CARA OU COROA

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A garota se ergueu e começou a exploração com uma visão vasta do oceano. As águas lambiam o costado, também famintas, mas, se o barco parecia apetitoso para alguém, não era para a dupla de tripulantes. Nada nele estava na dieta humana, a não ser que um homem ou mulher adquirisse um súbito gosto por madeira ou cordas.

– Nada de bote. Nada de nada. – Eveline se sentou na cama.

– A proposta de nadar até o litoral continua firme. – Derek se encostou à pia. Pelo menos saia água potável da torneira.

– Você criou o barco e disse que ele lhe obedece. Não pode fazer nada?

– Barco, por favor, algo para comer – disse ele, virando-se para abrir e fechar os armários. – Alternativa descartada. Que outras temos?

– Fora essa? Ir lá fora e esperar um pássaro pousar.

– Não quero ficar depenando gaivota. Prefiro pescar. Se tirarmos um pedaço da corda do mastro, já teríamos alguma coisa para jogar ao mar, então só faltará a isca.

– Se não temos nem para nós, vamos ter para os peixes?

Derek franziu o cenho após o questionamento da amiga. Parecia considerar formas de contornar aquela dificuldade, ou, ao contrário, estava com a atenção fisgada por outra coisa. Eveline seguiu o olhar dele e notou um ponto se destacando em meio à paisagem vista pela escotilha sobre a cama. Estreitando o olhar, notou se tratar de outro veleiro.

– Podemos pedir ajuda! – Ela se ajoelhou sobre a colcha e se aproximou da escotilha. – Pode chegar mais perto?

– Posso. – Derek ficou na beira da cama. – Mas o que diríamos? Não venha com isso de casal perdido de novo, por favor.

– Podemos ser irmãos dessa vez. Vamos dizer que nosso barco quebrou e estamos vivendo como náufragos, sem ter o que comer. Seria interessante se chorássemos. Acha que consegue?

– Não sei. Difícil fazer qualquer coisa que não desperte desconfiança. E, além do mais, poderiam querer ajudar de forma errada, levando-nos para terra firme. Ou nos fazer mal de algum jeito. A desconfiança é mútua. – O rapaz se inclinou para frente, atento à outra embarcação cada vez mais próxima. – Se são apenas navegantes inofensivos, eu queria muito ter pelo menos dinheiro para oferecer em troca de uma ajuda – disse ele, e viu o segundo veleiro inclinar, virando na direção deles de forma abrupta, como se fosse atingido por um vento particularmente forte.

Derek sentiu vontade de se afastar, prevendo que também seriam atingidos por uma força desconhecida, mas o que chegou acabou acertando apenas as escotilhas, que surpreendentemente vomitaram moedas e notas, o dinheiro caindo aos borbotões na cama e fazendo os dois se afastarem com o mesmo sobressalto de quem recebia a visita de um cardume de piranhas.

Eveline formou uma pinça com os dedos e pegou o primeiro dólar.

– Bela pescaria – falou, conferindo a textura do dinheiro de modo a se certificar de que não era um engano. – Temos algo com que trabalhar.

– Não sei como isso foi acontecer. – Derek olhou pela janela, apoiando o joelho sobre a colcha, e viu o outro barco se estabilizar aos poucos depois de ser fisgado.

– Pelo visto, você atraiu o dinheiro deles. Agora, por favor, não vá inventar de bancar o culpado e querer devolver.

– Ah, não? O que sugere que eu faça?

– Temos dinheiro, ora. Vamos comprar alguma coisa. – Eveline puxou moedas e cédulas para si com os braços, alegre feito um apostador ganhando fichas em um cassino. – Ou...

Derek Campbell contra a EfígieOnde histórias criam vida. Descubra agora