UM TEMPO depois, Melina resolveu colocar seu treinamento em prática quando viu Dorian se dirigir para a cozinha novamente. Se esgueirou silenciosamente atrás dele e esperou até que estivesse distraído fazendo seu chá. Se aproximou por trás dele, fazendo movimentos lentos e silenciosos, aproveitando-se da posição que ocupava às suas costas. Levou a mão lentamente ao bolso dele e de lá tirou o celular vagarosamente, pensou até que teve bom êxito quando começou a se afastar, porém, logo sentiu a mão de Dorian agarrar seu cotovelo e os olhos dele lhe lançarem um olhar entediado, enquanto ele estendia a mão pedindo o celular de volta.
— A tentativa foi boa, mas senti você tirando o celular do meu bolso. Precisa ser mais rápida.
Melina não disse nada, apenas devolveu o celular e saiu da cozinha revirando os olhos. Não desistiria tão fácil, Dorian havia a subestimado quando simplesmente lhe desafiou a roubar o celular, certamente ele pensava que ela não era capaz, mas estava disposta a mostrar que ele estava muito enganado. Passou anos estudando o perfil dele, aquilo deveria servir de algo.
Quando a hora do almoço de aproximava, ela fez mais uma tentativa. O andar estava praticamente vazio, quase todos os agentes haviam saído para almoçar, sobrara somente ela, Dorian e mais dois agentes, que estavam concentrados demais em suas tarefas. Dorian, no entanto, havia se levantado e estava parado em frente a um arquivo, a pasta aberta em suas mãos e os olhos concentrados mostravam o quanto estava imerso na leitura. Propositalmente ele havia deixado o celular no bolso novamente. Melina adotou a mesma estratégia anterior, porém, daquela vez seus movimentos não eram tão lentos, não chegou sequer a esticar a mão, Dorian a impediu antes disso. Ainda de costas para ela e com os olhos fixos nos documentos disse:
— Se está pretendendo roubar meu celular agora, sugiro que antes controle sua respiração ou então procure um otorrinolaringologista, está com problemas respiratórios, consigo ouvir daqui. – Ela urrou irritada e se afastou a passos rápidos, se jogando em sua cadeira, enquanto Dorian continuava – Não adianta ficar bravinha comigo não.
A terceira tentativa dela havia sido pela tarde, se esgueirou abaixada pelo chão até se embrenhar bem debaixo da mesa de Dorian, ele estava mexendo no computador e digitando suas anotações quando notou, pela visão periférica, a mão de Melina saindo debaixo de sua mesa e tateando tudo ao redor a procura do celular. Não pensou duas vezes antes de acertar um tapa em sua mão e escutar o grito surpreso dela vir de seu esconderijo. Se abaixou a encarando e com sua melhor expressão de desprezo disse:
— Que merda de plano foi esse?
— Você me bateu? – Questionou ela, parecendo incrédula.
— Bati, sua mão simplesmente apareceu tateando minha mesa! Você é mais inteligente que isso, Melina, está roubando um objeto muito valioso, não um docinho da mesa do seu coleguinha da quinta série.
— Eu desisto!
Melina simplesmente se levantou e saiu bufando em direção à cozinha. Ele não tentou ir atrás, sabia que ela estava irritada demais com ele e acabaria piorando as coisas se dissesse algo. Esperou até que ela voltasse, ainda com a feição irritada, e se encostasse na mesa dele, cruzando os braços.
— Eu não quero mais. – Disse ela, por fim.
— Vai desistir? Simples assim?
— Eu não nasci para isso, Dorian! Não nasci para roubar, nasci para prender quem rouba.
— Isso meio que não te deixa à frente de quem é ladrão? Você mapeia e sabe as técnicas que os ladrões usam, então isso te dá uma certa vantagem.
— Posso saber as técnicas, mas não sei executá-las.
— Nenhuma técnica é uma boa técnica se você não treina. – Respondeu ele virando a cadeira na direção dela – A teoria serve de guia, mas ela não é muito útil se você não a aplica. E para aplicá-la bem, necessita que treine, todo treino tem que começar do zero, com você sabendo nada e aprendendo a partir de seus erros.
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Carte Rouge - Carte Ás 2
De TodoSérie: Carte Ás "Você é livre para praticar suas ações, mas lembre-se que elas vêm acompanhadas de seu preço." Dorian nunca pensou que ser consultor dos federais poderia lhe causar tantos problemas, admitia sem medo algum que sua vida era muito mais...