10 - Caos & Sangue - Parte I

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Calum e Rasmus caminhavam entre os centauros, o cheiro de terra úmida e madeira queimando no ar tomava de conta da floresta. A Fenda estava tomada pela presença majestosa das criaturas, que se moviam com uma graça selvagem, conversando e sorrindo entre si, como não mais faziam há séculos. As cabanas rústicas, cobertas por musgo e iluminadas por tochas, criavam uma atmosfera ancestral, quase mítica. De repente, Calum sentiu uma pontada na cabeça. Uma visão o tomou de assalto: ele via uma cidade em chamas, a fumaça negra subindo em espirais, gritos de soldados ecoando. Uma mulher, com os olhos vazios sem vida, tinha a cabeça cravada em uma estaca. O horror da visão o sufocava, e ele sentiu o chão se abrir sob seus pés. Mas, tão rápido quanto veio, a visão se desfez, deixando Calum ofegante.

Ele piscou, tentando clarear a mente, e percebeu que não estava mais entre os centauros. Diante dele, sentada sobre uma rocha coberta de musgo, estava uma mulher de presença imponente, pronunciando palavras em uma língua élfica. Evera Lamila, a Sacerdotisa da Fé Vermelha, cujo rosto ele quase esquecera, mas o sorriso não.

Calum cambaleou, segurando a cabeça que ainda latejava, mas a dor começou a diminuir. Ele olhou para Evera, seus olhos cheios de perguntas.

— Calum — a voz de Evera era suave, mas carregada de uma gravidade inescapável —, a guerra começou. As chamas de Eolon chegaram à fronteira. Costa-Ferro caiu, os exércitos marcham para a fronteira.

Calum sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Pouco do que havia escutado sobre Eolon, era que o caos não mais controlava.

— Eolon... — murmurou, mais para si mesmo do que para Evera.

— Sim — respondeu Evera, seus olhos fixos nos de Calum. — Chegou o momento, Calum, o tempo em que você deve matar o caçador que vive dentro de você e salvar o guerreiro antes que seja tarde demais. Se não o fizer, Eolon recuperará todo o seu poder, e nossas terras serão consumidas pela escuridão. Ele forjará uma nova criação e todos nós seremos varridos do mapa. Expurgados do controle enquanto o mal controlará o vento e as marés e os que restar da gente, serão escravizados.

Calum respirou fundo, tentando absorver o peso das palavras de Evera. Ele sabia do que ela estava falando. O caçador, a parte de si que sempre buscou sobrevivência a qualquer custo, precisava ser silenciada para que o verdadeiro guerreiro dentro dele pudesse emergir. Como uma fênix, mas Calum Fireblade possuía tantas feridas.

— Mas como, Evera? Como posso matar uma parte de mim mesmo? — a voz de Calum tremia com a incerteza.

A Sarcedotisa levantou-se, sua figura imponente contra o pano de fundo da floresta, as roupas vermelhas sendo o contraste com sua cabeleira branca.

— Através da fé e da força, Calum. Você não está sozinho nesta luta. Nós acreditamos em você. A luz de Eslandril brilha em seu caminho, mas você deve aceitar o desafio e lutar com todo o seu ser. Reivindique o poder... reivindique a magia profunda e permita que ela o consuma por dentro e guie seus passos. Mate o caçador, torne-se o guerreiro que nasceu para ser. Lute por todos os que se foram. Lembre-se de Cole, de Lencel, de seus pais. Tome o poder.

Calum fechou os olhos por um momento, sentindo o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Quando os abriu novamente, encontrou a determinação que precisava nos olhos de Evera.

— Me ajude a reivindicar e eu lutarei por nós. — Ele afirmou com uma nova firmeza na voz. — Lutarei contra Eolon, contra o caçador dentro de mim, e salvarei nosso mundo do fim.

Evera assentiu, uma expressão de aprovação suavizando suas feições.

— Então que seja.

A floresta estava em silêncio quando Calum foi levado para Noron. A lua cheia brilhava intensamente no céu, lançando um brilho prateado sobre tudo. As fadas dançavam no ar, suas luzes cintilando como estrelas ao redor dos troncos negros das árvores sagradas. Centauros, homens e outras criaturas mágicas seguiam em um cortejo solene, seus passos abafados pelo tapete de folhas caídas. Este era um momento sagrado, uma cerimônia de libertação que ninguém testemunhava há gerações. Calum caminhava com passos firmes, sentindo o peso de cada olhar sobre ele. Rasmus, seu mentor e guia, estava ao seu lado, seu rosto sério e olhos focados. A presença de Noron se intensificava a cada passo que davam, como se as árvores negras os observassem com olhos invisíveis. Quando finalmente chegaram ao círculo de Noron, Calum sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Este era o lugar onde ele renasceria. Noron, o círculo formado por cinco árvores antigas e negras, parecia pulsar com uma energia própria. Os troncos eram altos e retorcidos, com galhos que se estendiam como braços esqueléticos para o céu. A luz da lua filtrava-se entre as folhas, criando padrões místicos no chão. Calum respirou fundo, sentindo a energia do lugar envolver seu corpo. Ele sabia que estava prestes a passar por uma transformação que mudaria sua vida para sempre. Então Rasmus começou a desfazer as roupas de Calum, suas mãos experientes trabalhando com calma e precisão. As vestes caíram ao chão, deixando Calum nu diante de todos. Sua pele dourada reluzia sob a luz da lua, cada músculo esculpido e delineado com perfeição. Ele era uma visão de força e beleza, um guerreiro prestes a ser moldado pelo poder antigo de Noron. Seus olhos, de um verde profundo, estavam fechados em concentração, seus lábios movendo-se em uma prece silenciosa, pendindo a Deusa para que desse certo.

Ladar - Sangue & Sacrifício - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora