Atormentado pela ruína de seu casamento e pelo silêncio de Deus, o jovem pastor James Wagner aceita a missão de ressuscitar uma pequena capela luterana abandonada no interior de Santa Catarina.
Enquanto luta para ser aceito pela comunidade, por Deu...
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Nas semanas que se seguiram, James se dedicou a realizar estudos bíblicos e visitar algumas famílias de Bergamota para construir um bom vínculo com a comunidade. Ele logo descobriu que Mise havia mentido sobre a quantidade de fiéis luteranos para não ter que lhe dar tantas caronas, e mesmo assim o número real não passava de uma dúzia, incluindo crianças.
Apesar do cenário desanimador, ele tinha a esperança de que, quando a igreja fosse reativada, atrairia pessoas de outras denominações para sua congregação, mas por conta de seu desconforto em pedir dinheiro a uma população tão humilde, a arrecadação de fundos para a reforma andava a passos lentos.
Graças a uma doação generosa de Diva, ao menos conseguiu custear alguns materiais e parte da mão de obra do pedreiro Fernando. Infelizmente, devido a sua inexperiência e mania de tentar ver o lado bom das pessoas, cometeu o erro de combinar o pagamento por diárias e não pela empreitada.
A princípio não entendeu por que Artemísia riu de sua cara quando disse ter contratado o sujeito nesses termos, mas ao longo da obra percebeu que havia cometido um erro.
Interesseiro e infinitamente mais irresponsável do que Mise, Fernando arrastava a reforma propositalmente para faturar em cima da ingenuidade do pastor. Chegava tarde, dormia uma sesta prolongada e encerrava o serviço antes das três da tarde, depois de trocar uma única lâmpada ou pregar duas ripas tortas na parede.
Por respeito à Marta, mãe de Fernando, James demorou a criar coragem para dispensá-lo do serviço.
Quando finalmente o fez, percebeu que ainda se encontrava quase na estaca zero, com a igreja precária e os bolsos vazios. Angustiado com a situação, resolveu ignorar o conselho pessimista da mãe de Miguel e iniciar os cultos independentemente da reforma estar concluída ou não.
Naquela manhã amarelada de sexta-feira, a última de janeiro, ele ainda fazia pequenos serviços no interior da capela para torná-la minimamente receptiva até sua reinauguração no culto de domingo. Estava ligeiramente tonto por conta do vapor de thinner e do calor, mas pelo menos conseguira envernizar o altar e todos os bancos com exceção de um: aquele no qual Artemísia permanecia teimosamente esparramada.
Deitada de bruços com as botas empoeiradas para cima, a pirata trabalhava em um de seus artigos falsificados e cobria o chão da igreja com cinzas dos cigarros. O sol que entrava pela única janela que conseguira trocar fazia seus anéis brilharem, e a lufada do ventilador recém-instalado remexia as pontas de sua bandana vermelha.
Desde a manhã em que apareceu em sua janela, Mise se tornou uma presença tão constante quanto a dos morcegos nas paredes. Traçando uma nova estratégia para fugir de suas obrigações, ela dizia a Neusa que estava ajudando James com a reforma quando, na verdade, só estava lá para atazaná-lo com perguntas filosóficas, torná-lo fumante passivo e consumir sua internet.
Embora fosse exaustivo ter que manter a guarda erguida para não cair em suas furtivas armadilhas verbais, James acobertava as mentiras dela para ter companhia. Seus debates, apesar de irritantes, o distraíam de suas preocupações e por vezes o faziam rir, forçando-o a reafirmar sua fé tanto para ela quanto para si mesmo.
