METAL ENVENENADO

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Derek tinha optado por não mencionar a vida que levava em uma taberna; só mais tarde, ao fim de uma caminhada pela estrada que passava em frente ao hotel, que percebeu por que seu instinto o fez ficar calado sobre sua experiência em bares: o estabelecimento cercado de motos customizadas à exaustão não era do estilo que costumava frequentar, sendo uma escolha acertada deixar Eveline se encarregar das apresentações.

– Que tipo de gente põe veneno no nome de um lugar que vende bebidas? – ele perguntou, observando a fachada com guidões exibidos como troféus de caça.

– O tipo de gente que gosta de viver no perigo? – Adiantada um passo, Eveline pegou na mão do colega e o puxou. – Não acredito que um marmanjo desse tamanho esteja com medo de uns velhos com bandana. – Ela o guiou para o interior do estabelecimento que seria mais facilmente confundido com uma oficina do que com um bar: as paredes eram pintadas com uma crosta de placas de identificação veicular e de trânsito, aros de rodas e fotografias de automóveis. No teto, chassis de motocicleta pendurados por cabos de aço serviam de lustres, suspensos sobre as mesas como se desafiassem a coragem de quem ousasse se sentar. Puxando uma cadeira, Derek fez uma anotação mental de nunca mais reclamar da decoração do The Hans's Clover.

– Espero que as bebidas que sirvam aqui não tenham gosto de óleo de motor. – Ele tateou as marcações e riscos de ponta de faca na superfície áspera da mesa, ampliando os sentidos com os quais se conectava com o "Metal Envenenado".

O bar parecia ter nascido de um acidente explosivo na rodovia, com pedaços de veículos caindo e formando aquele castelo de sucata, uma ideia reforçada pela trilha sonora pesada soando no lado de dentro como o eco de múltiplas colisões.

Os frequentadores não somente aprovavam o visual beirando ao caótico do lugar como também aderiam a ele, não deixando nenhuma parte do corpo incólume a modificações, sejam elas piercings, alargadores, tatuagens, implantes ou perfurações. Em meio a tantas pessoas com um figurino sofrendo de excesso de informação, pouco dava para alimentar a pretensão de se misturar ostentando singelos óculos escuros de aviador com jaqueta e boné.

– Enojado? – questionou Eveline. – Eu me acostumaria aqui. – Sentada de frente para Derek, ela parecia realmente mais à vontade, fazendo o mago querer apresentá-la a uma taverna de verdade, e o pensamento o fez se sentir mais oprimido pelos ares estranhos do ambiente. Ela não o acompanharia, já que estavam se preparando para seguirem por caminhos opostos, com motivações diferentes; as dele, no fundo, não eram mais nobres que o puro medo.

– A vida inteira? Convivendo com esses bêbados e morando em um quartinho nos fundos?

– Quartinho? – A moça estranhou a colocação do colega. – Prefiro pegar a estrada, você sabe. Meu destino é em outro lugar, e se tem uma coisa que esses homens podem oferecer é um meio de transporte.

– Não gosto da ideia de você se sujeitar a esses caras. – Derek corou quando Eveline o encarou assim que terminou de falar. – Quero dizer que eles não são como os Blank. São muitas as sujeiras em que uma gangue de motoqueiros pode se meter. É perigoso ficar com eles mesmo que por uma curta viagem. Eu queria oferecer um modo melhor.

– Como, amigo? Você foi claro com relação às suas limitações e ao uso dos seus, digamos, talentos. – Não havia ressentimento na voz de Eveline, apenas um pragmatismo frio. – Eu tenho meus próprios truques e meios. Vou saber me virar. – Repetindo o gesto que fez mais cedo, ajeitou o cabelo solto para mostrar o anel dourado como uma confirmação do que dizia.

– Tenho outros talentos úteis. – Derek tirou a gaita do bolso e se virou para o balcão. – Espero que os clientes gostem de música ao vivo. – Pensava em se levantar para ir ao balcão ou fazer um gesto para o barman quando ouviu alguém se aproximando sem precisar ser chamado. Ele se virou e observou um sujeito esguio virar a cadeira e apoiar os braços no encosto.

Derek Campbell contra a EfígieOnde histórias criam vida. Descubra agora