Capítulo 4 - Olhos de águia

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Pedi desculpas em inglês e tentei sair rapidamente, mas antes que eu pudesse ir embora, senti que tudo o que havia bebido estava voltando com força, então tive que dar meia volta e entrar correndo no banheiro e fui até uma das cabines, ajoelhei e coloquei tudo para fora, cada onda de náusea estava acompanhada de uma vertigem e senti meus joelhos fraquejarem e sentei no chão.

O que demorei a perceber foi ele dentro do banheiro e quando o vi em pé de frente à cabine que eu não tinha fechado a porta, a onda de náusea veio acompanhada de vergonha e novamente vomitei. Senti a mão firme dele me amparando, garantindo que meu cabelo não atrapalhasse. Havia algo reconfortante naquele gesto. Em meio à minha vergonha e desconforto, a presença dele era um ancoradouro de segurança. Não trocamos palavras; o som das minhas náuseas preenchia o silêncio constrangedor, mas ele permaneceu ali, paciente e prestativo.

Quando finalmente senti que não havia mais nada a ser expelido, respirei fundo e me encostei na parede fria do banheiro. Ele me ofereceu um lenço de papel para que eu pudesse limpar o rosto.

Pedi desculpas em inglês e tentei sair rapidamente, mas antes que eu pudesse fechar a porta, senti que tudo o que havia bebido estava voltando com força. Percebendo meu desespero, ele me puxou para dentro do banheiro, trancou a porta e me levou até um dos vasos. Ajoelhei e coloquei tudo para fora enquanto ele segurava meus cabelos, que estavam soltos.

A cada onda de náusea, sentia a mão firme dele me amparando, garantindo que meu cabelo não atrapalhasse. Havia algo reconfortante naquele gesto. Em meio à minha vergonha e desconforto, a presença dele era um ancoradouro de segurança. Não trocamos palavras; o som das minhas náuseas preenchia o silêncio constrangedor, mas ele permaneceu ali, paciente e prestativo.

Quando finalmente senti que não havia mais nada a ser expelido, respirei fundo e me sentei no chão, encostada na parede fria do banheiro. Ele me ofereceu um lenço de papel para que eu pudesse limpar o rosto.

— Você está melhor? — perguntou ele, a voz profunda e calma, com um leve sotaque que eu não conseguia identificar.

Assenti, incapaz de encontrar palavras. Ele me ajudou a levantar e me conduziu até a pia, onde lavei o rosto e a boca. O gosto amargo ainda persistia, mas a sensação de alívio começava a tomar conta de mim.

— Obrigada — sussurrei, sentindo a gratidão misturada com a vergonha.

Ele apenas sorriu, um sorriso tranquilo que fez meu coração bater um pouco mais rápido. Era impressionante como, mesmo em um momento tão humilhante, ele conseguia me fazer sentir segura e cuidada.

— Tudo bem. Acontece — respondeu ele, ainda segurando meu braço para garantir que eu estava estável.

Saímos do banheiro juntos, e ele me acompanhou até uma mesa vazia onde eu poderia sentar e me recompor. A noite ainda estava longe de terminar, mas aquele encontro inesperado e estranho havia mudado completamente o meu humor.

— Obrigada mais uma vez. Eu não tinha percebido que havia entrado no banheiro errado. As portas são idênticas, mas meu desespero foi maior na hora.

— O importante é saber se você está se sentindo melhor. Quer que eu chame um médico?

— Não é necessário, já estou me sentindo melhor. Acho que abusei da sorte misturando vários tipos de bebidas e não me alimentando direito.

Ele me olhou e sorriu. Algo nele parecia familiar. Busquei lá no fundo da memória, tentando lembrar se já tinha visto aquele rosto antes, mas não consegui lembrar de nada.

— Certifique-se de beber água e descansar um pouco — ele aconselhou, a preocupação evidente em seu tom de voz.

— Vou seguir o seu conselho. De verdade, muito obrigada. Você foi muito gentil.

Ele deu de ombros, minimizando o gesto.

— Não foi nada. Só quero garantir que você fique bem.

Sentada à mesa, comecei a bebericar a água que ele havia conseguido para mim. Enquanto isso, ele permaneceu de pé, como se estivesse esperando para ter certeza de que eu realmente estava bem antes de ir embora.

— Me chamo Lee, a propósito — disse ele, estendendo a mão.

— Prazer, sou Beatriz, mas pode me chamar de Bia — respondi, apertando a mão dele.

O toque foi breve, mas firme. Havia algo reconfortante na presença de Lee, algo que me fez sentir que, de alguma maneira, eu estava segura com ele. Ele me lembrou de alguém, mas não consegui definir quem. A familiaridade nos olhos dele me intrigava.

— Se precisar de alguma coisa, estarei por aqui. Vi que somos vizinhos — ele disse.

— Somos?

— Sim, eu te vi no restaurante, te paguei uma bebida — ele disse com um sorriso no rosto, mostrando as covinhas. Quanto mais eu olhava aquele rosto, mais hipnotizada eu estava. Ele era muito bonito.

— Então preciso te pagar uma em agradecimento e outra por ter me ajudado hoje.

— Bom, agora vou te acompanhar na água, assim posso te acompanhar de volta até seu chalé.

Fiquei observando enquanto ele desaparecia na multidão, tentando entender a estranha sensação de déjà vu que ele havia deixado para trás. Enquanto a música e as luzes do lugar continuavam ao meu redor, fiquei pensando naquele encontro. Algo me dizia que Lee não era um estranho qualquer e que aquele olhar de águia talvez guardasse mais segredos do que eu poderia imaginar. Logo, vi Lee retornar com uma garrafa de água e um prato com alguns petiscos.

— Acho que você deveria comer alguma coisa para se sentir melhor — ele falou, estendendo o prato para mim.

— Obrigada, Lee. Você realmente não precisava fazer isso tudo — disse, pegando um pedaço de pão e mordendo devagar.

Ele se sentou ao meu lado, observando enquanto eu comia e bebia água. A presença dele era tranquilizadora, e a comida ajudava a afastar a náusea que ainda restava. Enquanto eu mastigava, ele começou a falar sobre coisas triviais — o tempo, os eventos do resort, histórias engraçadas de viagens. Sua voz era um fio constante que me mantinha ancorada no presente, desviando minha mente do desconforto recente.

Depois de um tempo, comecei a me sentir significativamente melhor. A música ao redor parecia menos alta e as luzes menos ofuscantes. Lee continuava ao meu lado, um pilar de estabilidade no caos do bar.

— Pronta para voltar ao seu chalé? — ele perguntou, vendo que eu estava terminando de comer.

— Sim, acho que sim. E obrigada, de novo. Você foi incrível hoje.

Ele sorriu, aquele sorriso de covinhas que já começava a me parecer familiar e reconfortante.

— Vamos lá, então.

Saímos juntos do bar, a noite estava fresca e tranquila. Caminhamos lado a lado, conversando sobre coisas simples, a familiaridade dele agora uma companhia agradável. Quando chegamos ao meu chalé, ele se certificou de que eu estava bem antes de se despedir.

— Boa noite, Bia. Se precisar de alguma coisa, meu chalé é o número 12.

— Boa noite, Lee. Obrigada por tudo.

Ele acenou e se afastou, deixando-me na porta do meu chalé. Entrei, sentindo-me mais leve e surpreendentemente grata por aquele encontro inesperado. Enquanto me preparava para dormir, não conseguia parar de pensar em Lee e naquele olhar de águia que parecia prometer mais do que apenas uma noite de ajuda.


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