TODO O EMPENHO de Dorian pareceu ter se multiplicado no dia seguinte, ele passara a manhã toda pesquisando sobre Thomas e fazendo os mais diversos tipos de anotações. Nenhum dos agentes ali entendia bem o que ele anotava no quadro branco que estava ao seu lado, mas tinham consciência de que tinham de tirar a garrafa de café de perto dele. O ladrão não conseguia nem mesmo ficar parado, havia se levantado e andava de um lado para o outro como se houvesse sido eletrocutado.
Preocupada com a agitação dele, Melina se aproximou, analisando bem o que ele escrevia e questionando:
- O que está fazendo, Delyon?
- Levantamento de dados. Estou estudando a personalidade, postura e linguagem corporal do Thomas. Preciso saber exatamente como ele se comporta.
- O que concluiu até agora? Porque só vejo um monte de rabiscos nesse quadro.
- E quem disse que escrevi para que alguém entendesse? - Resmungou ele, se afastando do quadro e correndo os olhos por tudo o que já havia anotado - Acontece, meu amor, que não posso deixar nada escapar, por isso esse monte de rabiscos. Já assisti a pelo menos dezesseis horas de vídeos dele só para entender como ele se move.
Melina poderia muito bem mencionar o quanto aquilo parecia estranho e até obsessivo, mas duas palavrinhas inocentes que ele havia dito no meio toda aquela frase a fez paralisar. Meu amor. Era a primeira vez que Dorian lhe chamava daquela forma, fora de qualquer plano ou encenação que haviam adotado. E soara tão naturalmente, que até mesmo ele pareceu não ter notado que havia dito, continuava tagarelando alegremente sobre como havia traçado todo um perfil para que pudesse adotá-lo.
- A postura de Thomas costuma ser imponente, forte e até mesmo agressiva por vezes. - Continuou ele - Mas há momentos muito específicos que ele se desarma e incrivelmente é quando a esposa e os filhos estão por perto. Observe bem esse vídeo que encontrei de seis meses atrás, ele precisou participar de algum evento que toda a família dele precisava aparecer. O rei e a rainha, que é prima dele, parecem bem à vontade, mas Thomas está totalmente desconfortável, a expressão fechada, os ombros tensos e maxilar travado, fora a mão em frente ao corpo, ele não está nem um pouco aberto ao que está acontecendo ali. Mas segundos depois, veja bem, Amália aparece ao lado dele. Observe bem como a postura muda, os ombros relaxaram as sobrancelhas já não estão mais unidas, os braços saíram da frente do corpo e um indício de um mínimo sorriso se abriu... é mesmo um bobão apaixonado. Como pode você amar alguém a ponto de o simples fato de vê-la te fazer mudar completamente a postura e seu corpo todo reagir?
Dorian percebeu o quanto havia se empolgado com sua fala e se voltou para Melina, no intuito que pedir desculpas, mas os olhos dela cravados diretamente nele o fizeram se dar conta da última frase que ele mesmo dissera. Querendo ou não, naquele momento ele se deu conta de que entedia muito bem seu amigo, porque seu corpo todo reagiu ao simplesmente encarar o rosto de Melina, já não se sentia mais tão agitado como estava.
- Como pode? - Voltou a resmungar para que só ele mesmo ouvisse.
- Meu amor? - Questionou Melina, desviando no assunto e ainda presa naquelas palavras.
Por alguns segundos Dorian ficou mudo, perdido demais naqueles olhos castanhos para responder a algo. Pareceram que minutos haviam se passado enquanto eles se encaravam silenciosamente, e só pareceram sair do transe que se encontravam quando escutaram certa comoção se formar na divisão.
Piscando aturdidos, se voltaram na direção de onde vinha o som percebendo que quem estava ali era ninguém mais, ninguém menos que o próprio senador Morgan. Melina resolveu se aproximar de onde uma certa conversa acalorada acontecia entre ele e Alex, seu chefe, enquanto Dorian permanecia em seu canto, apenas analisando aquele homem que exalava poder.
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Carte Rouge - Carte Ás 2
AléatoireSérie: Carte Ás "Você é livre para praticar suas ações, mas lembre-se que elas vêm acompanhadas de seu preço." Dorian nunca pensou que ser consultor dos federais poderia lhe causar tantos problemas, admitia sem medo algum que sua vida era muito mais...