04 - O Festival da Lua - Parte III

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A aurora do Festival da Lua se erguia sobre Azaban com um brilho resplandescente, banhando a cidade em uma luz prateada que prometia uma noite de celebração e unidade. Era o início da Colheita, um tempo de fartura e gratidão, onde as barreiras sociais se dissolviam sob a bênção da Lua por uma noite. A festa dos nobres, ostentosa e majestosa, começava no castelo. Reis e suas cortes se preparavam aplicadamente, adornados em roupas brancas impecáveis que brilhavam sob a luz suave das lâmpadas que seguravam. Cada lâmpada era um artefato de delicada beleza, esculpida em vidro fino e decorada com símbolos ancestrais que contavam histórias de colheitas passadas e vitórias esquecidas. As damas da corte, em seus vestidos longos e fluídos, deixavam os pés descalços tocarem o chão frio de mármore, guirlandas de flores brancas repousando sobre suas cabeças. Os cavalheiros, em calças justas que delineavam suas formas atléticas, envolviam-se em mantos com capuzes que conferiam um ar de mistério. Enquanto isso, na Baixada dos Mestres, os plebeus se reuniam em antecipação. As ruas estreitas e sinuosas estavam iluminadas por um mar de lampiões, cada um segurado com orgulho pelos habitantes. Os lampiões, menos sofisticados que as lâmpadas dos nobres, tinham um charme rústico e caloroso. As pessoas se vestiam de branco, imitando os trajes dos nobres, mas com uma simplicidade que realçava sua beleza natural. As mulheres, com seus vestidos longos e descalças, adornadas com guirlandas de flores selvagens, moviam-se com graça entre as multidões. Os homens, em suas calças brancas e mantos com capuzes, compartilhavam sorrisos e cumprimentos calorosos. A descida dos nobres do castelo era um espetáculo à parte. Em procissão, eles desciam a colina, trazendo consigo um rio de luzes que serpenteava em direção à cidade. Os plebeus, ansiosos e reverentes, aguardavam essa união temporária, onde as diferenças de classe se apagavam sob o brilho da lua cheia.

A música, uma sinfonia que variava de suaves melodias a ritmos vibrantes, preenchia o ar. Flautas e liras começavam a tocar, suas notas ecoando nas paredes de pedra e nas almas dos presentes. À medida que a noite avançava, tambores e pandeiros se juntavam, incitando a multidão a dançar. Não havia regras, nem distinções; todos podiam dançar com todos, e os amantes podiam se beijar livremente. O amor, em todas as suas formas, era celebrado e encorajado, um lembrete de que, sob a luz da lua, todos eram iguais. Os soldados, liberados de suas obrigações, misturavam-se ao povo, suas armaduras temporariamente substituídas por trajes brancos. Eles também prestavam homenagem à Lua, suas vozes unindo-se ao coro de canções e risadas. Em meio à festividade, era tradição tomar um gole de vinho. Cada copo erguido era um brinde à fartura, à unidade e à prosperidade. O vinho, rico e encorpado, aquecia os corações e unia as almas, selando promessas e sonhos sob o olhar vigilante da Lua.

O Festival da Lua era mais do que uma celebração; era um elo que unia todos os habitantes de Azaban, dos mais altos nobres aos mais humildes plebeus, em um único espírito de gratidão e alegria. Sob o céu estrelado, à luz da lua cheia, dançavam, cantavam e amavam, lembrando-se de que, ao menos por uma noite, todos eram um só.

Calum estava no meio da multidão, perdido em um mar de rostos e celebrações. Em Enya, sempre havia participado das festividades em homenagem à Deusa, sentindo-se inundado pelo espírito daquela que acreditava ser a Mãe de todos. Agora, ao lado de Evera, a Sacerdotisa Vermelha que mantinha seu traje inalterado devido à sua fé, ele a observava sorridente e batendo palmas ao ritmo da música vibrante. Os nobres se agitavam ao som das liras, enquanto, na Baixada dos Mestres, os plebeus dedilhavam violas e sopravam flautas, suas vozes elevando-se em canções alegres. Cole, mesmo dispensado de seus deveres, permaneceu lealmente ao lado de Calum. Como juramentado, sua presença era constante. Aproximou-se do rapaz enquanto Evera se retirava para rezar à Deusa no Templo da Fé Vermelha.

— Está curtindo? — perguntou Cole, observando o semblante pensativo de Calum.

Calum assentiu, mas suas palavras foram medidas.

Ladar - Sangue & Sacrifício - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora