08 | Humanidade

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Vivienne Barbieri

O espaço de lutas daquela noite era pertencente aos Kelpies. O lugar não era nem de longe tão bem estruturado quanto o dos Hatis, mas era suficientemente disfarçado. Tratava-se de um enorme balcão que passava a impressão de ser abandonado

Não tive tanta burocracia para entrar quanto na primeira noite. Não precisei de uma frase estúpida como chave ou qualquer outro truque, as portas simplesmente foram se abrindo para mim conforme eu andava. Dessa vez, não fui levada ao ambiente em que os telespectadores se encontravam, e sim encaminhada para onde as pessoas importantes de fato ficavam.

A área não era em algum andar de cima, e sim à lateral direita da área comum. Havia cômodos grandes delimitados por portas de vidro, e eles também eram menos espaçosos que os dos Hatis.

Fui auxiliada a esperar em uma sala que não dava vista direta à arena, mas havia uma enorme televisão na parede onde aparecia uma gravação direta do círculo, que estava vazio agora. As lutas ainda não haviam começado.

Parecia haver apenas alguns poucos apostadores ali, pessoas importantes, mas que não pareciam estar no topo ali. Alguns me cumprimentaram, dizendo para manter as esperanças. Era nítido que ninguém havia apostado ao meu favor, não tinham acreditado em meu potencial contra um adversário masculino. Eu sequer sorri para a maioria, irritada com a descrença, embora eu mesma estivesse temerosa. O fato era que eu não queria trazer vitória alguma para os Hatis, para Haziel, mas minha derrota poderia significar danos irreversíveis naquele círculo sem leis. Por isso, tinha treinado sozinha, pois não tinha dinheiro para pagar um treinador particular e ninguém em meu mundo que entendesse de combates físicos.

Ainda assim, não me sentia nem um pouco preparada, e com razão. Algumas flexões não eram o bastante para recuperar toda minha estrutura muscular em poucos dias, e socos no ar não trabalhavam meus reflexos bem o suficiente. Tudo que eu continuava a ter era a consciência de meus pontos fortes: a rapidez e a capacidade de uma boa análise dos pontos fracos que qualquer pessoa, até a mais forte, poderia ter.

Era estranho o fato de um adversário masculino ter sido escolhido para mim naquela noite, na verdade. Eu tinha analisado os fatos, e os líderes dos grupos do Niflheim provavelmente tinham influência nas escolhas. Como Haziel permitira que aquilo acontecesse, ele devia ter alguma ideia de que eu perderia. Eu podia ser mais esperta do que muitos dali, mas isso só me levava até certo lugar. Nem sempre isso era páreo para a força bruta. O que ele esperava ganhar com aquilo?

Após quase meia hora, o cômodo, que tinha champanhe grátis que eu me controlava muito para não beber, se encheu um pouco mais, e o único conhecido que acabou se deparando comigo foi Gringo. Natália e Haziel aparentemente não tinham se incomodado em vir me ver, aqueles imbecis.

— Aí está nossa pequena novata. Então você não arregou, hein? — o ruivo disse ao se sentar no sofá ao meu lado com aquele sotaque ridículo e colocar champanha em uma taça para ele da mesa de centro à nossa frente.

— Eu tenho cara de covarde, por acaso?

— Quer que eu te responda?

— Não precisa. Eu provavelmente não vou entender nada do que você disser com esse sotaque horroroso — provoquei, e ele sorriu.

— Haziel nunca errou ao dizer que você é uma coisinha de língua afiada.

— E falando no diabo, cadê ele? Pelo que eu já vi, ele que controla sua coleira. Não deve estar tão longe.

— Bem, não errou ao comentar sobre sua língua afiada, mas definitivamente estava enganado ao presumir que você é esperta. Haziel é meu amigo, não meu líder, Vivienne.

Criaturas BrutaisWhere stories live. Discover now