MEDO DO ESCURO

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Por mais que o céu os acolhesse, a terra reclamava a posse dos dois viajantes desajustados, as elevações montanhosas a postos, como se desde o início se erguessem somente com a intenção de aparar a sombra diminuta que cruzava as nuvens de maneira errante.

Não importava se subiam ou se desciam, a sensação era sempre de mergulhar em um vazio avassalador – que começou a ser preenchido por galhos batendo e arranhando no lado exterior do tapete persa.

A velocidade diminuía conforme caíam através das folhagens em uma trajetória tortuosa encerrada quando Derek conseguiu se agarrar a algo mais fixo, tendo Eveline em suas costas, os braços dela apertando suas costelas. O tapete, por sua vez, abriu como uma asa e os abandonou ao sumir na vegetação como uma mancha de sangue escoando por entre as rochas de um riacho.

– Não estamos mais voando... Pode me soltar. – O mago alternava entre tomar fôlego e falar. – Por favor, vamos cair se não me soltar.

Finalmente Eveline pareceu acordar. Relaxou o aperto e esticou o braço esquerdo para alcançar o galho ao lado. Quando se sentiu mais segura, terminou o abraço e ficou suspensa apenas na árvore, equilibrando-se como um chapéu em um cabide.

– Agora é só descer. – O rapaz se moveu rumo ao tronco e foi cedendo aos poucos, procurando apoio. Eveline seguiu o exemplo, deixando a gravidade ajudá-la a chegar ao chão. No fim da descida, ambos deitaram, voltando a se acostumar com a solidez e estabilidade do solo.

– Onde está o tapete? – Derek perguntou de cara para cima.

– Não me fale disso. Foi a pior coisa que passei na vida. – Erguendo-se, Eveline ficou grata por conseguir ficar em pé. – Consegue se levantar?

O mago pouco se moveu, estirado no chão.

– Posso tentar.

– Bom, é melhor ir andando. Não sabemos o quão longe estamos da casa de Jeremias e daquela coisa. – A jovem olhou para as árvores altas de topos pontiagudos ao redor. – Certamente não saímos da Virgínia.

– Virgínia? – Derek olhou para ela. – América, você quer dizer?

– A própria!

– Uau! Eles me trouxeram para bem longe.

– Onde você mora?

– Manchester.

– Na Inglaterra? – Eveline lembrou o que Maciel dissera na caverna sobre a morte dos pais do bruxo.

– Sim. Não sabia? Eles devem ter uma ficha completa sobre mim.

– Eles não me contavam tudo. Eu era uma refém, assim como você. – Ela estendeu a mão. – Confia em mim?

Derek deixou que ela o ajudasse a se levantar.

– Usaram seu pai para forçá-la a trabalhar para eles, não foi?

– Sim. Só me deixavam vê-lo por vídeo e muito raramente. Quando trouxeram você, levaram meu pai para a mansão prometendo que ficaríamos juntos quando a cerimônia acabasse, mas eles o deixaram em uma sala sob a vigilância de capangas, só para garantir que eu fosse uma boa menina enquanto não terminavam o que tinham para fazer na fonte. Espero que toda essa confusão não tenha sido suficiente para... – Eveline fitou o vazio.

– Infelizmente não dá para simplesmente voltar e ver se ele está bem. – Derek procurou em volta raios de luz escapando das folhagens e denunciando onde o sol estava se pondo. – Creio que por essa direção estaremos nos afastando. Você vem?

Derek Campbell contra a EfígieOnde histórias criam vida. Descubra agora