CHEGANDO AO DESTINO

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A calmaria da estrada era uma mentira, porque, apesar do silêncio, não era como se nada estivesse acontecendo. Dentro do furgão, pairava a tensão de uma iminência enervante, como se o veículo fosse bater em um muro a qualquer momento.

– Nem sei ao certo qual o plano de vocês, mas já vejo furos – disse Maciel, ao volante.

– Já pedi para ficar quieto. Está a fim de um torcicolo? – ameaçou Derek, sentado no banco da frente entre o motorista e Eveline, que estava mais perto da porta, a concentração inteiramente dedicada ao relógio dourado.

– Você não faria nada comigo. Estou dirigindo.

– Está dirigindo para me deixar mais livre e atento em você. Não fique tão convencido.

– Está confiando em mim, de qualquer maneira.

– Estou confiando no seu medo. Você está com a corda no pescoço, ou corrente, se preferir. Qualquer gracinha e estará perdido.

– Além do acidente que posso sofrer com o carro, você pode me enforcar, ou, se eu conseguir escapar dessas duas possibilidades, ainda o leão irá atrás de mim para devorar essa corrente mágica no meu pescoço. Nada mal as alternativas, não? Só gostaria de lembrar que não sou apenas eu que estou encurralado. Vocês estão a caminho do ninho da serpente, ou da cova do leão, se me permite dizer, onde milhares de coisas podem dar errado.

– Você está bem preocupado conosco. – A ironia brincou na voz do mago.

– Se não percebeu, estou acorrentado a você, e, além disso, é tudo um desperdício. Unindo-se à Efígie ficaria tudo mais fácil.

– Tentando nos comprar? Acho que você não tem muito o que oferecer.

– Não deve ser mais necessário comprar. Chega de gastos, de sacrifícios. Com os poderes de vocês e com os conhecimentos que adquirimos durante séculos podemos mudar o mundo. Poderemos mudar tudo. – O relojoeiro alternava a atenção da estrada para o passageiro durante o apelo. – Pergunte para sua amiga. Ela é mais sensata e sabe do que estou falando.

Eveline continuava imersa nas horas, o mecanismo brilhante em suas mãos garantindo que Atlas permanecesse na praia, agasalhado com as grades de ouro.

– Poupe seu latim, Schoenberg – cortou Derek. – Ele vai ser útil para outra coisa agora.

Os olhares se concentraram nos portões avistados à frente, dando fim ao trajeto marcado pelo traço retilíneo da estrada e pelo verde florestal do entorno. O furgão parou a menos de um metro do grande W das grades negras, e um vigia se aproximou da janela.

– Senhor, Schoenberg? O senhor dirigindo?

– Pois é. – O motorista tirou uma das mãos do volante e ajeitou a gola da camisa, ocultando o adorno metálico no pescoço. – Encontramos o monstro e tivemos que improvisar um pouco.

– Tudo bem? – O guarda esquadrinhou pela janela, mas o relojoeiro se impôs, bloqueando a visão de Derek, que estava praticamente se afundando no banco para não ser visto.

– Tudo ótimo. Soubemos lidar com os imprevistos e, inclusive, estamos trazendo animadoras novidades. Aliás, não podemos perder um segundo sequer para comunicar isso aos outros. Estamos todos ansiosos para evitar que o bruxo chegue aqui com a fera de pedra, não é?

O guarda pareceu bem convencido da urgência na voz de Maciel e acenou para a guarita. Como se atravessasse uma cachoeira de águas geladas, o furgão avançou para dentro dos jardins após a abertura dos portões.

Derek Campbell contra a EfígieOnde histórias criam vida. Descubra agora