Unholy

Capítulo 01 - Gosto amargo do fim

Novembro 2017

Estou correndo contra o tempo no aeroporto. Daqui quatro dias será meu aniversário e vou comemorar com o Daniel, combinamos um jantar só nós e no final de semana reuniremos nossos amigos em casa para uma noite de queijos e vinhos.

Gostamos de receber os amigos em casa, hoje podemos nos permitir certos luxos que até um tempo atrás não tínhamos. Nossa empresa anda bem graças a minha carreira de estilista e à criatividade do Daniel com o marketing. Sempre quis trabalhar com moda, mas batalhei muito para ter um nome respeitado no meio já que não tive um "padrinho" no início da minha carreira que pudesse me ajudar com contatos, dinheiro, me incluir em eventos então foi tudo conquistado com muito esforço.

Quero levar minha marca para outros países agora que fiz um nome no meu e já tenho projeto para expandir. Algum tempo uma antiga colega de curso entrou em contato comigo perguntando se eu gostaria de participar de um projeto com ela voltado à moda íntima feminina na Ásia. Na época da faculdade a Hani e eu tínhamos muita sintonia e gostos parecidos, apesar dela ter sido criada em uma cultura totalmente diferente, aproveitou sua passagem pelo Brasil em um intercâmbio para estudar moda, pois já queria entrar em uma universidade em seu país com algum conhecimento do negócio. Trocamos alguns e-mails e telefones e prometi que daria um retorno, apesar de ser um nicho que nunca atuei, achei a ideia legal e poderia a partir disso mostrar meu estilo e potencial em outros lugares.

Estou voltando três dias antes do previsto. Estava no Norte do país, mais especificamente em Parintins no Amazonas buscando referências para minha nova coleção. Passei antes pelo Rio de Janeiro para uma consultoria já agendada e como consegui finalizar tudo antes do previsto resolvi voltar antes. Só precisava arrumar um taxi e torcer para chegar em casa antes do Daniel para a surpresa. Comprei uma lingerie nova, um vinho que ele gosta e vou poder relaxar um pouco após a semana puxada. Depois de brigar com um passageiro com quem ficaria com o taxi, consegui pegar e pedir pressa ao motorista para chegar em casa. O destino estava a meu favor, pois não tinha trânsito e assim que cheguei em frente ao condomínio olhei para aquele conjunto de casas lindas na minha frente. Um imenso jardim na entrada cercado por algumas árvores de pequeno porte deixava a vista mais aconchegante. Pedi ao motorista que me ajudasse com a mala até a portaria somente e avisei que depois buscaria a mala, pois estava chegando de surpresa. Olhei no relógio e já eram quase seis da tarde e o sol já estava deitando no horizonte, o Daniel costuma chegar por volta das oito então daria tempo de me arrumar e preparar alguma coisa. Estranhei quando cheguei na porta de casa e vi as luzes do andar de cima acesas, provavelmente por esquecimento dele. Entrei e deixei minha bolsa, o vinho e a sacola com a lingerie na sala e fui até o andar de cima, mas parei no meio do caminho quando escuto o chuveiro ligado, penso comigo se não seria interessante entrar no box e surpreendê-lo, mas quando coloquei a mão no botão da minha camisa algo me fez parar de fazer o que pretendia. Ouço um gemido seguido de uma risada, mas não era ele rindo e sim uma mulher. Cheguei perto e vi que a porta estava somente encostada, abri devagar e olhei para o box que estava coberto pela fumaça que também cobria todo o banheiro. Sinto o cheiro do meu óleo de banho no ar, um óleo que ganhei de uma cliente e ainda não tinha usado, somente abrir a embalagem para sentir seu aroma doce de figo. A imagem que vi dentro do box fez meu coração parar por segundos e um gosto amargo veio na minha boca quando vejo dois corpos se esfregando no banho. – "Posso participar da festinha"? – questiono em voz alta.

O box é aberto e no momento que meus olhos encontram os deles lágrimas começam a rolar do meu rosto. Faço um esforço para não chorar, mas não consigo. A decepção, raiva e nojo tomam conta de mim. Vejo que conheço a pessoa que está com ele no banho. É uma das funcionárias da empresa, sempre muito prestativa comigo, agora entendo o motivo, estava dormindo com meu marido, na minha cama, usando meus produtos e mais o que ela deveria fazer quando eu não estava por aqui.

"Bia, vamos conversar" – rapidamente ele sai do box e se enrola em uma toalha que estava em um banquinho no banheiro, mas não espero. Saio rapidamente e desço as escadas em direção a porta. – "Bia, por favor não é o que você está pensando" – segura meu braço fazendo eu parar e olhar para ele.

"Não é o que eu estou pensando? Nós não temos mais nada para conversar, eu vi o que precisava ver para esclarecer que o que tínhamos, acaba aqui hoje nessa sala". – Pego a sacola com a lingerie que comprei pensando na noite que eu teria e jogo nele.

-Aproveite isso e peça para aquela vadia usar para você hoje à noite". Saio de lá levando o vinho e a minha bolsa, pegou as chaves do meu carro no aparador e vou até a entrada do condomínio buscar minha mala que ficou lá e com a mesma pressa que eu tinha para chegar, fui embora.