10 - Naufrágio

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Mesmo que as pernas apoiadas no painel do Chevette sugerissem tranquilidade, Mise começava a se aborrecer, e talvez a se preocupar, com o atraso atípico de James

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Mesmo que as pernas apoiadas no painel do Chevette sugerissem tranquilidade, Mise começava a se aborrecer, e talvez a se preocupar, com o atraso atípico de James.

Já eram dez e quinze da manhã, e embora o sol começasse a perder território para as nuvens sombrias, ainda conseguia se infiltrar entre os galhos espessos do laranjal para ferver a atmosfera do veículo.

O único motivo para não ter batido na janela da igreja é que, enquanto ela e Miguel esperavam pelo pastor, aproveitavam a oportunidade para brincar de pirata.

Sentado no banco de motorista com as mãos no volante, o menino imaginava que estava no comando do timão, enfrentando uma terrível tempestade em alto mar.

— Mise, tu acha que o pastor ainda vem?

— Rochedo a estibordo, Rato. — Mise alertou, girando o timão para a esquerda. — Se ele não chegar ao porto até o final da música, partiremos sem ele.

Verificando no rádio que faltavam dois minutos para a canção " Rum", de Alestorm, chegar ao fim, Miguel concordou com entusiasmo, retomando a brincadeira.

Simulando uma colisão, ele fez um chiado explosivo com a boca se jogou dramaticamente contra a porta , gritando:

Casco danificado, capitã! Vamos naufragar!

— Arr! Não é à toa que nunca te deixo no comando! — Mise o repreendeu, despertando uma gargalhada do menino. — Vá soltar o bote salva-vidas, eu assumo o leme!

Miguel saltou do veículo, correndo até o porta-malas. De lá, tirou um engradado de madeira vazio onde Mise estocava seu rum e o empurrou pelo gramado até a prima.

— Pula, Mise! —Ele gritou, sentando-se desajeitadamente no bote de mentira. — O navio está afundando!

Artemísia, que já havia passado para o banco de motorista por dentro do carro, abriu a porta e se atirou para fora, movendo os braços como se estivesse nadando pelo gramado.

A música já havia chegado ao fim, mas resolveu ignorar essa informação e torcer para que Miguel o fizesse também.

Não sabia por que, mas algo lhe dizia que devia essa espera ao pastorzinho em compensação por tê-lo abandonado na rodoviária.

Assim que Mise se agarrou na borda do engradado, tossindo dramaticamente como se houvesse engolido água do mar, finalmente viu James sair pela porta da igreja e correr em sua direção, tropeçando pelas pedras soltas da estrada.

—  Me desculpem pelo atraso. — Ele adiantou-se em dizer, as mãos apoiadas nos joelhos enquanto tentava recuperar o fôlego. — Não sei o que aconteceu, eu apaguei.

Os cabelos dele estavam úmidos e livres de cera, como se não tivesse tido tempo de se pentear após o banho. O olhar parecia desfocado, e as calças ligeiramente amarrotadas contrastavam com seu asseio usual.

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