24| Quando o plano cai - Parte 1

9 3 0
                                    

AINDA SENTIA o corpo todo tremer, não sabia se era pela emoção que o abalara, ou por ter se forçado a permanecer em seu personagem, sem dar um passo para fora. Enquanto caminhava em direção ao banheiro, passando pelo meio das pessoas, e tentando esconder a chave dentro da palma de sua mão para que os agentes que o escoltavam não a vissem, Dorian continuava tentando se concentrar, e sua mais recente preocupação era como conseguiria tirar um molde daquela maldita chave.

Não poderia simplesmente surrupiá-la, mais cedo ou mais tarde o senador iria perceber, e sem dúvida entraria em desespero. Qualquer que fosse os segredos que ele guardava, deviam ser graves o suficiente para ele levar a chave consigo, se ele percebesse o sumiço dela, talvez trancasse os segredos para sempre, talvez os movesse de lugar, ou talvez ficaria mais paranoico e redobrasse a segurança, o que dificultaria e muito a missão.

Seus pensamentos foram interrompidos quando sentiu a mão de um dos agentes pousando sobre seu ombro, pouco antes de adentrar o banheiro.

— Espere só um segundo, alteza, vamos vistoriar primeiro. – Soou a voz grave de um deles.

Revirando os olhos, ele permaneceu em seu lugar aguardando até que os dois agentes que haviam adentrado saíssem e lhe permitissem a entrada.

Dorian tinha que confessar que já vira muitos banheiros luxuosos pela vida, mas aquele superava todos. O ambiente era extremamente limpo, o chão de porcelanato era de um branco imaculado, permitindo até mesmo ver seu reflexo, a pia feita de mármore branco, abrigava um enorme espelho acima de si, que percorria toda a parede, parecendo deixar o cômodo maior. Os mictórios estavam um pouco mais isolados, escondidos por uma parede de mármore igualmente branco, enquanto três cabines se distribuíam, mas o que mais chamou a atenção de Dorian, foram as paredes decoradas com tons de ouro e o lustre pendurado no teto.

Para que tudo aquilo para um simples banheiro?

No entanto, agradeceu aos céus por toda aquela frescura que via, porque aos fundos do banheiro, bem próximo a última cabine, havia uma pequena mesa, com toalhas brancas enroladas e meticulosamente empilhadas sobre ela, ao lado uma bandeja de prata abrigava um aromatizador, juntamente com alguns pequenos sabonetes bem perfumados. O alvo de Dorian eram justamente os sabonetes.

Caminhou lentamente na direção que desejava, e se inclinando ligeiramente para o lado, como se inspecionasse a última cabine, apanhou disfarçadamente o sabonete e o enfiou dentro da manga do paletó. Notando que um dos agentes estava perto demais, voltou os olhos cheios de monotonia e disse:

— Vai entrar comigo na cabine também?

Vendo que o agente havia recuado diante da rispidez, se apressou em entrar e trancar a porta. Tomou a chave entre os dedos e rapidamente a apertou contra o sabonete, fazendo pressão o suficiente para afundá-la, tirando o molde exato dela.

Tomando todo o cuidado para não estragar o molde, retirou a chave e a limpou em suas próprias roupas, tomando o cuidado de esconder o sabonete e a chave dentro dos bolsos da calça.

Fingiu dar descarga e saiu tranquilamente da cabine, se encaminhando para a pia, onde lavava as mãos sem pressa alguma de voltar para o salão. Terminava se secá-las com uma das toalhas que ali estava, quando sentiu algo se encostar em sua nuca e a voz grave de um dos agentes que o escoltava soar:

— Não faça nenhum movimento brusco, alteza.

Ainda com a cabeça baixa, Dorian ergueu somente os olhos, mirando o reflexo no espelho logo à frente e notando que estava com o cano de uma arma encostado diretamente em sua cabeça, atrás dele o agente permanecia firme, a segurando, enquanto os outros três permaneciam na porta, a guardando.

Carte Rouge - Carte Ás 2Onde histórias criam vida. Descubra agora