MAX ESPEROU até que Helena e Lívia estivessem do lado de fora para se voltar para Dorian, questionando:
— É impressão minha ou Helena estava um pouco incomodada?
— Provavelmente ela já desconfia que contei tudo a Lívia. Deve estar me estrangulando por pensamento. – Respondeu Dorian.
— Pelo pouco que conheci de sua irmã, garanto que logo passará. – Opinou Melina. Se sentando no sofá, voltou a questionar, desviando do assunto – Como você está? Pela tarde me pareceu um pouco perturbado.
Antes que Dorian pudesse responder, Max se lembrou do que Melina havia lhe relatado sobre o encontro com Thomas Belmok, e tomada pela curiosidade, agarrou o braço de Dorian e o arrastou até o fazer se sentar sobre o sofá, ao lado de Melina, enquanto se plantava em frente a ele com sua típica postura austera.
— Mas primeiro você vai me contar exatamente tudo sobre esse seu envolvimento com Thomas Belmok. Como assim você conhece um príncipe?
— Pensei que Melina já tivesse contado tudo.
— E contou, mas ainda não entendi como um príncipe estrangeiro foi parar em um colégio interno para onde eram mandados os piores espécimes de ralé.
Ainda com o semblante neutro, não demonstrando nenhuma expressão com aquela fala de Max, Dorian permaneceu mudo por alguns segundos, apenas para emendar uma frase em seguida:
— Ai. Essa doeu.
— Me desculpe, vou reformular minha frase.
— Não precisa, Max. Até porque não há outra forma de descrever aquele colégio. Mas era o único longe o suficiente da sociedade para que não tivéssemos contato com ninguém a não ser os professores. E por isso fomos presenteados com a presença da realeza.
Ainda incrédula com aquela história, Max se atirou no sofá, entre Melina e Dorian, ignorando a pontada que sentiu na barriga.
— Uau... isso sim foi surpreendente. Existe alguém na face da terra que você não conheça?
Aquela era a segunda vez que Dorian escutava a mesma pergunta, começava a se questionar se Melina e Maxine dividiam o mesmo neurônio. Entediado, acabou se levantando do sofá e caminhando na direção da cozinha novamente.
— Vocês duas já foram mais criativas em suas perguntas.
Notando o tom ainda abatido de Dorian, as duas se levantaram apenas para se aproximarem mais dele e se acomodarem nos bancos que ficavam em frente ao balcão.
— Dorian, eu estou realmente preocupada com você. Não está no estado normal, está quieto demais. – Disse Melina – A conversa que teve com a Lívia foi tão ruim assim?
— Não foi apenas a conversa, Mel.
— O que foi então? – Questionou Max.
Deixando um suspiro cansado escapar, Dorian se virou para elas, mas não respondeu de imediato, apenas caminhou na direção da sala, pegando o notebook que havia ganhado da agência e conectando o pen drive que Thomas o havia dado. Acessou e abriu o arquivo que desejava e virou a tela para que as duas pudessem ver o conteúdo. Se recostou na pia, apenas esperando que elas se pronunciassem, enquanto seus olhos corriam rápidos pela tela.
— Quando disse que conhecia alguém de alto escalão se referia a Thomas Belmok, não é mesmo? – Perguntou Max.
— Sim.
— Logo vi, ele tem acesso a muitas informações. Tantas que eu nem mesmo imaginava poder encontrar.
— Ele conseguiu achar a árvore genealógica completa dos Norev. Corbeau está nela, junto com seus filhos.
As duas ergueram os olhos para Dorian, o questionando silenciosamente, enquanto ele revirava os olhos e descruzava os braços, desmanchando a postura austera que havia tomado.
— Não, eu não estou nela. Lembrem-se que até pouco tempo ninguém sabia que eu era filho dele.
Sem dizerem nenhuma palavra, as duas voltaram a ler silenciosamente todo aquele relatório e levantamento de dados, enquanto Dorian se sentia estranhamente ansioso pela opinião delas. O silêncio tenso que havia tomado o lugar foi quebrado quando Max deu um pulo no banco onde estava sentada, arregalando tanto os olhos que pareciam que saltariam de suas órbitas.
— Você pertence a uma linhagem real! – Bradou ela, alto demais.
