11- Rum e desejo

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A garoa fria da manhã entrava pela janela que James esqueceu aberta, molhando seu rosto e o travesseiro onde tentava dormir

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A garoa fria da manhã entrava pela janela que James esqueceu aberta, molhando seu rosto e o travesseiro onde tentava dormir.

Seus cabelos loiros começavam a grudar na testa de maneira desconfortável, mas ele não tinha ânimo para se mover.

Desde seu encontro revelador com a pirata na varanda, passou o resto da madrugada se revirando na cama, incapaz de adormecer sob o cobertor pesado da culpa.

Não pretendia se apaixonar por Artemísia, e se sentia um completo hipócrita por inconscientemente ter se aproximado dela sem antes lhe contar a verdade sobre seu casamento.

Só havia acatado o conselho dúbio do pai porque, quando se separou de Rita, estava decidido a permanecer sozinho pelo resto da vida, dedicando-se exclusivamente ao ministério.

Desperdiçara sua única chance no amor com a mulher errada, e por mais que isso doesse, não tinha escolha a não ser arcar com as consequências das próprias decisões.

Precisava se afastar de Artemísia, mas como faria isso se ela invadia a igreja com a mesma obstinação da chuva?

Como iria para a cidade fazer compras sem ter que enfrentar seus debates provocativos no Chevette?

Como toleraria as tardes melancólicas de Bergamota sem o alívio de sua amizade?

Já sentia sede de sua presença, mas temia que no momento em que levasse um pouco de água à boca, seus sentimentos por ela vazariam incontrolavelmente entre os dedos.

Sem escapatória, cobriu a cabeça com o travesseiro úmido para se esconder da face de Deus.

Mesmo sem se sentir digno de orar, implorou para ser liberto da paixão repreensível que, além de atormentá-lo, nutria esperanças de uma felicidade que não merecia alcançar.

Seu coração era como um peixe sufocando no barco de pescadores cruéis, que prolongam sua agonia ao molhar suas brânquias.

A coisa mais generosa que eles podiam fazer era deixá-lo morrer de vez. Explicar-lhe que, por mais que se debatesse e rasgasse o lábio no anzol, jamais conseguiria retornar para a água.

Depois de longos minutos de ruminação, sem conseguir averiguar se suas preces haviam sido atendidas ou não, fechou a janela e se levantou para preparar um café.

De tão tonto de sono, queimou os dedos na porta do forno e derrubou o pote de açúcar no chão.

Enquanto bebia seu café amargo e observava, entediado, as formigas carregarem os cristais de açúcar para um buraco na parede, sobressaltou-se com batidas distantes na porta da igreja.

Seu coração perdeu o ritmo, a xícara tremeu em seus dedos feridos. Não esperava que Artemísia viria tão cedo.

Demorou a sair do quarto, pensando seriamente em fingir que estava dormindo, mas se tranquilizou ao ouvir Diva chamar seu nome.

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