6- Amor

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Quando a brisa morna da manhã apagou o último fósforo que tinha para acender o fogão à lenha, James apoiou as mãos na chapa de ferro fria e suspirou

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Quando a brisa morna da manhã apagou o último fósforo que tinha para acender o fogão à lenha, James apoiou as mãos na chapa de ferro fria e suspirou.

Havia esquecido de comprar fósforos na cidade, e como os três palitos velhos que encontrou numa gaveta falharam, agora teria que ignorar a dor de cabeça e aceitar que iniciaria o dia sem café.

Embora confiasse no poder de Deus para mudar seu coração, ainda não sabia se suas preces já haviam sido atendidas. Tinha a mente estática e silenciosa depois da noite em claro, e, talvez por conta da exaustão, a imagem mental de Artemísia, com sua atitude zombeteira e falas blasfemas, não lhe causava nenhuma emoção específica.

Não sentia amor cristão por ela, mas pelo menos o ódio descontrolado perdera território em seu peito. Ansiava por se encontrar com ela, em carne, osso e inconveniência, para enfim desembaralhar seus sentimentos.

Não teve de esperar muito tempo para isso acontecer.

Mal se sentou à mesa para estudar uma Bíblia substituta, já que esquecera a pessoal na casa de Miguel, uma sombra escureceu a fonte de luz natural que usava para ler o livro de Salmos. Mesmo antes de olhar para trás, o pico de ansiedade e fumaça branca dos cigarros anunciaram a presença da pirata em sua Janela.

Os olhos dela estavam sombreados pelos resquícios da maquiagem do dia anterior e embora não passasse das sete e meia, já estava fumando. Empoleirado em seu ombro, trazia o papagaio velho e mal-humorado que James reconheceu da foto no corredor.

— Bom dia, pastorzinho. — Ela o cumprimentou com seu sorriso instigador, estendendo-lhe a Bíblia e o catecismo. — Vim devolver seus gibis.

Esperando a raiva aflorar diante da afronta explícita, James se surpreendeu quando ela lhe causou apenas uma leve irritação.

— Bom dia, Artemísia. — Disse em tom neutro, pegando os livros e lhe dando as costas. — Muito obrigado.

Parecendo confusa com sua reação apática, Mise descartou a bituca e comentou com desdém:

— Não é possível que ainda esteja ofendido pelo que eu te disse no riacho.

Ele hesitou antes de responder, tentando interpretar os próprios sentimentos. A menção do episódio lhe causava algo mais parecido com vergonha do que ofensa.

— Eu não estou. — Garantiu baixinho, arriscando: — Na verdade, até te convidaria para tomar um café, mas não tenho fósforos para acender o fogão.

A pirata deu de ombros e pisoteou as brasas que começavam a incendiar o capim.

— Eu posso te ajudar. Trouxe meu isqueiro.

Mesmo incerto sobre a motivação da oferta, James a aceitou. Estava prestes a avisar que iria abrir a porta quando Mise transpôs a janela, as botas de couro colidindo contra as ripas do assoalho. Incomodado com o movimento súbito, Batista bateu as asas para se equilibrar e a xingou.

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