Enquanto Melina permanecia sentada, com os olhos cravados na tela do notebook e parecendo incrédula demais para demonstrar qualquer sentimento, Max praticamente saltava eufórica em seu lugar, falando tão alto que até mesmo os moradores do prédio vizinho poderiam ouvir.
— Você... você vem de uma linhagem de reis, Dorian. É um nobre!
— Não, não sou. Isso foi há muito tempo, Maxine, quase não há registros sobre essa época.
— Você por acaso conhece a frase: Quem já foi rei nunca perde a majestade? Pois então, ela se encaixa perfeitamente aqui. E se os registros constam que os Norev ocuparam o trono de Mount, então eles ocuparam o trono de Mount. Quem sabe você pode até reivindicar algo.
— Max, você por um acaso leu o resto da história deles e o que aconteceu exatamente? Foram praticamente expulsos e foi por isso que vieram parar aqui. Sem contar o péssimo histórico de violência. E caso não esteja lembrada, essa família foi lançada no esquecimento da história e viraram criminosos, a maior prova disso é meu pai ser o criminoso mais procurado do país. Acha mesmo que vou ser maluco de mostrar meu rosto reivindicando algo em nome de uma família falida?
— Não seja tão rabugento, você pode mudar o curso da história e está com a oportunidade em suas mãos. Pelos céus, você é uma princesa, Delyon, se recomponha!
Dorian até tentou esconder a risada que subiu por sua garganta, mas foi praticamente impossível, o som reverberou por todo o galpão, enquanto Melina sequer fizera questão de esconder a própria risada. Dorian sabia muito bem que Max dissera aquela última frase com a única intenção de provocar, mas admitia que aquilo havia surtido um efeito muito positivo em si mesmo, e feito toda a tensão que se encontrava se esvair.
Até aquele momento não havia notado o quanto estava sobrecarregado e nervoso com tudo o que vinha acontecendo nos últimos tempos. Havia se esquecido de como era viver levemente, enquanto apenas fazia comentários sarcásticos e ignorava assuntos sérios.
Talvez aquilo fosse sinal de amadurecimento de sua parte, não poderia ignorar o mundo ao redor para sempre, mas talvez também devesse se acalmar um pouco, ele não resolveria seus problemas de um dia para o outro. Principalmente porque ao que parecia, seus problemas estavam relacionados a uma família problemática que atravessava séculos sem que nada houvesse mudado.
Suspirando e deixando os ombros caírem relaxados, ele puxou um banco e se sentou de frente para as duas, do outro lado do balcão, e abrindo um sorriso tranquilo, respondeu:
— Talvez tenha razão. Prometo pensar nisso mais adiante, mas por enquanto, ainda temos um caso para resolver.
Não era novidade para Melina a determinação de Dorian naquele caso, mas ela não estava disposta a deixá-lo se afundar novamente. Inclinando-se para o lado, apenas para se aproximar de Max, disse alto o suficiente para que Dorian também ouvisse:
— Acho que aquela explosão afetou alguma coisa na cabeça do Delyon, você não faz ideia de como ele está aplicado nesse caso.
— Talvez ele tenha perdido a personalidade dele. Já houve raros casos de pessoas que bateram a cabeça e se tornaram completamente diferentes do que eram. – Debochou Max.
Ao que parecia, naquele dia as duas agentes estavam muito dispostas a provocá-lo, e o pior de tudo aquilo era que Dorian não poderia nem mesmo se queixar, porque fora justamente ele que inspirara aquele tipo de personalidade nas duas. Chegou à conclusão de que definitivamente deveria parar de ensinar seus truques e deboches para as pessoas. Tudo sempre se virara contra ele próprio.
— Engraçadinhas. Fiquem vocês sabendo que sempre tive um monte de personalidades, uma para cada pessoa. Dependendo do tipo de golpe que aplicava. E dessa vez vou assumir a personalidade de Thomas Belmok.
— Essa eu pago para ver. – Resmungou Max.
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Carte Rouge - Carte Ás 2
DiversosSérie: Carte Ás "Você é livre para praticar suas ações, mas lembre-se que elas vêm acompanhadas de seu preço." Dorian nunca pensou que ser consultor dos federais poderia lhe causar tantos problemas, admitia sem medo algum que sua vida era muito mais...