02 - Serpentes da Floresta - Parte I

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Calum chegou ao Condado de Vhenyar ao entardecer, quando o sol mergulhava no horizonte, tingindo o céu com tons de fogo e sangue. O ar estava carregado com a fragrância das folhas de outono, e um silêncio contemplativo pairava sobre o vilarejo, quebrado apenas pelo som distante do riacho e o ocasional grasnar de um corvo.

As casas de madeira, com seus telhados de palha, pareciam retiradas de uma era antiga, seus contornos suavizados pela luz dourada. Árvores altas e robustas cercavam o condado, suas folhas cintilando como ouro sob os últimos raios de sol. Um riacho serpenteava pelo centro do vilarejo, sua água brilhando como uma corrente de prata líquida.

Calum puxou seu manto mais apertado ao redor de si, sentindo o peso da jornada nos ombros. O vilarejo estava começando a se acalmar, os últimos habitantes do dia terminando suas tarefas. Um pescador solitário lançava sua linha no riacho, enquanto uma mulher idosa recolhia ervas ao lado de sua casa. O murmúrio das conversas baixas e o som de ferramentas sendo guardadas criavam uma sinfonia de fim de dia.

Ele atravessou a ponte de pedra que cortava o riacho, suas botas ecoando contra as pedras gastas. Cada passo parecia levar embora um pouco da exaustão que sentia. Do outro lado, erguia-se uma estrutura imponente, uma grande cúpula que dominava o horizonte como um guardião silencioso do condado. Talvez um templo, ou uma sala comunal, pensou Calum, enquanto seus olhos seguiam os contornos da construção. Ele voltou a subir no dorso do cavalo.

A luz do sol poente lançava sombras longas e profundas, esculpindo a vila em um contraste dramático de luz e escuridão. Cada detalhe parecia imbuído, repleto, de segredos sussurrados através das eras. Calum parou no meio da ponte, respirando fundo, permitindo que o ar fresco e limpo invadisse seus pulmões. Ele sentia uma paz melancólica ali. O Condado de Vhenyar parecia um refúgio, um lugar onde as cicatrizes do mundo exterior podiam, por um momento, ser esquecidas. Enquanto o crepúsculo envolvia a vila, Calum se deu conta de que tinha encontrado algo precioso aqui — talvez não a solução para todos os seus problemas, mas um breve alívio, uma trégua nas batalhas incessantes de sua vida. Ele avançou, deixando que a tranquilidade do entardecer o envolvesse, um estranho em uma terra acolhedora.

Calum prosseguiu pelo condado de Vhenyar, seguro nas rédeas de seu cavalo, um garanhão negro de olhos inteligentes e movimentos elegantes. As patas do cavalo ressoavam ritmicamente contra a terra batida, ecoando suavemente entre as casas de madeira e os muros de pedra do vilarejo.

A luz dourada do entardecer pintava tudo com uma tonalidade quente, transformando cada casa e cada árvore em silhuetas acolhedoras. Calum observava atentamente ao seu redor, absorvendo os detalhes daquele lugar desconhecido, mas estranhamente familiar. As chaminés soltavam finas colunas de fumaça, sinal de que os habitantes estavam preparando suas refeições noturnas. O aroma de pão recém-assado e carne grelhada permeava o ar, fazendo seu estômago roncar em resposta.

Ele avistou crianças brincando nas ruas, suas risadas cristalinas cortando o ar da noite que se aproximava. Mulheres carregavam cestos de frutas e legumes, e homens retornavam dos campos, seus rostos marcados pela labuta diária. Havia uma serenidade palpável ali, uma rotina simples que contrastava com as memórias tumultuadas que Calum carregava consigo.

Conforme cavalgava lentamente pelo vilarejo, ele procurava com o olhar algum sinal de uma pensão, um lugar onde poderia descansar e talvez conseguir uma refeição quente. Finalmente, seus olhos captaram um letreiro balançando suavemente ao vento: "A Taverna do Carvalho Antigo". A construção era maior que as demais, com uma fachada convidativa e luzes amareladas brilhando pelas janelas.

Calum direcionou seu cavalo para a taverna, passando por uma pequena ponte de madeira que cruzava o riacho. Ao se aproximar, ele podia ouvir os sons de conversas e música vindo do interior, um contraste agradável ao silêncio das ruas. Ele desmontou com um movimento fluido, suas botas tocando o solo com um ruído abafado. Apoiando as rédeas do cavalo em um poste próximo, ele deu uma última olhada ao redor, certificando-se de que o lugar era seguro.

Ladar - Sangue & Sacrifício - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora