OURO QUE RELUZ

10 2 0
                                    


O general confederado não dava indícios de ruir, e o cavalo no qual estava montado não tinha por que correr atrás de Derek, o que deixou o rapaz mais à vontade para ficar praticando com a gaita à sombra do monumento no centro da praça. Tocar baixinho, sem chamar muita atenção, não impediu de um ou outro passante parar um instante para ouvir um pouco antes de ir cuidar da própria vida.

O movimento àquela hora da manhã não era muito grande, mas o músico se perguntou quanto dinheiro poderia estar ganhando com aquela pequena apresentação, e a lembrança de seu saxofone e de suas noites no The Hans's Clover o fez sentir um aperto no coração, precisando parar um pouco e voltar a se concentrar. Encostou novamente o instrumento nos lábios e por pouco não abocanhou o objeto inteiro quando recebeu o empurrão pelas costas.

– Não tem nada melhor para fazer? – disse ele ao olhar para Eveline, que apareceu saltitante ao seu lado. – Estou trabalhando aqui.

– Está? – Ela contemplou a solidão em volta do jovem. – O que ganhou?

– Nada. Mas se eu não estivesse com receio de que alguém me reconhecesse, iria fazer um belo show e não teria chapéus o bastante para tantas moedas que me jogariam.

– Moedas? – A garota fez cara feia. – Ultimamente estou preferindo tudo em cédulas.

– Tem ideia melhor para sobrevivermos? Está muito animada, pelo visto.

– Sorrisos e bom humor são ideais para começar bem o dia. – Ela pôs uma mecha de cabelo para trás da orelha, evidenciando a joia dourada no dedo anelar.

– De onde tirou isso?

– Devo ter lido no meu horóscopo uma vez.

– Não. – Derek indicou o anel.

– Isso? Somos noivos, não somos? Que tipo de noivado não tem aliança?

– Não começa. – O rapaz se aproximou, conferindo os arredores para ver se alguém mais estava escutando. – Onde conseguiu?

– Sou uma encantadora de ouro, amiguinho. Esqueceu? Posso atrair as joias de uma pessoa sem que ela perceba. Só preciso chegar perto o bastante.

– Andou por aí roubando?

– É melhor que ficar tocando na rua em troca de umas esmolas. Se você quer fazer isso funcionar, toque mais alto e dance um pouco. As pessoas vão parar para ver seu mico e posso agir.

– Não vou servir de distração para você ficar furtando, Eveline. Ao invés de andar cometendo crimes, devíamos permanecer limpos para deixar a polícia do nosso lado. Já refletiu sobre o conselho dos Blank de procurar as autoridades?

– E falar o quê? Que você é um bruxo e estamos fugindo de uma sociedade secreta que quer usá-lo para fazer a fonte dos desejos?

– No mínimo podemos alegar cárcere privado. Podíamos fazer uma denúncia anônima e dar o endereço da mansão para os policiais verem em que condições seu pai está sendo mantido.

– Eles devem estar preparados para algo assim. Além do mais, fazer isso pode denunciar nossa posição, já que eles certamente têm infiltrados na polícia. Não dá para confiar.

– É mesmo? E em quem você confia? Porque, a menos que coma ouro ou possa transformá-lo em outra coisa, vai ter que vender essas joias. Com quem vai fazer negócios?

– Não se preocupe. Vou dar o meu jeito. Quer começar a tocar isso logo?

Derek balançou a gaita em frente ao rosto de Eveline e pôs o instrumento no bolso da calça.

Derek Campbell contra a EfígieOnde histórias criam vida. Descubra agora