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  Desconhecido

(4 anos atrás)

  

  Não sei se foi uma boa ideia vir pra casa na floresta dos meus pais agora de noite, mas eu só queria um pouco de paz depois de me formar. A faculdade de medicina é uma loucura e eu nem acredito que eu consegui completar.

  Mês que vem eu vou começar a trabalhar no hospital do meu pai, e eu sei que a pressão vai ser triplicada, por isso eu vim pro meu refúgio pessoal, sempre que eu tô precisando descansar eu venho pra cá.

– Acho que eu tô chegando, merda por que eu fui inventar de vir pra cá de noite? Não Jeff, você é um sabichão, conhece o caminho como a palma da sua mão e agora tá perdido. Que ótimo! - resmungo revoltado com a minha própria burrice.

   Ando mais um pouco e a merda da lanterna começa a falhar, agora pronto, o que de pior pode acontecer comigo agora?

– Merda! Que barulho é esse agora? - olho ao redor assustado com a possibilidade de ter algum bicho por aqui.

– Humm... - ouço um resmungo de dor baixo, acompanhando de um choro.

– Oh porra, será que tem fantasma por aqui? - tentei deixar pra lá e continuar o meu caminho, mas outro gemido foi ouvido e a minha curiosidade falou mais alto como sempre.

  Caminhei em direção ao barulho que vinha de umas árvores à frente.

– Caralho, que merda é essa?! - tinha um cara morrendo na minha frente e não faço idéia do que fazer. – Garoto, pelo amor de Deus da onde é que você saiu?

– Humm... Phee... Me ajuda... - ele tava delirando, seu corpo queimava em febre e ele estava muito machucado, se ele continuar aqui provavelmente não vai passar dessa noite.

– Olha, eu vou te ajudar tá legal? - nem eu sei o que eu tô fazendo, mas deixar ele aqui não é uma opção, não posso deixar uma pessoa pra morrer.

  Consegui pegá-lo no colo, ele era muito leve e eu acredito que esteja extremamente desnutrido e desidratado, graças a Deus eu avistei a minha casa um pouco mais a frente.

  Assim que entrei, coloquei o garoto deitado no meu sofá, fui tentar examiná-lo pra ter uma noção de como estava a situação dele.

  Nem me espantei quando percebi que tinha três costelas quebradas e muitas outras partes fraturadas.

– Quem... Quem... - ele acordou assustado.

– Eii, relaxa! Eu sou médico tá certo? Não vou te fazer mal. Você tem que ir pra um hospital. - ele ficou inquieto, como se o que eu tivesse dito fosse assustador.

– Não... Não posso, eles vão me matar. - logo depois ele apagou.

  Não sei o que eu devo fazer nessa situação, uma coisa é certa, eu não posso negar socorro pra uma pessoa no estado em que ele está.

  Lavei o seu corpo com delicadeza e fiz alguns curativos, sua respiração estava fraca e sua frequência cardíaca se encontrava da mesma forma.

– Dá onde você veio, garoto? De quem você tá fugindo? - sussurrei perto dele enquanto ele descansava.

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  3 semanas depois

  Ele continua dormindo, seus ferimentos aos poucos foram cicatrizando e revelando um rosto lindo, me aproximo reajustando o soro que está aplicado em sua véia.

  Sinto os seus dedos se mexendo, acho que enfim ele vai acordar, mas infelizmente parece que ele não quer.

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   1 mês depois

  Era pra eu ter voltado na semana passada pra começar no hospital, mas eu consegui convencer o meu pai a me dar mais um tempo de férias, se ele soubesse o que eu estou fazendo, com certeza iria me dar o maior esporro possível, mas agora eu não estou me importando muito com isso, ontem a noite ele finalmente acordou, ele ainda tá fraco e parece desnorteado, não se lembra do seu nome e nem de onde veio, mas pelo menos agora ele tá melhor do que quando eu ó encontrei.

– Oi garoto, como está se sentindo hoje?

– Eu estou melhor, eu acho. Obrigado por está cuidando de mim.

– Tudo bem, você ainda não consegue se lembrar o seu nome ou quem tava atrás de você?

– Não faço ideia, não consigo me lembrar de nada, eu tento, mas dói. - ele coloca a mão na cabeça em sinal de dor.

– Eii, calma, tá tudo bem. Você passou por um trauma muito grande, você tinha várias hematomas na cabeça, isso deve ter contribuído pra sua amnésia, não se esforça demais, vai no seu tempo. - coloco minha mão sobre a sua cabeça. Seus olhos são encantadores, ele é tão... O que eu tô dizendo? Tá doido Jeff Satur? Você nem conhece esse garoto, ele pode ser um bandido e você tá aí todo emocionadozinho, tenha dó né. – Eu vou preparar alguma coisa pra você comer, você precisa se alimentar direito, qualquer coisa é só me chamar.

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  5 meses depois

  Eu tive que retornar à cidade pra assumir o meu posto no hospital, deixei o Code na cabana na floresta, mas todo final de semana eu vou até lá. Code foi o nome que decidimos que ele iria ser chamado, infelizmente ele ainda não lembra qual é o seu verdadeiro nome ou de onde ele veio, provavelmente algo está bloqueado essa memória, não vejo motivos pra essa perda de memória por tanto tempo, acho que o trauma que ele sofreu empurrou as lembranças de sua vida pra bem longe.

  Ele é um menino muito doce, o medo que eu tinha que ele fosse alguém ruim se foi a muito tempo, a cada conversa que temos eu sinto que ele sem dúvidas é a melhor pessoa que eu já conheci. Dei um telefone pra ele, pra saber como ele está, ele ainda está em recuperação e deixá-lo na casa da floresta sozinho, sem dúvidas foi umas das decisões mais difíceis que eu já tive que tomar.

  Ligação on

Eu tô bem Jeff, não precisa se preocupar. - ele fala pela vigésima vez.

– Code, você sabe que eu não gosto de te deixar sozinho, você ainda não tá muito bem.

– Eu sei, mas qualquer coisa eu ligo pro meu herói de jaleco vir me socorrer. - dou uma risada com a sua fala.

– Assim eu espero meu paciente impaciente.

  Ligação off

   Sinto o meu coração quente toda vez que eu falo com ele, sei que eu não posso tá me iludindo assim, mas é difícil com o Code ou seja lá qual seja o nome verdadeiro dele.

Sempre será você...Onde histórias criam vida. Descubra agora