12 - Reivindique as Feras - Parte Final

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Calum se mexeu entre os lençóis. Lentamente abriu os olhos para se ajustar a luz do dia, enquanto olhava o interior do quarto de paredes brancas, cujas pinturas e esculturas pareciam o encarar. Passáros coloridos estavam na janela do quarto, pareciam conversar entre si, até que, realmente, ele ouviu um deles o chamando. O bico movendo ligeiramente, mas logo sacudiu a cabeça, apoiando as mãos na cama e suspirando fundo quando Rasmus entrou acompanhado de Evera, a Sarcedotisa da Fé Vermelha.

— Como eu cheguei aqui? — ele perguntou, rápido.

Rasmus aproximou-se do rapaz, sentou na beirada da cama e baixou a cabeça.

— Isso não importa.

— É lógico que importa eu... eu provoquei a morte de dois inocentes — ele dizia, em desespero. — Eu não controlei o caos.

— O caos não pode ser controlado, amigo — afirmou Rasmus. — Você conseguiu despertar a magia, isso é importante.

— Importante? Eu matei duas pessoas.

— Não se culpe, Calum — Evera lentamente aproximou. — Morgana e Luf foram almas projetadas para ajudá-lo. Você focou, conseguiu acender a chama que tem em você, agora é o momento em que se levanta dessa cama e parte para guerra.

Ele sacudiu a cabeça.

— Não posso. Eu... eu não vou.

— Tessélia caiu há uma semana. Não houve sobreviventes. Mais de duzentas mil pessoas foram mortas. Costa-Ferro caiu, várias vilas e condados ao entorno foram consumidas pela chama e torturadas pela espada do inimigo — Rasmus prosseguiu. — O rei levou seus soldados através da Estrada dos Caídos... quarenta mil soldados, eles irão para Glariong onde estão juntando forças. Nós precisamos chegar lá e ajudá-los!

— Ajudá-los? O rei me mandou para as masmorras de sua cidade, seus homens abusaram de mim, de você, nos tratou como se fossemos lixos, e agora, quer que eu o ajude? Não, eu me recuso a ferir minha honra.

— Se Glariong cair, Enya tomba junto. Griffin, seu amigo, Delfin, que é quase como se fosse um pai para você, também não sobreviverá. Na verdade, nenhum dos seus conhecidos, viverão. É isso que você quer?

As lágrimas já adornavam os olhos azuis de Calum. Ele levantou da cama, as costas nuas, largas, com músculos tensos, caminhou a passos calmos até a janela e de lá viu as árvores que circundavam Elvenear. Ele engoliu em seco, e voltou-se para os dois.

— Minha resposta ainda é não. Não posso lutar contra um inimigo primordial que conhece cada uma de minhas fraquezas... eu... eu não posso, Evera. Me desculpe, Rasmus, mas permaneceremos aqui. Juntos.

— Você é um idiota. Tem poder de sobra, incontrolável e não usa. Tem medo... é cercado pelo medo. Este medo passará a se tornar raiva quando ver o corpo do seu amigo Griffin numa escada e o velho Delfin, retorcido. Então verá que eu tinha razão e que não deveria esperar mais.

Calum permaneceu em silêncio, a cabeça baixa e os punhos cerrados. O quarto estava carregado com a tensão das palavras de Rasmus, ecoando como trovões em meio à tempestade que se formava em seu coração. Evera observava, seus olhos cheios de compaixão, mas também de uma determinação implacável.

— Calum, a magia que você despertou é um dom raro, mas também uma responsabilidade — Evera continuou, sua voz suave mas firme. — O mundo precisa de você, não apenas como um guerreiro, mas como um símbolo de esperança. Sua recusa em lutar não é uma escolha para si mesmo, mas uma sentença para muitos.

Mas Calum deu um passo para trás, sentindo o peso das palavras de Evera esmagando sua resistência. Ele se virou para a janela novamente, contemplando as árvores de Elvenear, os pássaros coloridos agora em silêncio, como se aguardassem sua decisão. A visão do mundo exterior, tranquilo e intocado pelo caos, era um contraste cruel com a guerra que se alastrava além das fronteiras.

Ladar - Sangue & Sacrifício - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora