Segredos revelados

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Passei o final de semana trancado em casa, sem forças para sair da cama. Na segunda-feira, não consegui ir para a aula. Como poderia encontrar todos eles depois do papelão que fiz? 

O que deu em mim? 

Por que tinha me descontrolado daquele jeito?

Na terça-feira, me levantei para encarar as aulas, faltava pouco para as provas finais e para a formatura. Eu não podia desistir. 

Mas não consegui. Faltei de novo. Fiquei o dia inteiro na cama, sem fome e sem ânimo.

No fim do dia, alguém bateu à porta. Só podia ser ela. Eu berrei, sem abrir:

- Vai embora, Granger! Não quero te ver nunca mais!

Mas, para a minha surpresa, não era ela. Era... Era Ron Weasley!

Eu abri a porta apenas para insultá-lo. 

- Você veio até aqui para jogar alguma verdade na minha cara, veio? Veio dizer que eu sou um vilão podre e que vocês todos são mocinhos herois? Eu já sei, seu filho da puta!!! Não vou sujar a perfeição de vocês com a minha presença suja!!!!!!! - berrei. 

Ele apenas sorriu.

- Eu vim aqui conversar. Você consegue conversar sem gritar, Malfoy? 

Fiquei tão surpreso que não o impedi quando ele entrou na minha casa e se jogou no sofá. O trio de ouro era mesmo folgado! 

- Não te convidei para sentar. Saia da minha sala, doninha!

- Malfoy, eu não saio daqui enquanto não falar o que tenho pra falar. Depois, você me expulsa a pontapés. Mas me escuta. Por favor.

Eu desisti. Se o idiota queria tanto falar comigo, eu iria ouvir.

- Eu não agi bem com a Mione, Malfoy. Não fui sincero com ela. Mas também nunca fui sincero comigo mesmo... Ao contrário do que você imagina, nós, os mocinhos, não somos tão perfeitos assim... - ele deu uma pausa antes de continuar.

- Eu achava que a amava. Que poderíamos ser felizes juntos. A nossa amizade era tão maravilhosa! Harry, ela e eu sempre unidos. E, durante a guerra, o Harry sempre falava de como ficaríamos todos juntos se sobrevivêssemos. Era uma forma que ele tinha de lidar com tudo, com aquele peso absurdo sobre os ombros dele de ter que vencer Voldemort mesmo sendo apenas um menino. Então, a gente sonhava junto com ele. Mas eu já sabia que não seria simples assim. Nós dois ficamos sozinhos muitas vezes e eu nunca senti vontade de... de transar com ela. 

Eu não acreditei. O que tinha de errado com aquele bosta?

- Aí vencemos a guerra. As férias de verão chegaram e Harry pôde matar a saudade da Gina. Mione tentou de tudo para ficarmos juntos também, mas eu só soube que realmente não a queria quando ela ficou nua na minha frente e eu não senti absolutamente nada.

- Qual é o seu problema, seu idiota??? Ela é linda! 

Ele riu.

- Eu sei que ela é linda, Malfoy. Mas eu... eu sou... Eu sou gay.

Fiquei chocado. Nunca pensei nessa possibilidade, por mais óbvia que parecesse agora. 

O rosto de Weasley estava da cor dos cabelos dele.

- Não foi fácil, Malfoy. Eu não tinha ninguém com quem conversar sobre isso. Não sabia como meus amigos iriam reagir. E a minha família, por mais que não tenha preconceito contra os nascidos trouxas, têm muitos outros preconceitos. Eu acho que papai sempre desconfiou. Eu era diferente de todos os outros filhos. Mas nem ele nem minha mãe nunca perguntaram nada. Esse era um assunto tabu na minha vida. 

Ele estava com lágrimas nos olhos.

- Eu tentei. Tentei ser o que esperavam de mim. Eu já amava Mione como amiga, por que não poderia amá-la como mulher? Eu tentei. Mas eu não consegui. Nunca senti desejo por ela e nem por nenhuma garota. Foi por isso que eu fugi para os Estados Unidos. Eu queria colocar a minha cabeça no lugar. Mas lá, livre das amarras familiares, sendo um completo anônimo, acabei conhecendo um bruxo muito especial. O nome dele é Peter. Eu me apaixonei por ele, Malfoy. Mas me sentia tão culpado, tão errado... A primeira coisa que eu fiz foi mandar uma coruja para a Mione terminando de vez o nosso namoro. Mas ela reagiu muito mal, me mandou um berrador implorando para eu voltar e ficar com ela. Foi aí que eu percebi que tinha alguma coisa de errado com ela.

Eu não disse nada. Não queria interrompê-lo.

- Então eu voltei para cá sem ninguém saber. Marquei com ela em Londres. Ela me pediu desculpas, disse que tinha agido como uma carente sem noção. E aí ela me contou que você estava dando aulas de sexo para ela. Fiquei muito surpreso, achei bizarro demais que ela tenha achado que o problema do nosso relacionamento era a inexperiência sexual dela. Ou a minha. Essas coisas se resolvem quando há amor. Como Peter e eu...

Ele desviou os olhos dos meus, muito sem graça.

 - Então conversamos por horas e eu contei tudo, falei de Peter e de como eu não queria magoá-la, de como eu não queria decepcionar os meus amigos e a minha família. Mas que eu não queria passar a vida inteira fingindo ser quem não era. 

Weasley começou a chorar.

- Malfoy, não presuma que somos perfeitos. Temos segredos. Nós todos fomos quebrados naquela guerra maldita. Todos carregamos marcas e feridas. Mione não é diferente. Ela se faz de forte, mas ela não é. Foi muito difícil com os pais dela. Quando a memória deles voltou, eles ficaram muito magoados pelo que ela fez. Não entenderam que ela os estava protegendo. Ela até hoje não voltou a ter uma boa relação com eles. Eu acho que todo esse amor exagerado que ela dizia sentir por mim era apenas uma tentativa de manter uma sensação de segurança, de preservar alguma coisa de antes, da infância, de um tempo em que tudo era mais fácil. Até o sonho de nos casarmos todos juntos na Toca era uma tentativa de manter a inocência perdida, sabe? Como você mesmo disse, um conto de fadas para crianças. Mas quando a gente cresce, os contos de fada deixam de ter graça. E a gente aprende que final feliz não existe.  

Não consegui dizer nada. Estava envergonhado pelo jeito insensível que o tratei a vida toda. 

- Voltei para os Estados Unidos. Mione me escrevia semanalmente. Mandei uma foto de Peter para ela e ela me mandava ideias de como eu poderia sair do armário da forma menos traumática possível para meus pais e amigos. Ela também me falava muito de você. Nunca entrou em detalhes sobre o que eram as tais misteriosas aulas de sexo, apesar da minha curiosidade, mas me contou o quanto você era atencioso com ela, sempre levando café da manhã na cama, sempre fazendo os deveres juntos, sempre recomendando livros para ela e tentando, do seu jeito torto, agradá-la. Eu percebi que ela estava apaixonada por você e perguntei por que vocês não namoravam logo de uma vez. E aí ela me disse que você não queria, que só queria sexo. 

Eu fiquei olhando para ele. Agora eram os meus olhos que estavam cheios de lágrima.

- E sabe o que eu escrevi nas cartas, Malfoy? Que ninguém aguenta dormir quase todas as noites com a mesma pessoa e passar tantos finais de semana juntos durante tantos meses se for só sexo. Eu estava errado? 

- Não. - eu finalmente disse. 

- Então larga de ser criança! Cresce! Seja honesto com ela! 

Eu sorri. Ron Weasley não era o idiota que eu pensava que ele era.  



Aulas de sexo com Draco MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora