Pecado

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É da natureza humana ter medo do desconhecido, uma sombra que paira sobre os corações e mentes quando confrontados com o inexplicável. O medo é um instinto primitivo, uma defesa contra o que não se compreende. No entanto, é quando esse medo se mistura com arrogância e ignorância que os resultados podem ser verdadeiramente devastadores, como uma tempestade perfeita de destruição iminente

Houve um tempo em que os livros de histórias eram a fonte mais intrigante de conhecimento para (S/n). Mais fascinantes até do que os livros de magia, eles revelavam segredos sobre a formação dos reinos e os feitos heroicos de clãs há muito esquecidos. Tinha testemunhado a ascensão e queda de reinos, vivendo tantos séculos que a própria passagem do tempo parecia uma mera formalidade

No entanto, os humanos, seres tolos e temerosos do desconhecido, começaram a desconfiar de sua natureza. Não envelhecia, não adoecia como eles. Para os olhos desconfiados da cidade, isso só poderia significar uma coisa: (S/n) era uma bruxa

A suspeita se solidificou quando um menino, tão curioso quanto dotado de algum poder misterioso, também foi alvo da desconfiança dos habitantes locais. Para eles, humanos não podiam portar magia, era um dom reservado apenas a criaturas sobrenaturais. Humanos tolos!

O dia fatídico chegou quando a intolerância atingiu seu ápice. (S/n) se viu cercada por uma multidão enfurecida, gritando insultos e brandindo armas improvisadas. Protegeu o menino com seu próprio corpo enquanto as pedras choviam sobre eles, cada impacto cortando como facas afiadas

— Peguem a bruxa! Queimem-na na fogueira! — Gritou um homem, sua voz ecoando pelo tumulto como um trovão de ódio. Outro sugeriu a decapitação do menino, enquanto a multidão urrava sua concordância

As pedras machucavam física e emocionalmente, mas era o choro desesperado do menino que feria mais fundo. Sentia o dever sagrado de protegê-lo, mesmo que isso significasse sacrificar sua vida

Em um ato desesperado, tentaram fugir, mas a raiva da multidão era implacável. (S/n) foi empalada por um garfo de feno, gritando de dor enquanto tentava manter o menino seguro. Mas um dos agressores agarrou o menino pelos cabelos e o arrastou para longe, expondo-o ao ataque cruel das pedras que dilaceravam a pele delicada da criança. Nunca esqueceria aqueles olhos vermelhos, uma marca inapagável em sua memória. E então, um grito estridente ecoou, ecoando por toda a cidade. O clamor da multidão se dissolveu em silêncio, substituído pela visão turva da escuridão

Quando a consciência retornou, (S/n) se viu no meio de um cenário desolador. Corpos espalhados pelas ruas, testemunhas mudas de uma violência inimaginável. A cidade inteira estava em silêncio, abatida pelo terror que havia se desenrolado

Os olhos de (S/n) buscaram desesperadamente pelo menino. Encontrou-o, sujo de sangue e horrorizado, fitando-a com olhos cheios de medo e incredulidade. As mãos de (S/n) estavam manchadas de vermelho, não apenas com seu próprio sangue, mas com o sangue das vítimas que estavam jogadas à sua volta

Ela se aproximou do menino com um misto de desespero e tristeza, tentando abraçá-lo para consolá-lo. Mas ele a afastou com repulsa, incapaz de entender como alguém que ele havia visto como protetora poderia ser agora uma figura tão amedrontadora

(S/n) recuou, olhando suas mãos trêmulas. O horror daquela tragédia, daquele massacre injustificado, a consumia por dentro. Não era uma bruxa, mas naquele momento, viu-se como um monstro aos olhos daquele garoto, aos olhos daquela cidade que uma vez chamou de lar

O olhar desolado do garoto cortou o coração de (S/n) mais profundamente do que qualquer pedra lançada pela multidão enfurecida. Ela viu seu reflexo distorcido no terror e na repulsa estampados no rosto da criança, e soube que tudo o que tentara proteger acabara dilacerado.

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— O que aconteceu com aquele menino? — Diane perguntou com tristeza após ouvir a história de (S/n)

— Ele fugiu... ele se foi, Diane. Ele ficou com medo de mim — (S/n) chorou desesperadamente, como se seu coração tivesse sido arrancado

Diane abraçou-a com força, permitindo que (S/n) chorasse em seus braços

— Eu sinto muito, (S/n) — Ela sussurrou comovida

Aquelas palavras e situação desencadearam uma memória antiga, uma lembrança que há muito tempo estava guardada nas profundezas da mente. Era como se um véu fosse levantado, revelando um capítulo esquecido de sua vida

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Um homem a envolvia enquanto ela chorava em seus braços

— Ele se foi _______ — Chorava copiosamente nos braços daquele homem

— Eu juro que vou encontrar quem fez isso com ele — Disse entre os soluços.

Com aquelas palavras, ele apertou o abraço, segurando-a firmemente, como se dissesse que ele estaria sempre ao seu lado

— Eu sinto muito, (S/n) — Ele sussurrou, acariciando ternamente seus cabelos, deixando um beijo molhado em sua testa

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Diane manteve seu abraço firme, proporcionando a (S/n) um raro momento de consolo. Ela sabia que as cicatrizes emocionais de sua amiga eram profundas, mas naquele instante, sua presença era um alívio para a dor de (S/n)

Após alguns minutos, as lágrimas de (S/n) cessaram, substituídas por um olhar de determinação. Ela se afastou lentamente, enxugando as lágrimas com as costas das mãos

— Eu preciso encontrar respostas, Diane — Disse, sua voz cheia de convicção

Abutre Escarlate - Os sete pecados capitaisOnde histórias criam vida. Descubra agora