Haziel Milani
Eu dou o pior para todos que esperam exatamente isso de mim.
Eu não sabia por que, mas aquelas malditas palavras não paravam de ressoar por cada canto de minha mente. Honestamente, eu estive prestes a aumentar minha lista de crimes cometidos por várias vezes na última hora diante de Vivienne, mas, toda vez que sua voz invadia minha cabeça sem minha permissão consciente, eu me controlava.
Vivienne não tinha dito uma palavra sequer no caminho para minha casa, o que tinha sido prudente da parte dela, para variar. Também se manteve quieta quando entramos no meu bar, que ainda estava destruído em certas partes. Eu colocara os vidros nas janelas e portas por segurança, mas os furos em bancadas e paredes permaneciam. Contudo, apesar de seu silêncio ali, eu percebi que ela se agitou um pouco enquanto disparava o olhar por cada canto.
Ela me seguiu até o andar debaixo, e não dissemos nada quando chegamos em minha sala. Eu inspirei fundo, fechando a porta atrás de mim, e tirei minha jaqueta. A garota ficou ali, parada no meio da sala por alguns segundos, analisando o lugar que em nada tinha mudado desde que ela o deixara.
Parecia em estado de alerta a todo momento, como se esperasse que eu fosse pular nela de repente. Bom. Eu ainda não tinha descartado a possibilidade por completo. Eu ficara surpreso que ela confiara em mim o bastante para trazê-la até aqui, na verdade. Bem, no fim... eu ficara surpreso com muitas das coisas que ela fizera nas últimas duas horas.
Vivienne enfim deu alguns passos, mas ela não se sentou. Eu também não.
Apenas me escorei na porta de entrada para encará-la. Eu não tinha ideia do que se passava em sua mente além de... vulnerabilidade. Era estranho vê-la naquele estado.
— Eu odeio admitir, mas o que você fez lá, e sozinha... foi impressionante. Seu plano só tinha uma falha, Vivienne. A fuga. Você não chegou a pensar nela, não é?
Ela não me respondeu.
— Você nunca pensou que teria uma chance de sair de lá, certo?
Mais silêncio.
— Mas acontece que você saiu. E agora? O que acontece com você?
E, quando novamente não obtive uma resposta, expirei o ar pesado pela boca, agora tão frustrado quanto cruamente furioso, embora eu desse tudo de mim para conter ambas sensações antes que fosse tarde demais.
— Sinceramente, Vivienne... O que você fez me deixou puto. Muito. Tinha algumas mercadorias importantes naquela casa e, principalmente, documentos. E você destruiu tudo. Mais do que isso, afundou a maldita pá em minha cova por uma última vez. Nesse momento, meus inimigos já estão sabendo do incêndio, e provavelmente estão tramando algo que me enfraqueça por completo de uma vez por todas. Eles não vão perder a oportunidade. E eu deveria estar me precavendo, cuidando de toda essa merda, mas...
— Mas você está aqui perdendo seu tempo comigo — ela completou, erguendo aquele maldito queixo em uma postura impecável. Era uma casca falsa, sua armadura para momentos vulneráveis, eu sabia. Me irritava da mesma maneira. — Por quê? Por que não me fez de um exemplo me castigando por atingir algo que é seu? E por que ainda me deu uma chance de... resolver as coisas?
Eu tive o ímpeto de voltar atrás, de lhe aplicar a pior das punições que teria aplicado a qualquer outra pessoa que fizesse o que a maldita fez comigo, mas, estranhamente, no fim... tudo que eu fiz foi fechar os olhos bruscamente e inspirar fundo.
Essa merda definitivamente não era do meu feitio. Foi genuinamente difícil continuar mantendo a calma ali.
— Porque, apesar de você ter me deixado verdadeiramente furioso com toda essa merda, você também me impressionou, Vivienne — eu respondi friamente após algum tempo, contrariando meus próprios instintos. — Você é uma coisinha esperta e sabe usar isso da forma mais cruel possível. Lá, diante daquele incêndio, eu vi em você uma adversária inconveniente. Mas eu também consegui enxergar além disso.
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Criaturas Brutais
RomanceVivienne Barbieri está enfrentando o Inferno. Jordan Barbieri, importante político de Belo Horizonte que a adotara aos dezesseis anos, falecera em uma operação que buscava encerrar atividades ilegais de rixas de comunidades. Com dívidas para cuidar...