⋆ ✧ ˚ Kento Nanami · .

7 ˖⋆ ✧ ˚ Anrie · .

- Qual o problema? Noritoshi perguntou-me, sentando ao meu lado.

Durante a manhã, fiz uma visita despretensiosa a área de treinamento onde alguns feiticeiros treinavam. Ver o desempenho de suas técnicas me levou a comparação. Obviamente, não esperava estar no mesmo nível.
No entanto, estou muito abaixo.

- Não vai falar? - Questiona, agora demonstrando um pouco mais de preocupação.
Seu braço apoiado em meu ombro, me colocando em um abraço lateral.

- Nori, lembra quando brincávamos e você dizia que ia ser o mais forte? - Ele sorri, a lembrança nos trazendo o gosto de uma época agora inalcançável.

- Eu já era. Ao menos mais que você.
Empurro o seu ombro com a verdade amarga. - Depois você se escondia para chorar. Perdedora!

Expresso uma falsa ofensa quando abro o sorriso. Mesmo naquele tempo, a atenção era voltada para Noritoshi, e com razão. Me pergunto se ele já se achou incapaz alguma vez.

- O que isso tem a ver com você estar extremamente isolada em um ginásio? - Evito seu olhar. Provavelmente, ele não participou dos motivos que me levam à sua observação.

- Me sinto como naquela época. Um fracasso.

Sua língua estala e seu olhar endurece com minhas palavras.
Nori tira seu braço do meu ombro,levando sua mão a minha mandíbula, afim de virar meu rosto em direção ao seu.

- Eu estava brincando!

Esclarece. Mas, a anterior implicância dele não tem nada a ver com o sentimento de inaptidão que tenho a cada treino que faço.

- Eu sei. Mas,Nori... desde que cheguei aqui só tenho apanhado. E não é nem pela dor que digo isso.
Todo mundo aqui é muito melhor que eu.

- Pare de ser um bebê chorão.
Você é uma Kamo. Haja como tal.

Suas palavras são duras. No entanto, talvez seja exatamente o que tenho que fazer. Parar de me lamentar pelo que não sou. Ainda não sou. Noritoshi foi criado assim. Para governar, principalmente suas emoções. Nosso pai não o deixou tempo para lamentar.
Entendo meu irmão. Porra, sempre entendo. Tenho que parar de entender.

- Pode parar de ser um completo babaca um segundo?

- Tsc. Mas... E Kento? Não deveria estar ajudando você?

Questiona de forma casual.
Sua expressão agora estóica.

Sínico.

- Não o vejo faz um tempo.
Provavelmente viajando ou algo assim.

A verdade é que a impressão que tinha era de quê estava sendo ignorada. Ele não respondia minhas mensagens apesar de vistas e quando fazia era de forma completamente sucinta e fria.

- Tudo bem. Quando puder vou ajudar você.
Temos que ir.

Um tremor rápido e involuntário percorreu meu corpo com a simples sugestão dele me ensinando algo.
Nori achava tudo óbvio demais para ser bom em ensinar qualquer coisa a alguém e isso era realmente algo que gostaria de evitar.

Saímos junto a caminho de casa, levando cerca de quinze minutos no caminho da escola até nossa casa o dia já se preparando para o anoitecer.
Ao terminar de destrancar a porta Nori se prepara para ir ao banheiro ao mesmo tempo que digita algo no celular.
Seu cabelo despenteado caindo sobre o rosto esguio, revelando algumas marcas de um roxo escuro,quase preto.
Eca, definitivamente ECA!
Ele não era do tipo que se gabava de suas conquistas sexuais.
Ainda bem. Mas, não pude deixar de ficar curiosa.

- Vai querer o quê?

Pergunta,me tirando dos meus devaneios.

- Quê?

- CO-MI-DA!

Diz,fazendo questão de enfatizar cada sílaba.
Irritação correndo por minhas veias.
Porquê eu não pude ter uma irmã?

- Qualquer coisa. Vou subir.

Subo as escadas rapidamente, no entanto, não o suficiente para o bufo de irritação de Nori passar despercebido.
Ele odiava minhas incertezas. E não pude deixar de sorrir com sua frustração.

Abro a porta enquanto alcanço meu celular na parte detrás da minha calça.
Sei que meu irmão tem boa intenção ao se oferecer para me ajudar,mas, não sei se tenho disposição para lidar com seu mau humor em treinamento.
Relutante com o aparelho em mãos, decido mandar mensagem para Nanami.

Anrie: Olá:)

Olho alguns segundos para a tela do celular esperando uma resposta.
Sinto meu estômago revirar assim que a tela me mostra que ele está digitando.
Como se fosse resolver algo,apago a tela deixando o aparelho na cama enquanto digo para mim mesma que estou indo apenas tomar banho. E não temendo sua resposta.
Corro para o banheiro e em um banho rápido volto ao quarto,me apressando em conferir sua resposta.

Kento Nanami: Olá,Boa noite!

Ao menos não fui ignorada.

Anrie: Tudo bem?

Kento Nanami: Sim. Como você está?

Anrie: Bem.

Nanami Kento: Posso fazer alguma coisa por você?

Minhas mãos tremulam diante da tela antes de responder.

Anrie: Na verdade sim.

Anrie: Queria saber quando volta.

Anrie: Meio que estou indo mal.

Anrie: Muito mal.

Que merda! Pareço uma adolescente estérica.
Ele me faz sentir como se fosse idiota.

Nanami Kento: Mesmo?

Anrie: Sim.

Nanami Kento: Não se preocupe, volto logo. E veremos como posso ajudar.

Anrie: Tem uma data?

Nanami Kento: Na quarta-feira. Breve!

Anrie: Tudo bem. Obrigada. Boa noite :)

Me despeço quando já não tenho mais nada a acrescentar.
Porém, não posso evitar surpresa quando assim que deixo o celular de lado, recebo outra mensagem de Nanami.

Nanami Kento: Desculpe não responder suas mensagens.
Os horários aqui são confusos. Não queria incomodá-la ao mandar mensagem em um horário inapropriado.

Anrie: Tudo bem. Mas, não seria um incômodo.

Anrie: Você está na Itália. Certo?

Não que eu tenha ido atrás dessa informação.
Ela apenas chegou até mim.

Nanami Kento: Sim.

Nanami Kento:A cidade é muito bonita. Deveria visitar algum dia.

Anrie: Quando criança visitei Florença. Mas,espero ter a oportunidade de conhecer Veneza.

Nanami Kento: Estou em Palermo. Mas,por conta do trabalho não pude explorar muito.

Anrie: Quem sabe um dia visitamos a cidade na mesma data.
Seria irônico.

Nanami Kento: Não seria mais fácil nos encontrarmos em Tóquio?

Anrie: Essa é a ironia.