19 | O luxo do juízo - Parte II

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Vivienne Barbieri

Foi uma questão de segundos após o incêndio ter início que o verdadeiro caos começou.

Eu envolvi o garoto ao meu lado em uma chave de braço na frente de meu corpo, um golpe rápido que Gringo tinha me passado na última semana, e disparei para o salão principal, que ficava além da porta do corredor.

No momento em que a abri, eu já tinha me deparado com três homens correndo em minha direção, desorientados pelas chamas repentinas. Eles pararam perto da porta de entrada no instante em que colocaram os olhos arregalados sobre mim e o garoto cujo pescoço eu apontava uma arma.

Dois deles tinham armas de punho em mãos, mas hesitaram diante do escudo humano.

— Ei, ele já está a caminho — o homem do portão que estava entre eles gritou, como se quisesse que ninguém agisse sem o aval de Haziel.

— Ótimo — eu soprei, embora o homem não tivesse verbalizado nada daquilo para mim. — Enquanto isso, que tal esperarmos do lado de fora? Acho que Haziel tem maneiras mais interessantes de me matar do que asfixiada. — Fumaça preta escapava das frestas da porta do corredor atrás de mim.

Nenhum dos homens se moveu, e só então eu destravei a arma apontada para o garoto em silêncio entre meu braço. O clique os fez elevar mais suas próprias armas para mim. Não tive medo, apenas gritei:

Agora, porra.

— Merda — um deles chiou, provavelmente percebendo que eu estava fora de controle. Ele foi o primeiro a dar passos extremamente vagarosos e cuidadosos para trás, sem nunca tirar o olhar de mim.

Os outros dois acabaram fazendo o mesmo, e eu avancei para frente com o garoto que parecia ter as malditas pernas moles. Saímos quase cinco minutos mais tarde, e meus pulmões se aliviaram com o ar fresco. Só quando a brisa fria bateu em minha pele que eu percebi que eu suava.

Não sabia se era por conta da adrenalina ou do calor incandescente das chamas que eu tinha provocado. Talvez fosse igualmente pelos dois.

Lá fora, mais quatro homens se juntaram aos três que tinham a atenção fixa em mim. Estavam todos armados. Eu ainda não estava com medo. Virei-me para eles, sem nunca abaixar a guarda.

— Solta o rapaz — o homem do portão me ordenou. Era o que estava mais perto de mim. — Você não vai conseguir sair daqui impune, vadia. Vamos acelerar as coisas antes que tudo piore para seu lado.

— Acho que não — murmurei, lançando o olhar para cada canto, alerta.

— O que você pensa que está fazendo, caralho? Você assinou sua sentença de morte aqui, e está sozinha. Vamos terminar com essa merda logo, solte ele para que possamos acabar com você antes que Haziel chegue. Teremos mais misericórdia do que ele, isso eu posso te garantir.

O riso que escapou de minha garganta não conteve humor algum. Pareceu obscuro demais até para mim mesma. Foi só então que uma pequena parte plenamente racionalmente restante em mim concluiu que eu estava fora de mim.

Encarei cada um dos rostos que estavam diante de mim. Todas as mandíbulas estavam cerradas com força, e, de seus olhos, frustração transbordava. Só então desviei a atenção para suas armas.  Nenhuma estava destravada.

Filhos da puta.

— Que fofinho. Me lançando ameaças vazias? Vocês não vão acabar comigo nem se eu entregar o coleguinha de vocês de bandeja. Vocês não têm ordem para me matar, não é?

Ninguém me respondeu. Eu estava certa.

O sorriso que esbocei mostrou os dentes, mas não durou mais do que dois segundos, porque eu vi quando todos desviaram o olhar para algo além de mim. Isso foi apenas um instante antes de eu enfim ouvir uma arma ser destravada.

Criaturas BrutaisWhere stories live. Discover now