17- Navegando até o inferno

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Ao final do culto, enquanto os fiéis sonolentos se arrastavam rumo à saída, Diva chamou o pastor em particular para se queixar do estado das bíblias

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Ao final do culto, enquanto os fiéis sonolentos se arrastavam rumo à saída, Diva chamou o pastor em particular para se queixar do estado das bíblias.

Escondido na sombra da mãe, um Miguel cabisbaixo raspava as farpas do assoalho com os sapatos, torcendo para a conversa acabar logo e poder voltar para a cidade.

A vergonha o impedia de olhar para o pastor que, por conta das vestes negras e cerimoniais, nem parecia o mesmo homem que beijou sua prima na floresta.

Miguel sabia que James e Mise eram amigos, e por mais que se alegrasse por seus mentores terem aprendido a dialogar e conciliar suas crenças, jamais suspeitaria que estavam envolvidos romanticamente.

Fora apavorante perceber que Artemísia não era apenas sua prima mais velha, mas uma mulher adulta.

Ela tinha uma vida para além de suas brincadeiras de pirata, e, cedo ou tarde, poderia se cansar dele e abandoná-lo em Mondaí.

Não tinha intenções lascivas quando se escondeu nos arbustos para observá-los, mas como na lenda dos indígenas que não viram as caravelas portuguesas, permaneceu com os olhos vidrados no casal simplesmente por não compreender o que estava acontecendo.

Mesmo sem entender o porquê, aquilo lhe parecia muito, muito errado.

Tudo o que queria era confessar o que vira para a mãe, mas seu código de honra de marujo o impedia de revelar o segredo da prima.

Por mais doloroso que fosse, teria que cortar a própria língua e se deixar engasgar na solidão das mentiras.

Alheio às angústias do garoto, James procurava por Artemísia com o olhar enquanto assentia distraidamente diante das reclamações de Diva.

Agradeceu quando ela se dispôs a montar uma estande de doces pascoais como estratégia de arrecadação de fundos para as bíblias novas, e assim que se desvencilhou das responsabilidades pastorais, saiu à procura da pirata.

Com a esperança de encontrá-la em seus antigos aposentos, como era de costume depois dos cultos, apressou-se pelo corredor escuro.

As roupas clericais queimavam sua pele, e mesmo antes de chegar ao quarto, já havia se livrado delas.

O cômodo estava silencioso e vazio, mas o rastro de cravo e a rosa branca sobre seu travesseiro - certamente roubada do altar - denunciavam que Mise estivera ali.

Com o peito aquecido e um sorriso incontrolável no rosto, ele pegou a flor e se deitou na velha cama, abrindo as pétalas com os dedos enquanto pensava nos lábios de Mise.

Era estranho não se sentir culpado por tê-la beijado, e um minuto de ruminação ansiosa depois, sentiu o corpo gelar com a possibilidade de Deus ter endurecido seu coração.

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