Behind The Shadows (Volume 2)

X

Mephiles passou o dia sendo gentil e me mimando. Eu não conseguia entender a razão daquela súbita mudança. Me incomodava o fato de não conseguir ler a mente dele como ele podia fazer comigo; aquele ouriço era um completo mistério para mim, do início ao fim.

A comida dele estava deliciosa, e eu definitivamente não teria comido se não observasse o preparo, com medo de morrer envenenado de alguma forma. Era esquisito vê-lo tão atencioso, prestativo e cuidadoso. Eu sentia como se ele estivesse a tramar algo, mas o quê?

Já durante a noite, quando a porta deu aquele típico som da chave rodando na fechadura, Mephiles simplesmente desaparece como fumaça, ou talvez tenha ficado invisível como o ar, não sei. Mas ele some no instante que Sonic adentra a casa. Eu me viro no sofá, ansiando pela volta de Shadow, mesmo sabendo que ele chegava mais tarde.

— Oiê! — cumprimenta Sonic assim que me vê o olhando do sofá, o sorriso típico enchendo meu coração de amor.

— Oi, Soso — cumprimento de volta, dando um risinho tímido em seguida. Ele parece curtir do apelido, se aproximando o suficiente para depositar um beijo em minha testa.

— Como foi o dia? — continua ele, seguindo para o andar de cima para tomar um banho, provavelmente. Ainda assim, permaneço no sofá, aumentando apenas um pouco o volume da voz para que ele consiga me ouvir.

— Normal.

Minha mente rodava, sem saber se seria certo contar a ele sobre as mudanças de Mephiles. Isso poderia assustá-lo, e eu ainda não sabia onde Mephiles queria chegar com aquilo, então presumi que, por enquanto, manteria isso somente para mim. Se fosse preciso, eu o contaria de uma só vez, sem hesitar, mas, por ora, tudo estava bem.

— Sério? — pergunta ele depois de um certo tempo em silêncio. Sua silhueta estava parada no alto da escada, me observando com curiosidade. Sonic tinha uma toalha em mãos, e pelo visto estava mesmo indo tomar um banho. — Nada daquele cara?

— Er… — Mordo o lábio, tentando desviar da pergunta. Eu odiava mentir para ele, mas tinha prometido guardar segredo no momento, então iria continuar com isso. — Não. Nadinha.

Os olhos dele me avaliaram cuidadosamente, desconfiados. Me forcei a ficar naquela pose de sinceridade, encarando-o como se estivesse mesmo dizendo a verdade. Depois de alguns poucos segundos, ele concordou com a cabeça, me lançando um sorriso tranquilo.

— Certo! Vou tomar banho, já volto!

Murmuro um "uhum", assistindo-o sumir dentro do banheiro. Como se fosse sua deixa, Mephiles spawna do meu lado no sofá, olhando para o mesmo lugar que eu.

— Fez bem em não contar. — Me viro para ele, prestes a falar, mas ele faz sinal de silêncio antes que um único "A" possa escapar de minha boca. — Ele ainda pode te ouvir. Mas… — Ele aponta para sua própria cabeça, me lembrando da sua telepatia.

Por que fiz bem em não contar?, pergunto a ele em minha cabeça. Minhas suspeitas de seu poder telepático são confirmadas quando ele realmente me responde da maneira certa.

— Se contasse, estragaria a surpresinha que fez pra você amanhã — ele fala tão animado que sinto um calafrio na espinha de medo.

É algo ruim?

— Hum… — Mephiles coça o queixo, pensativo. — Depende do ponto de vista. Mas não é algo mau.

Suspiro, agora realmente temendo o rumo que essa "supresinha" tomaria.

Estava torcendo desde o início que a tal telepatia de Mephiles fosse uma mentira, uma farsa para me assustar. Mas, infelizmente, parece muito real. Ele realmente me tinha comendo na palma de sua mão, e como eu ainda estava medroso em relação a ele — mesmo que fingisse coragem certas vezes —, estava incerto do que isso acabaria se tornando futuramente.