BONANÇA E FORTUNA

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Ele a acompanhou para o meio do espaço livre do cômodo. De mãos dadas, um de frente para o outro, pareciam prestes a dançar, ideia que causou certo rubor no rosto do mago. Para o alívio dele, a garota não estava preocupada em inspecionar o que o colega estava sentindo. Ela sentou-se no chão, em posição de lótus, e o puxou.

– Você pode atrair o que precisa para o barco, o que é um ótimo começo, mas podemos melhorar isso. É capaz de atrair a moeda daqui?

– Eu nunca a vi, nem a toquei. E se eu acabar puxando junto um navio naufragado? Até o leão pode vir junto, isso sem falar que estamos longe demais deles.

– Vou me concentrar no local em que mergulhei com a Efígie e sugiro que fique quieto e me acompanhe. – Os dois se deram as mãos. – Nossos poderes combinados podem funcionar.

Derek suspirou e fechou os olhos.

– Não me responsabilizo por quaisquer problemas. A ideia foi sua.

– Cala a boca. – Eveline também fechou os olhos, apertando os dedos do amigo entre os seus e mantendo o foco nas lembranças. O balançar do barco começou a ficar discreto, distante, como se a moça não estivesse em contato com nenhuma superfície sólida, apenas flutuando por névoas densas até a película transparente da máscara deixar entrever a carcaça deitada no leito do mar.

Ela estava de volta à roupa de mergulho, nadando suavemente para o Bonança, um cruzeiro antes resplandecente feito uma pérola, mas agora reduzido a um cadáver metálico descansando no fundo do mar, não muito longe da costa, e confundindo-se com os recifes graças à crosta de corais que dominava a superfície.

Os elegantes passageiros e tripulantes, com seus trajes finos e incontáveis drinques, haviam dado lugar à fauna marítima do oceano Atlântico, dezenas de espécies circulando pelo abrigo feito pelo homem. Os buracos no casco por onde saíam e entravam os peixes também não eram frutos da natureza, mas vestígios do atentado que havia vitimado a embarcação.

Em uma noite, Bonança estava terminando uma viagem da Europa para os Estados Unidos, trazendo antiguidades e representantes da Efígie, quando sofreu um ataque à bomba arquitetado por uma facção criminosa de Nova York, nada incomum em uma época em que a sociedade secreta estava deixando de ser um mero grupo de velhos estudiosos da Roma Antiga e entrava no submundo do crime com todas as suas disputas e retaliações.

Vidas e parte da carga tinham se perdido, mas nenhuma perda foi tão lamentada quanto à de uma moeda dourada de milhares de anos de idade. Nunca mais foi vista, não importava as incursões mar adentro ou os esforços de Eveline, trabalhando como um imã humano para atrair a relíquia.

A pressão começou a fazer seus ossos e músculos doerem, o cansaço dificultando ainda mais a respiração dentro da máscara de mergulho, como se tudo não fosse somente uma lembrança. Ela foi dominada pela escuridão e abriu os olhos, vendo-se novamente de mãos dadas com Derek, ambos sentados no piso do barco e sendo banhados pela luz diurna que entrava pela escotilha do teto.

– Derek! – Ela soltou o amigo e o sacolejou pelos ombros. – Pode me ouvir?

O rapaz pareceu acordar, piscando e franzindo o cenho.

– O que aconteceu?

– O navio. Era como se eu estivesse lá. Você viu?

– Não. Estava concentrado, tentando sentir o que você sentia. Não foi o que me pediu? – Ele olhou em volta. – Há quanto tempo estamos aqui?– Levantou-se e se dirigiu à portinha que levava à cabine de comando. – Aliás, onde é aqui?

Derek Campbell contra a EfígieOnde histórias criam vida. Descubra agora