XVIII

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Abro meus olhos lentamente, tentando ajustar minha visão à claridade do local. Meu corpo, ao mesmo tempo em que se encontrava dolorido, estava confortável em um sofá amarelo com tecido supermacio. Era como se eu tivesse saído direto do inferno e caído numa nuvem fofinha.

Com cuidado, me sento no sofá, resmungando baixinho por conta da tontura. Porém, antes que pudesse realmente me sentar, mãos gentis tocam meus ombros, me forçando a deitar novamente. De certo modo, eu agradeci a ajuda.

— Você não pode levantar — profere uma voz gostosa em meu ouvido, uma voz tão conhecida que fez meu âmago se contrair de felicidade.

Meus olhos encontraram os dele, e tudo que mais temia evaporou como se nunca tivesse existido. Ele parecia preocupado comigo, mas encolerizado simultaneamente. Isso me deixava hesitante, temendo falar a coisa errada. Mas, ainda assim…

— Você voltou… — murmuro, um sorriso brotando em meus lábios. Mephiles suspira, soltando meus ombros e se afastando com passos largos. Ele para do outro lado da sala, cruzando os braços e se recostando contra a parede.

Só então dou uma boa olhada no local. Não fazia ideia de onde estava, mas tinha a impressão de que não havia deixado a base de Knuckles e Tails. A mistura de amarelo e vermelho, assim como pôsteres de super-heróis (que definitivamente não deveriam estar ali) e algumas ferramentas e robôs, não me faziam duvidar.

Mephiles não disse mais nada, me encarando com aqueles seus olhos profundos sem mover um músculo de onde estava. Sua expressão era neutra, mas a confusão e vergonha que eu sentia definitivamente não vinham de mim.

— Eu sei o que você é — falo para ele, ajeitando minha postura para ficar sempre a vê-lo. — E eu não tenho medo. Não quero que você vá embora. — Ele ergue as sobrancelhas, como se duvidasse do que eu dizia. Suspiro, calculando minhas próximas palavras. — Se você veio pra me fazer companhia, não tenho porque voltar a ser sozinho. Eu não só quero você, eu preciso de você.

Por mais alguns segundos, ele não disse nada, seus olhos brilhando naquele tom que eu já conhecia tão bem. Derrotado, ele desvia o olhar, os braços ainda cruzados.

— Não era essa a forma que eu queria que você descobrisse, mas… Bom, já foi.

Eu rio, e incrivelmente sou acompanhado por Mephiles. Quando o silêncio volta a pesar, sua expressão muda, parecendo enfim notar o porquê de eu estar atirado num sofá.

— Escuta aqui — sua voz grave me faz encolher, mordendo os lábios nervosamente. — Por que caralhos você não comeu?!

E então eu finalmente percebo: estava desde ontem sem comer.

— Ah… — Engulo em seco, sem saber como responder. — Eu fiquei preocupado que você teria ido embora…

Ele bufa, apertando a ponta de seu nariz com desgosto. Faço um biquinho inocente, esperando que isso o fizesse ser menos cruel nas palavras.

— Só… não faça isso de novo, ok?

A simplicidade daquilo me pegou desprevenido, e simplesmente aceno positivamente, agora sentando de verdade no sofá. Ele não me impede desta vez.

— Desculpa. Eu não percebi.

Ele também acena com a cabeça, guardando seus pensamentos para si. Eu o observo com curiosidade, tentando decifrar o que ele sentia perante o ocorrido.

— Você também desmaiou?

Sem rodeios, ele responde diretamente:

— Sim.

— Então, como você está tão acordado agora?

Seus olhos me encaram como se a resposta fosse óbvia, mas isso não o impede de dizê-la mesmo assim.

Behind The Shadows (Volume 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora