13 ˖⋆ ✧ ˚ Anrie · .

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Noritoshi olha sério o suficiente para me fazer ver através de si. Está tão perturbado quanto eu.

Ele fixa os olhos em Satoru que ouve pacientemente. Suas mãos espalhadas e relaxadas sobre a poltrona. A venda cobrindo seus olhos por completo.
Tenho a impressão que não está levando essa conversa muito a sério. Isso é perda de tempo.

- Hum... Deixa eu ver se entendi.

Ele se inclina para frente apoiado o antebraço nas suas coxas, enquanto as mão pendem no ar, entre as pernas.
Não consigo ver seus olhos,mas ele parece ver mesmo através da venda,porque sua cabeça gira na minha direção quando fala comigo.

- Você está literalmente, pedindo para eu me responsabilizar pela sua vida?!

Como imaginava. É uma proposta absurda para qualquer um que tenha o mínimo de bom senso.

- Não é bem assim.

Nori começa, e Satoru volta sua atenção para ele.

- Só precisamos que acreditem nisso.

Gojo volta a se jogar na poltrona pensando um pouco.

Entenderia se não quisesse fazer isso.
É óbvio que não estamos pedindo para que seja meu protetor,nem nada do tipo.
Mas não deixa de ser uma proposta de via única,uma vez que Satoru não ganharia nada.
Apesar de tentar parecer confiante para Noritoshi,a verdade é que estou morrendo de medo do que possa acontecer comigo.
Estou em pânico,e me apegaria a qualquer fagulha de esperança.

Ele suspira.

- Tudo bem.

Responde. E mesmo tentando manter a esperança,no fundo não acreditei que seria possível.

- Não tem graça.

Sua gargalhada toma todo o ambiente.
E sua mão corre para meu queixo, trazendo meu olhar para ele.

- As pessoas que conhece são tão ruins que deixariam você morrer?

Um lampejo de raiva passa por mim.
Por que é verdade.
A única pessoa que faria algo para me ajudar está ao meu lado.
É difícil acreditar que o homem a minha frente agiria diferente.

- Pode vir morar comigo se quiser.

- O QUÊ?

Noritoshi fala antes que eu possa reagir.
Seu corpo deixa o sofá em que está, ficando entre nós dois. O assombro causando o descontrole de sua técnica,que é revelada na mancha que circunda seu olho.

- Ela não vai morar com ninguém além de mim.

As mãos passam pelo cabelo liso,que agora chega ao ombro.
Em situações comuns,ele não deixaria ficar tão grande, porém, Nori tem lidado com muita coisa.

- Mas que porra você está pensando?

Questiona, alterado.
Satoru não parece se importar com os sentimentos dele sobre sua sugestão.
Mas,meu irmão não está pensando direito e logo vai se acalmar.

- Você vai ficar na escola. Ponto!

Determina olhando para mim.
Ele entendeu o raciocínio de Satoru finalmente.
Nosso pai não vai nos deixar ficar juntos.
E apesar de sua lógica afetada, não há discrepância em sua fala.
Decidimos por fim, seguir como combinado.
Eu ficaria na escola e Satoru garantiria que soubessem que estou sob sua responsabilidade. Ficarei bem... Espero!

Amanhã mesmo sairei de casa. Ainda que isso parta meu coração por deixar  Noritoshi sozinho.

Ele caminha de um lado para o outro atordoado, quando puxo seu braço obrigando a parar quieto.
Satoru saiu para atender uma ligação,dando o tempo perfeito para que eu possa conter Noritoshi.

- Não seja pedante.

Resmungo entredentes.
Sua boca se contorce, mostrando que ele tinha um argumento na ponta da língua,mas desistiu no meio do caminho.

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Volto para casa apenas para pegar o pouco que me resta. Meu pai por um favor do universo não nos deu o desprazer de sua presença. Não o vejo desde o dia do incidente com Noritoshi.

Minhas mãos correm para o meu cabelo, trazendo a memória o que aquele homem fez.
Ele não é meu pai. Não merece esse título. E não o terá.

Nori abre a porta do meu quarto se recostando na moldura. O olhar pesado em seu rosto.

- É a primeira vez que nos separamos.

Sorrio com a observação.

- Vou ficar bem. Prometo.

Declaro,tentando manter certa diversão no meu tom. Porém,uma faca parece estar atravessando minha garganta.
Seu corpo deixa a entrada ao caminhar em minha direção.
Os braços grandes e fortes me fazendo desaparecer em seu abraço. Recosto minha cabeça em seu peito. O cheiro familiar entorpecendo minhas narinas.

- Eu sei que vai.

Noritoshi permanece comigo enquanto dobro algumas últimas peças.
Logo que termino me junto a ele que agora está sentado na minha cama.
Convivemos tempo suficiente para perceber quando há algo de errado.
Mas,como eu saberia qual o problema se vivemos em meio a um turbilhão deles?

Por fim, colocamos tudo o que recolhi no porta-malas e ele dirigi até a escola.
Chegamos a conclusão que este seria o melhor horário para fazer isso. Quando teríamos menor atenção. Não que a discrição vá durar muito.

Nori havia resolvido toda a parte burocrática da minha situação.
A única coisa que faltava era convencer Satoru a concordar.

Entro no dormitório que é espaçoso o suficiente para mim. Nada comparado a casa que meus pais concederam antes,no entanto,o ambiente é aconchegante e confortável.

Afundo ao me jogar na cama.
Mas logo ouço a melodia vinda do meu celular.
Durante o dia não tive muito tempo de visualizar o aparelho. E só lembro disso quando recebo outra mensagem de Nanami.
Com todos o acontecimentos, sequer parei para pensar no ocorrido do dia anterior. Só essa memória trás arrepios a todo meu corpo.

Kento Nanami: Bom dia!

Kento Nanami: Podemos falar?

Kento Nanami: Boa tarde! Quando puder me avise.

Kento Nanami: Está tudo bem?

Anrie: Não tive muito tempo, desculpe!

Já passa de meia-noite,por isso, não tenho esperanças que responda ainda hoje. Mesmo antes de descartar o aparelho ele responde.

Kento Nanami: Tudo bem?

Kento Nanami: Fiquei preocupado.

Anrie: Aconteceram muitas coisas.

Nanami Kento: Espero que esteja bem. Caso precise,estou sempre aqui.

Não é nenhum segredo. Mas, não é sobre isso que quero falar com ele.
Esse assunto já demandou muito do meu tempo.
Quero confrontar suas palavras de antes. Provocar as mesma sensações que sinto toda vez que falo com ele.
E saber se temos o mesmo efeito um sobre o outro.

No entanto,meu corpo resisti em me deixar acordada. Meus olhos pesam fazendo minhas pálpebras cederem.




⋆ ✧ ˚ Kento Nanami ·  .Onde histórias criam vida. Descubra agora