II

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Calmamente, Mephiles apertou o gatilho. A arma não disparou. Ele não parecia nada preocupado com a ideia de morrer, ao contrário de mim, que tremia incontrolavelmente, preso em seus tentáculos escuros.

Apontando a arma para minha cabeça, prendi a respiração, pedindo mentalmente que colaborasse comigo e não disparasse justamente em mim. E quando ele apertou no gatilho mais uma vez, nada aconteceu.

Expeli o ar de meus pulmões, aliviado por ainda estar vivo. Mas ele era imparável. Mephiles voltou a pôr o objeto na sua direção, clicando naquele maldito gatilho. Eu fechei os olhos, esperando ouvir um tiro alto, mas tudo que ouvi foi um...

- Boom! - zombou ele, parecendo se divertir em me ver tão amedrontado. Em me ver tendo a vida em suas mãos.

Eu voltei a cerrar os olhos quando voltou a encostar o cano frio de metal contra minha testa, novamente testando nossa sorte. Suor escorria pelo meu rosto, meu peito subia e descia feito um doido, meu coração por pouco não saltava de sua caixa torácica. Eu tinha cinquenta por cento de chance de viver, assim como tinha cinquenta por cento de chance de morrer. Algo em meu âmago afirmava que, dessa vez, seria meu fim. A arma não surgiu efeito em três vezes de disparos, agora provavelmente ela atiraria aquela bala em mim, atravessaria meu crânio e me mataria em um único golpe.

Abrindo brevemente um dos olhos, prendi a respiração ao notar o dedo de Mephiles sobre o gatilho, o apertando lentamente, como se também soubesse que agora acabaria para mim. Eu já dizia minhas últimas palavras mentalmente, segurando a todo custo as lágrimas que ameaçavam jorrar, forçando o corpo inutilmente a sair das garras do ouriço esquisito que me prendia consigo em uma tortuosa brincadeira estúpida.

Só mais um pouquinho para trás no gatilho e aquela coisa faria um furo em minha testa...

Mephiles se afastou brutalmente quando um barulho de chaves ecoou do lado de fora da porta. Seus olhos estavam arregalados de horror, guardando a arma o mais rápido possível. Ele finalmente me soltou, e fraco como estava, desabei ao chão, arfando, quase asmático. Rapidamente, voltou a se transformar naquela espécie de gosma negra, saindo pelo mesmo lugar que entrou numa velocidade impressionante: a fresta da janela.

E, assim que ele sumiu de minha vista, Sonic adentrou a casa animado, uma sacola cheia de coisas cheirosas em suas mãos. Ele não pareceu me notar, voltando a trancar a porta do lado de dentro. Quando se virou em minha direção, a sacola caiu de suas mãos, correndo até mim.

Era simplesmente o Sonic, eu não precisaria mais me conter.

E eu não me contive. Lágrimas que tanto segurei caíram gordas de uma só vez dos meus olhos úmidos, soluços e suspiros me impedindo de falar qualquer coisa. O garoto não parecia entender o que acontecia, agarrando-se a mim em um abraço lateral.

- Silver, o que aconteceu? - questionou ele, preocupação audível em sua voz.

Não, gritou meu subconsciente, não conte a ele.

Eu não poderia mesmo contar. Estávamos ótimos há muito tempo! Afirmar que uma ameaça chegou para me atanazar era como dizer que nossa paz já era. Nossas vidas voltariam a ser calculadas, temerosas, misteriosas.

Eu precisaria lidar com isso sozinho. Era comigo que Mephiles estava brincando, então apenas eu precisava me preocupar. Eu não meteria nem Shadow nem Sonic nisso, não os deixaria entrar em mais um show de horrores que colocaria suas vidas em risco.

E então eu percebi, fitando de soslaio o relógio na parede: como Sonic estava em casa se não eram nem duas da tarde ainda?

- O que você faz aqui tão cedo? - Minha voz saiu embargada e anasalada, me obrigando a fungar para conseguir puxar pelo menos um pouco de ar para dentro. Sonic, ainda preocupado, olhou meu rosto inchado do choro, sem tirar os braços do meu redor. Por algum tempo, ele ficou avaliando minha expressão, sentindo a tensão acumulada em meu corpo, antes de finalmente responder, dócil.

Behind The Shadows (Volume 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora