4 - Um caso perdido em alto mar

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Na manhã seguinte, James tomou um banho frio no chuveiro queimado da igreja - o que não foi de todo ruim considerando que o clima de Bergamota cozinhava sua pele como vapor quente - e orou por coragem antes de descer para a casa dos Richter

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Na manhã seguinte, James tomou um banho frio no chuveiro queimado da igreja - o que não foi de todo ruim considerando que o clima de Bergamota cozinhava sua pele como vapor quente - e orou por coragem antes de descer para a casa dos Richter.

Um cachorro branco choramingava numa casa vizinha à igreja, tentando saltar a cerca feito um coelho gigante. O chevette de Artemísia, ainda estacionado no laranjal, refletia a agressividade do sol como uma barra de ouro, ofuscando sua visão enquanto atravessava a estrada.

Além de não estar nem um pouco animado para uma nova rodada do escrutínio orgulhoso de Alma, as expectativas de que Mise o levaria para comprar a geladeira eram tão próximas de zero que já se angustiava com a possibilidade de ter de refazer a jornada até Mondaí a pé.

Fora estúpido por não considerar aspectos práticos como a distância do centro quando aceitara o cargo. Agora, sem carteira de motorista ou transporte público, não tinha escolha a não ser depender inteiramente da providência divina e da boa vontade dos fiéis toda vez que precisasse fazer compras na cidade.

Detestava a ideia de se tornar um fardo para as pessoas a quem deveria servir, sentindo-se como um animalzinho em chamas que, ao fugir de um incêndio, espalha o fogo por todo lugar onde passa.

Ao chegar na residência das fiéis, logo percebeu que não fora o único convidado para o café da manhã.

Na mesa da varanda, uma mulher rechonchuda e de aspecto tristonho aconselhava Neusa sobre a má qualidade dos pães caseiros, sugerindo que ela não deveria deixar a massa fermentar por tanto tempo.

Ofendida e enérgica, Neusa desqualificava seus conselhos afirmando que, mesmo depois de digeridos e defecados, seus pães continuariam sendo mais comestíveis do que a fornada de pedras que a mulher trouxera para o lanche na semana anterior.

Em resposta aos insultos, a rechonchuda apenas franzia a testa e soltava suspiros cansados, enfiando jabuticabas na boca para estourá-las contra a bochecha.

Sem saber o momento apropriado para se intrometer na burlesca cena familiar, James demorou a anunciar sua presença com um bom-dia tímido.

Alma, sentada na cadeira de balanço, apenas ergueu o queixo como os lagartos teiús que vira na estrada, sem se dignar a responder mesmo quando sorriu para ela. Neusa, calorosa, logo aliviou seu desamparo:

— Diiia! Tu chegou bem na hora, senta aí que tu vai ser nosso juiz! — ela deu tapinhas numa cadeira ao seu lado antes de apresentar sua companhia: — Essa bezerra velha é minha irmã Diva.

— James, muito prazer. — Ele apertou a mão dela por cima da mesa e se sentou, ruborizando quando quase derrubou uma caixa de leite com o cotovelo. — Me desculpe.

— Que bom que tu veio, pastor. — Diva puxou conversa educadamente, distraindo-se quando viu a irmã fatiar o pão. — Neusa, não faz isso com o coitado...

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