27 | Resenha

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Vivienne Barbieri

— Mais forte.

— Eu vou te machucar.

— Ah, está preocupada comigo? Ora, se não é a coisa mais fofa que...

O gancho de esquerda foi forte o bastante para lhe tirar as palavras.

— Eu só estou preocupada com a sua reputação, imbecil. Eu ainda sou uma Hati, não quero que pensem por aí que me filiei com o líder mais fraco que fica exibindo hematomas por aí.

Ele cuspiu um pouco de sangue. Eu tinha o interior de sua boca.

Haziel manteve o rosto virado por mais uns cinco segundos e voltou a me encarar. Um canto de seus lábios estava erguido para cima.

Psicopata de merda.

— Agora sim. Quase tão forte quanto o de direita. Pode melhorar na agilidade.

— Vai querer que eu tente de novo?

— Eu já te forcei a ir contra sua vontade o suficiente. Você está visivelmente desconfortável — ele provocou e eu bufei.

— Vá por mim, esse o mais perto do paraíso que vou conseguir chegar. Nada me dá mais prazer do que te dar o que merece. Eu poderia te esmurrar a noite toda.

Ele soltou um riso nasalado.

— Tenho certeza que sim — disse, dissimulado. Por pouco não lhe dei o maldito murro. — Infelizmente não temos a noite toda. Eu tenho que ir agora.

Arqueei as sobrancelhas.

— Só tivemos uma hora de treino. — Num geral, nós andávamos treinando por três horas, fora os circuitos que eu fazia sem ele.

— Estamos treinando sem parar há uma semana, duquesa. Você merece um pouco de descanso.

Arqueei as sobrancelhas.

— Obrigada pela sua misericórdia, senhor — resmunguei sarcasticamente.

— Sem dúvidas minha pena por você tem influência nisso. Mas eu também tenho compromissos na minha comunidade.

— Que compromisso? Fazer negociações clandestinas sob o breu da noite? São nove horas.

— O que eu faço ou não, não é da sua conta, Vivienne — disse simplesmente, indo em direção a uma garrafa de água deixada no banco de pedra da quadra do condomínio. Fiquei ali, encarando-o, e pude perceber que ele me encarou de soslaio. Ele abriu a garrafa mas não bebeu o líquido ali de imediato, pois acrescentou, um pouco impaciente: — Eu banco uma festa por mês lá, entendeu? Aquela gente precisa de pelo menos uma noite com bebida gratuita e música alta para esfriar a cabeça. Ela já começou, e eu estou atrasado.

Fiquei estranhamente satisfeita com a explicação. As palavras dele também chamaram a atenção de Theodora, cuja presença até então tinha sido esquecida por mim. Ela andara vendo alguns dos nossos treinos, embora não soubesse a verdade por  trás deles. Eu tinha dito que eram apenas aulas de autodefesa, e Haziel acorbertara a mentira, mesmo que a contragosto. Aparentemente, não gostava de mentir para a garota.

Falso moralista.

— Festa? Na comunidade?

Àquela altura, contudo, Theodora já tinha entendido algumas coisas. Sabia que Haziel fazia parte de uma comunidade e que tinha dinheiro. Provavelmente entendera que fazia algumas coisas erradas, assim como eu, mas de algumas outras maneiras. Ela nunca dissera nada disso em voz alta, entretanto.

— Isso. Acho que você iria gostar.

Fuzilei Haziel com o olhar. Ele não me deu atenção.

— Estou de carro hoje. Você pode ir comigo, se quiser.

Criaturas BrutaisWhere stories live. Discover now