XV

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Assim que abro a porta de casa, escuto as vozes de Sonic e Shadow em uma espécie de briga. No momento em que iria interferir, meu nome é proferido, a curiosidade falando mais alto e me fazendo silenciar para ouvir.

— É sério, você não pode contar — dizia Sonic, praticamente implorando.

— Mas o Silver precisa saber! É sobre ele! — Shadow rebate, os braços cruzados sobre o peito.

— Eu sei que é, mas não podemos arriscar — continua o azulado. — Se contarmos antes de termos o consentimento, vai saber o que Mephiles pode fazer com ele.

Dou um passo para trás com a menção ao nome de Mephiles, assustado com as palavras. Ele, por sua vez, já havia sumido sorrateiro, como sempre.

— Ah, por favor, ele não vai fazer nada — zomba Shadow, virando o rosto na direção da porta, onde eu estava. Ele salta para trás com o susto de me ver ali. — Silver! Oi!

— Silver? — pergunta Sonic, olhando para a mesma direção que Shadow. Seus olhos se arregalam instantaneamente e sua postura briguenta muda para nervosismo. — Aah, Sil! Há quanto tempo você tá aí? — Sua risada nervosa não passa despercebida. Eu poderia facilmente fingir que não ouvi nada, mas não queria apenas deixar isso pra lá.

— Tempo suficiente pra saber que vocês estão falando de mim às escondidas.

Sonic engole em seco alto até demais, as bochechas vermelhas de vergonha. Ele não parecia saber o que dizer, as mãos imparáveis.

— É claro que não! Por que faríamos isso?

— Eu — Shadow intervém — não tenho culpa. Sinceramente, por mim você já saberia desde o momento que eu soube.

— Mas não podemos contar! — mais uma vez, Sonic resmunga, olhando de mim para o outro com preocupação. — Acredita em mim, é pelo seu próprio bem.

— Já sei, já sei — o corto, já cansado de ouvir sempre a mesma coisa. — Na hora certa eu vou descobrir, blá-blá-blá.

Ambos concordam com a cabeça, envergonhados. Com um suspiro, fecho a porta atrás de mim e sigo na direção do quarto, a fim de simplesmente me atirar na cama com a cabeça enfiada no travesseiro. Porém, enquanto subia os últimos degraus da escada, a voz de Mephiles pausou meu caminho.

— Eu posso te mostrar um pouquinho do que você quer.

Eu paro quase imediatamente, me virando para ele. O ouriço estava mais uma vez com metade do seu corpo transformado naquela gosma estranha, que escorria nos degraus que ele já havia usado. Uma de suas mãos agarrava o corrimão, e outra se misturava à geleia de jabuticaba do chão.

— Como? — é tudo que pergunto, evitando mostrar o quanto aquilo me deixava animado e curioso. Mephiles ri com a pergunta nada sutil, demonstrando perceber a verdade por trás da falsa normalidade.

— Amanhã. Amanhã retornaremos à delegacia e você terá um gostinho do que está vivendo sem saber.

Quando abro a boca para perguntar mais, seu corpo inteiro derrete, escorrendo para algum lugar da casa que não conseguia ver de onde estava. Assim que deixo de avistar Mephiles, Sonic aparece lá de baixo, parecendo tímido. Eu levanto uma sobrancelha, esperando pela sua fala.

— Posso te contar uma coisa?

— Finalmente — murmuro, descendo os degraus que antes tinha subido. Paro o suficiente para ficar mais alto que ele, obrigando-o a elevar a cabeça.

— Essa noite, eu… eu conversei com o Mephiles.

Suspiro exasperado, sem esperar por essa confissão. Sonic não me deixa falar, continuando:

Behind The Shadows (Volume 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora