07 | Noite beneficente - Parte II

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Vivienne Barbieri

Após uma hora, tínhamos jogado exatamente quatro mãos. Ainda assim, as fichas, que usávamos simbolicamente, estavam praticamente igualadas para ambos lados.

Começamos com um small blind pequeno, e determinamos que os blinds aumentariam gradativamente de dez em dez minutos.

Eu tinha vencido uma das mãos com um flush e Haziel blefando em outra. Nós dois tínhamos saído em cada uma das outras duas partidas restantes.

— Parece frustrada — Haziel verbalizou algo não relacionado ao jogo pela primeira vez em um tempo enquanto eu distribuía as cartas para o pré flop. — Pensou que já estaria com uma grande vantagem a essa altura do jogo?

Não o respondi, e ele então murmurou após alguns segundos:

— Vamos lá, duquesa. Eu sei que você quer me retrucar. Solte apenas um palavrãozinho, você vai gostar.

Seu olhar queimou sobre minha pele, mas continuei o ignorando até poder ver minhas duas cartas. Haziel também levantou as suas.

— Pago — ele anunciou em pouco tempo, sem demonstrar reação alguma.

Oscilei o olhar entre minhas cartas e ele apenas uma vez antes de também dizer:

— Pago.

Inclinei-me para distribuir as três cartas comunitárias na mesa, e, de algum modo, tive a certeza de que sua atenção se desviou até meu decote.

— Acho que não lhe disse o quão devastadora você está nessa noite. Tanto de um modo estimulante quanto de um modo realmente dizimador.

— Vai se foder — rebati instintivamente, e um canto de seus lábios se retorceu para cima enquanto ele ainda analisava suas cartas. 

— Essa é a minha garota — disse com a voz rouca e estranhamente séria antes de anunciar que continuava com as apostas. Eu também o fiz, então fomos para o turn. — Como está sua amada tia? Não a vi nessa noite — ele murmurou enquanto eu virava uma quarta carta no meio da mesa, e eu revirei os olhos.

— Você gosta tanto da minha voz assim? Parece tão desesperado para ouvir ela que nem consegue calar sua própria boca.

— Você sabe mesmo ler minha mente, não é?

Bufei.

— Quer me escutar falar? Então que seja em uma conversa que valha a pena. Por que não falamos sobre a caixinha de surpresas que você é?

— Te deixei magoada por não contar que também posso fazer um bom uso do meu dinheiro sujo? Peço minhas sinceras desculpas. Eu só tenho um fraco em surpreender todos que me subestimam.

— Deve dar trabalho. São muitas pessoas.

Ele soltou um riso nasalado.

— De fato. Você a principal, provavelmente.

— Então estava mesmo preocupado com minhas opiniões sobre você? — retruquei em um sarcasmo frio, observando minhas cartas para decidir minha próxima jogada.

— Mais do que com as de qualquer outra pessoa, duquesa — ele respondeu, e eu tive que me segurar para não revirar os olhos.

— Bem, quer me surpreender um pouco mais? — eu perguntei, me virando para ele. — Por que não me conta como chegou até aqui? Na verdade, por que não me fala como conseguiu igualar seu poder ao de Grego? Quando o deixei, ninguém ousava o desafiar como você o fez. Acho que isso me ajudaria a construir uma fração de admiração por quem parece ser meu chefe agora.

Criaturas BrutaisWhere stories live. Discover now