Capítulo 03 - O paraíso veio de máscara

31 4 0
                                    

Logo que assinei o divórcio fiz uma promessa assim que sai do tribunal. Para cada ano que passei com o Daniel e me privei de fazer alguma coisa eu faria acontecer. Fiz aulas de dança, fiz tatuagem. Também fiz um corte radical de cabelos e voltei a usa-los cacheados como eram. Aprendi mandarim e um pouco de coreano. Mudei totalmente meu guarda roupa, comecei a me maquiar diferente.

Agora estou aqui fazendo minha primeira viagem internacional do outro lado do mundo. Chego no aeroporto de Bangkok e vou em busca do transfer que reservei para me levar até o Resort Village Coconut Island.
O lugar realmente era espetacular, se fosse meu último dia na Terra eu morreria feliz mesmo sem sair para conhecer outros lugares.

Por ficar em uma ilha privada na costa leste de Phuket, a localização é perfeita e o acesso ao continente é fácil. Escolhi este hotel por trabalhar com casas privativas, chalés com seu jardim e piscinas viradas para o mar. A sensação de aconchego quando entrei no meu chalé foi instantânea que me levou às lágrimas. Saber que cheguei aqui sozinha me deu uma paz que há muito tempo não sentia. Arrumei minhas coisas e fui conferir o roteiro que o hotel deixou no meu quarto de acordo com as minhas escolhas, tinha enviado antecipadamente informando que estaria viajando sozinha e era minha primeira viagem internacional então prometeram me ajudar com isso. Uma guia me ajudaria com o que eu precisasse também dentro do resort, apesar da maioria dos funcionários falarem inglês, mas achei a preocupação deles em tornar minha estadia boa simplesmente perfeita.

Depois desfazer as malas e enviar uma mensagem para minha irmã dizendo que estava tudo bem, tomei um banho e troquei de roupa. Era fim de tarde e o clima estava propício, então coloquei um vestido longo de alças e estampa geométrica de cores neutras, calcei um tênis e fui conhecer o hotel. Depois de quase duas horas com a guia me explicando todo o funcionamento do local, as instalações de sauna, salão de beleza e outras lojinhas a fome bateu.

Fui até o restaurante principal do hotel e faço um pedido, enquanto espero olho em volta e observo os demais hóspedes em sua maioria asiáticos, mas havia muitos estrangeiros, não dava para saber a nacionalidade de todos, tinha brasileiro também já que o modo de conversar, rir e se comunicar é inconfundível até que olho para a entrega e vejo um grupo de cinco rapazes aparentemente na casa dos trinta anos entrando, alguns já pareciam alterados pela bebida, rindo animadamente e fazendo brincadeiras entre si. Um deles me chamou a atenção, pois usava máscara e boné o que me leva a deduzir ser alguém que não gostaria de ser reconhecido em público, apesar que é comum vê-los usando máscara em todos os lugares. Meu pedido chega, a comida deliciosa e peço outro drink que não o que tinha, mas era igualmente bom. "Com licença senhorita, este drink foi enviado pelo cavalheiro da mesa próximo das janelas e pediu que desfrute dele como da sua estadia" – diz um garçom parando ao meu lado com segurando uma bandeja com um drink igual ao meu. Olho na direção que ele sinalizou qual mesa seria e busco o olhar de quem havia enviado o drink que inicialmente recusei, ninguém olhava para minha mesa exceto o homem mascarado sentado com os amigos. Quando nossos olhos se encontraram ele levanta a caneca de cerveja que bebia em minha direção em um brinde no ar, sorri e fiz o mesmo com a minha taça brindando também, seus amigos sem entenderem também fizeram o mesmo gesto brindando entre eles enquanto ele continuava a me olhar.

Finalizo minha refeição e a caminho do meu chalé percebo que alguém está andando na mesma direção, sinto que estou sendo seguida e quando olho para trás vejo o hóspede mascarado junto com seus amigos andando em minha direção, continuo minha caminhada e quando chego em frente ao meu chalé eles passam e vejo ele me olhar rapidamente.

Vejo quando ele parou em frente a um chalé no final da nossa rua e me olha novamente antes de entrar e eu num impulso aceno para ele que me acena de volta. Ele também é asiático, seus olhos de águia, a pele cor de mel me chamaram a atenção, ele também é alto, não consigo ver qual comprimento de seus cabelos, mas percebo que são pretos.

No dia seguinte resolvo curtir uma das praias do roteiro e quando retorno ao chalé vejo que um convite foi deixado ao lado da cama. Pela manhã o lugar é limpo e abastecido pelos funcionários, provavelmente neste momento o convite foi entregue, tratava-se de uma festa de boas-vindas aos novos hóspedes, tinha a roupa perfeita para a ocasião. Tomei um banho de imersão e depois fui até o salão de beleza que tinha no hotel fazer as unhas. Trouxe um macacão de linho cru em uma cor viva que eu mesma desenhei. Ele é discreto e elegante ao mesmo tempo, perfeito para uma festa em um lugar assim.

Levo uma bolsa pequena com um batom e meu celular e caminho em direção ao local da festa que é ao ar livre em uma praia privada anexa ao hotel. A decoração do ambiente me deixou de boca aberta e tudo de muito bom gosto. O que deveria ser uma pista de danças já estava fervendo de pessoas, tinha uma ilha próximo onde muitos garçons saíram carregando frutas, petiscos e bebidas. A noite está agradável e faço amizades com outros turistas, incluindo os brasileiros e combinados de fazer os passeios juntos. Todos estavam se divertindo muito e nem vejo as horas passarem, me aproximo de um outro bar e peço uma água gelada, confesso que bebi além do que costumo e apesar de ter um organismo forte para o álcool, acabei misturando vários drinks deliciosos e sinto que posso começar a flutuar a qualquer momento.

Depois de pegar a água vou em direção aos banheiros, preciso jogar uma água no rosto e comer alguma coisa para voltar a sobriedade. Depois me lavar o rosto, me hidratar um pouco pego o caminho de volta para o buffet para me servir, mas quando saio do corredor que leva aos banheiros bato de frente com um algo duro, quase caio para trás, mas mãos fortes me seguram antes que um acidente maior acontecesse e quando me recomponho vejo um par de olhos de água me olhando. "você está bem"? – diz em um inglês perfeito.

Eu reconheceria aquele olhar de águia em qualquer lugar, em qualquer estado de embriaguez. Ele era alto, com braços fortes e um peito largo. Os cabelos pretos curtos e o rosto jovial mostravam o quão jovem poderia ser, mas aqueles olhos... aqueles olhos me hipnotizaram.

Quando nossos olhares se cruzaram, senti um arrepio percorrer minha espinha. Era como se ele pudesse ver dentro da minha alma, despindo todas as minhas defesas e me deixando vulnerável. Eu não conseguia desviar o olhar, como se uma força invisível me mantivesse presa àqueles olhos de águia.

Era uma sensação avassaladora, estar sob o olhar de alguém com tamanha intensidade. Sentia-me nua, exposta, mas ao mesmo tempo, curiosamente segura. Havia algo reconfortante na sua presença, algo que me fazia querer me aproximar, descobrir mais sobre aquele homem enigmático que conseguia me desnudar apenas com um olhar.

E naquele momento, percebi que aquele olhar não era apenas uma característica física. Era uma parte essencial de quem ele era – alguém com uma força interior que atraía e intimidava ao mesmo tempo. 

UnholyOnde histórias criam vida. Descubra agora