XI

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A faca afiada nas mãos de Mephiles brilhava na luz que passava em vãos pelos prédios à volta. Eu não sabia o que fazer ou falar, qualquer movimento poderia incitar o ouriço a utilizar aquela lâmina. Não importava quem era a mulher ou o que ela tinha feito, não queria o pior pra ninguém. Não queria machucar ninguém. E de forma alguma deixaria que Mephiles fizesse aquilo por mim.

- Escuta, você não precisa fazer isso - começo, levantando as mãos calmamente para que não parecesse ameaçador.

- Não, mas ela merece - vociferou ele, os olhos cravados na moça. Eu a miro de soslaio, um pouco confuso por ela nem prestar atenção em Mephiles e estar com uma expressão tão assustada olhando para mim. - Depois de tudo que ela fez você passar, depois de tudo que ela fez você fazer... Não vejo por que ela não mereceria a morte.

- Eu não me importo com isso! - grito, percebendo meu erro só depois de dizê-lo. Porém, nada mudou, e Mephiles não mexer um músculo. - Esquece ela, eu não tenho mais ressentimentos. Aliás, quem é ela? - Rio após a pergunta, tentando parecer casual. O ouriço deu um passo à frente. - Olha! - Pulo até ele, bloqueando a passagem até a mulher. - Eu nem me lembro o nome dela! Nem somos parecidos! - Finalmente, atraio sua atenção, que levanta uma sobrancelha em zombaria. - Tá bom, até que somos, sim. Mas não importa! Larga isso, ok?

Por um mísero segundo, consigo perceber sua expressão forte desabar, considerando minhas palavras. Eu respiro aliviado, mas antes do tempo. Ele rapidamente retorna à raiva, marchando com a faca nas mãos. Me encolho no instante que ele para à poucos centímetros de mim, esperando o pior. Mas...

Os braços dele envolvem meu corpo, e me surpreendo com o abraço repentino. Eu não soube distinguir o que, ou por que, ele fazia aquilo. Mesmo assim, me deixei levar, sentindo seu aroma amadeirado pela primeira vez. Era um abraço gostoso, reconfortante. Por pouco me esqueci da arma afiada que estava com ele.

Quando ele achou suficiente, me soltou com delicadeza, olhando brevemente nos meus olhos antes de me empurrar abruptamente para o lado e continuar seu caminho na intenção de atacar a moça.

- Não! - Num impulso, me atiro em sua direção, agarrando a sua mão. Ele revida, tentando me empurrar mais uma vez, mas uso de toda minha força para não soltá-lo. Mephiles se mexe de um lado para o outro, rosnando algumas palavras que não consigo compreender pela adrenalina. Enfim, a faca acerta meu braço, onde um corte fino aparece. Com o susto, caio para trás, apertando o corte com a mão para que não sangre.

Demoro a perceber que, assim como eu, um corte idêntico surge no exato lugar onde o meu estava, só que em Mephiles. Sua faca agora estava caída ao chão, manchada com o sangue tirado de mim. Ainda que cortado, ele me olhou com um misto de culpa e julgamento, como se dissesse que o culpado foi ele, mas fui eu também.

- Como? - questiono, e não preciso falar mais nada para que Mephiles saiba ao que estou me referindo.

- Eu disse, Silver. Estamos conectados. Se você se machucar, eu me machuco.

Eu nego veementemente com a cabeça, tentando fazer com que aquilo parecesse menos real, mas nada mudava. O sangue de Mephiles continuava escorrendo em gotas gordas para o chão da rua, e o meu continuava manchando minhas luvas brancas.

A dor aguda me preenchia, a adrenalina finalmente indo embora. Apesar de Mephiles dizer que também sentia, ele parecia alheio àquilo, pegando da calçada a faca que deixou cair. A mulher parecia cansada de ver aquele teatro todo, pois me lançou um olhar de desdém, antes de sair dizendo:

- Vai no psicólogo, você tem problemas.

Encaro-a até que suma de vista, confuso com tudo o que havia acabado de acontecer. Eu me levanto pouco depois, olhando Mephiles na expectativa de receber explicações.

Behind The Shadows (Volume 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora