Britânia era uma terra de lendas, histórias encantadoras passadas de geração para geração, contadas pelos pais aos filhos antes de dormir. Em meio a essas narrativas, uma aventureira destemida dedicava sua vida a desvendar esses mistérios. Viajando pelo mundo, ela buscava as lendas que pareciam desvanecer com o tempo. Algumas eram surpreendentemente verdadeiras, como o Dedo de Deus, um pico colossal que, segundo dizem, não tem fim, e a Fonte da Juventude, outrora encontrada na exuberante Floresta das Fadas antes de ser devastada. Contudo, ainda existiam inúmeras lendas a serem descobertas, e sua jornada estava longe de chegar ao fim. Cada passo a levava mais fundo nas histórias esquecidas, onde o passado e o presente se entrelaçavam em um tapete de mistérios esperando para ser desvendado.
Sua próxima aventura era procurar o lendário reino de Camênio, um reino perdido que, segundo a lenda, guardava muitos tesouros e relíquias sagradas. Todos que um dia entraram lá nunca mais foram vistos, aumentando ainda mais o mistério e a atração pelo local.
Estava na estrada há alguns dias, então fez uma parada próximo de um pequeno vilarejo. Sua estadia nas cidades nunca duravam mais de uma semana, afinal, era procurada pelo país inteiro como fugitiva da prisão de Brum, conhecida por ser impenetrável e impossível de fugir. Aquela prisão continham apenas os piores criminosos. Não se lembrava muito bem de como havia parado lá, suas memórias sobre isso eram apenas borrões
Saiu a procura de algo para comer. Avistou um coelho e pegou seu arco, mirando na presa, mas um estrondo pavoroso ecoou pela floresta, o que a fez errar o alvo. O coelho correu assustado com a flecha disparada, adentrando as profundezas da floresta
— Droga! Oque foi isso? Será que é algum monstro da floresta? — Indagou para si mesma, segurando o fôlego e seguindo na direção para onde o coelho foi
Avistou a presa novamente e a seguiu silenciosamente. O animal parou em frente a uma caverna. Sem tirar os olhos do coelho, alcançou uma flecha na bolsa que estava pendurada em suas costas, mas uma pequena poça de sangue na grama chamou sua atenção
Quando olhou novamente, o coelho não estava mais lá. Praguejou mentalmente e foi até o rastro de sangue, investigar oque era, pois ainda estava fresco. A trilha de sangue se arrastava até a caverna que estava há poucos passos de distância. A entrada da caverna era escura e estreita, cercada por uma vegetação densa que mal deixava a luz do sol entrar. Ao se aproximar, sentiu um calafrio percorrer sua espinha. O cheiro metálico do sangue ficava mais forte, misturando-se com a umidade do ambiente.
Respirou fundo, reunindo coragem, e adentrou a caverna. Seus olhos demoraram alguns segundos para se ajustar à falta de luminosidade. Ao finalmente enxergar o interior da caverna, seu coração quase parou. No chão, estava um pequeno corpo desacordado e ferido.
Normalmente não se importaria e iria embora. Contudo, havia algo naquele cenário que tocava uma parte esquecida de seu coração. A figura no chão parecia tão frágil e desamparada que não conseguia simplesmente virar as costas. Seus instintos gritavam para ir embora, lembrando-a dos perigos de ajudar um desconhecido, ainda mais em sua condição de fugitiva. Mas seu coração dizia para ajudar, uma força interna que não conseguia ignorar. Aquela visão parecia amolecer completamente seu coração, quebrando as barreiras que havia erguido para se proteger.
Em passos rápidos, seguiu até a figura inconsciente, segurando-a em seus braços com cuidado. O corpo estava frio e sem vida aparente, mas ao verificar o pulso, percebeu que ainda havia um fraco sinal de vida. Sentiu uma estranha familiaridade com aquele rapaz. Tentou buscar em sua mente alguma lembrança de já tê-lo conhecido, mas não encontrou. Seus cabelos loiros estavam sujos e emaranhados, e o rosto, apesar dos machucados, parecia de alguma forma conhecido. Havia algo nos traços dele, uma estranha sensação de déjà vu que a incomodava.
— Quem é você? — Murmurou para si mesma, enquanto começava a examinar os ferimentos. Deve ser apenas coisa da sua cabeça, pensou, tentando afastar a inquietação.
Determinada a ajudar aquele garoto. Saiu da caverna e voltou a floresta em busca de algumas ervas e outros itens necessários para tratar dos ferimentos do rapaz. Ao retornar, preparou algumas misturas de ervas e passou nos machucados, especialmente no grande corte que ele tinha na costela, e o enfaixou com cuidado. Trabalhou rápido, mas com precisão, movida pela urgência de salvar aquela vida.
Seu estômago roncou fortemente, lembrando-a do motivo pelo qual havia ido caçar aquele coelho. Ignorou a fome, concentrando-se no rapaz desacordado. A cada movimento, a cada gesto, uma estranha sensação de dever preenchia seu coração.
Sentada ao lado dele, observou sua respiração se tornar mais regular. Sentiu uma onda de alívio, acompanhada de uma nova determinação. Não sabia quem ele era ou por que sentia essa estranha conexão, mas estava decidida a protegê-lo.
Enquanto a noite caía e as estrelas começavam a brilhar no céu, percebeu que aquela jornada estava apenas começando. Havia muitas perguntas sem respostas, muitos mistérios a serem desvendados. E naquele momento, ao lado daquele estranho ferido, sentiu que estava mais próxima do que nunca de descobrir a verdade sobre si mesma e sobre as lendas que tanto buscava.
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Abutre Escarlate - Os sete pecados capitais
FanfictionUma história sobre lendas que circulam o território da Britânia. A princesa Elizabeth, com a esperança de salvar o reino de Liones da tirania dos cavaleiros sagrados, vai em busca da lendária ordem dos mais poderosos cavaleiros sagrados de toda Brit...