trás.

– Não. Isso de novo não.

– Derek, me escuta! – Eveline interrompeu a caminhada na metade do trajeto para a estrada. – Não precisa ser como na floresta. Pode ligar uma moto? Vamos fugir em uma.

– O quê?

– Não foi você que ligou aquelas?

O rapaz franziu o cenho ao se fazer a mesma pergunta; seria capaz de negar se não sentisse perfeitamente sua força agindo no pandemônio atrás do bar e sendo devorada pela fera ensandecida. Um rugido potente se sobrepôs a todos os ruídos caóticos, seguido por um estrondo que estremeceu os arredores. Os dois jovens se agacharam, mantendo o equilíbrio e se protegendo dos estilhaços que explodiram da entrada do estabelecimento. Atlas, agora maior que um elefante, tinha atravessado paredes como se elas fossem de isopor, retalhos de pneu caindo da boca gigantesca.

Emergindo dos destroços, a mera visão do animal foi mais eficiente em deixar os dois observadores inebriados do que o cheiro das bebidas derramadas, ambos também cambaleantes com os tremores causados pelo caminhar pesado. Quantos passos humanos eram necessários para cobrir um único daquelas patas absurdas? Diferentes tipos de cálculo podiam ser feitos sem pressa; afinal, todos ofereciam resultados desanimadores, limitando quase todo plano de fuga a simplesmente correr e ser devorado antes mesmo que a criatura terminasse o primeiro movimento.

Murmurando alguma coisa sobre sair pela rodovia o mais rápido possível, Eveline puxou a jaqueta de Derek e o melhor que conseguiu foi jogá-lo de lado e deixá-lo de cara com as motos estacionadas, aludindo, sem querer, ao que tinha falado pouco antes. No espaço de um segundo, o rapaz contemplou as possibilidades nada fáceis oferecidas pela conjuntura da situação.

– Derek... – começou ela, imediatamente interrompida pelo barulho de vários motores dando a partida em sequência.

Faróis dispararam rajadas de luzes intensas e decalques ganharam delineações brilhantes e sobrenaturais, banhadas com a força que emanava do toque do mago.

Soltando o tanque no qual encostava a ponta dos dedos, Derek se sentou no banco, à espera da decisão de Eveline, que olhava receosa para os estampidos e brilhos instáveis do veículo, vendo, por fim, que a segunda alternativa não era nada amistosa.

O hálito cavernoso soprava sobre a garota e ela se sentou na garupa rapidamente, envolvendo os braços pela cintura do motociclista, este com as mãos firmes nos punhos do guidão, acelerando e fazendo um arranque violento sobre o asfalto. Dobrou para a rodovia deserta e sentiu como que um formigamento na nuca, a vida pulsante de dezenas de símbolos e penduricalhos atingindo-o como o calor de um vórtice de centelhas.

Derek Campbell contra a EfígieOnde histórias criam vida. Descubra agora