Capítulo 10

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NA TARDE SEGUINTE, EU OBSERVO A TRAJETÓRIA DE UMA pequena bola branca que sobe a uma grande altura no ar e então cai e aterrissa pesadamente sobre a grama artificial, a mais ou menos cinco metros
de distância do seu alvo.

— Cara, você é ruim demais — eu digo a Sebastian.

— Como se eu não soubesse disso.

Ele apanha outra bola, coloca-a sobre o suporte e balança seu taco. Quando bate na bola, ela voa bem alto, quase atinge o topo de uma rede preta, e então acaba caindo sobre a longa faixa de gramado verde que se estende mais abaixo como uma doca sobre o rio Hudson. Dois navios de cruzeiro brancos estão atracados perto da área de treinamento de golfe e acima de nós nada mais se vê além de céu azul. Nós estamos no Chelsea Piers, onde Sebastian tenta aprimorar sua técnica no esporte.

— Odeio ter que te dizer isso, mas eu duvido que o seu novo chefe vai
ficar impressionado com o seu talento nesse jogo. Talvez você consiga
convencê-lo a jogar softbol com a gente em vez de golfe.

Ele bufa, fazendo pouco da minha sugestão.

— Provavelmente não. O velho é obcecado por golfe. Dizem que ele joga
com os favoritos e reserva os melhores horários da grade de programação aos
produtores que conseguem jogar com ele de igual pra igual.

— Isso é loucura. Mas se for verdade, você precisa mexer menos os ombros. E o movimento dos seus quadris não está bom — eu digo a ele, valendo-me da experiência que tive com golfe no ensino médio. Não costumo falar muito sobre isso. Faz com que eu pareça arrogante demais. Ou velho demais. Mas se for para ajudar o meu amigo, vale a pena desenterrar alguns dos meus velhos truques de golfe.
Sebastian ergue o rosto e olha para mim por detrás dos seus óculos modernos de aro preto, com o cabelo castanho caindo sobre a testa.

— Nem pense em encostar nos meus quadris para me mostrar como se faz,
Evans.

Eu dou risada, levantando as mãos como se estivesse me rendendo.

— Pode apostar que isso nunca vai acontecer — respondo e saio do
caminho para não atrapalhá-lo em sua nova tacada.

Ele se sai melhor desta vez e a bola descreve uma trajetória suave e
eficiente sobre o gramado.

— Que beleza! — eu comemoro. — Coloque isso em seu próximo
episódio: "Um amigo do Sr. Orgasmo o livra de passar vergonha jogando
golfe com seu novo chefe".

Sebastian Stan é uma celebridade da televisão. No ensino médio, ele era o
tipo de cara calado e viciado em computadores, sempre grudado em seu notebook, desenhando histórias em quadrinhos obscenas para postar on-line. Dez anos depois, Sebastian transformou seu talento e sua ideia em uma animação para TV — As Aventuras do Sr. Orgasmo, um programa engraçado e indecente que vai ao ar tarde da noite pelo canal a cabo Comedy Nation. O personagem principal é uma espécie de super-herói cheio de energia, que leva o prazer do orgasmo às mulheres ao redor do mundo. Posso apostar que isso é
a realização de um desejo que Sebastian alimentava desde a escola. Agora, a arte imita a vida e vice-versa. Sebastian ainda é um pouco calado, mas as mulheres o notam. Ele malha desde a nossa adolescência, tatuou os braços com desenhos que ele mesmo criou e finalmente reuniu coragem para começar a falar com as mulheres. O resultado disso? Pura mágica. Digamos que ele não tem mais
motivos para reclamar de sua vida sexual. O homem é um pegador e eu
suspeito que os óculos e o despretensioso ar de "já fui um geek, mas hoje sou uma celebridade" o ajuda a cair nas graças das mulheres.

— E de que maneira exatamente o nosso herói salvaria o dia nessa sua
trama? — ele pergunta em tom seco.

Dou um tapinha no ombro dele.

— Sei lá. É por isso que você é o roteirista, meu chapa. É o seu trabalho
descobrir como o Sr. Orgasmo vai desempenhar suas funções. Aliás, por falar em trama, eu preciso da sua ajuda com uma coisa — digo, abordando o
verdadeiro motivo de vir encontrar Sebastian esta tarde.

Ele abaixa o taco e ergue um dedo no ar.

— O nome é Ponto G. Não se sabe onde exatamente ele se localiza em uma mulher. Quando você o encontra e o toca no ângulo certo, a mulher sente um prazer indescritível e tem um orgasmo desesperador, que não pode
ser definido em palavras. Precisa de mais alguma coisa ou é só isso?

Eu finjo tocar bateria no ar para acompanhá-lo com a trilha sonora da
piada: ba-dum-tsss. Então conto a ele a respeito do meu novo relacionamento
temporário. Depois de quase morrer de rir da minha situação, Sebastian pergunta:

— Você pretende me convidar para ser seu padrinho? Vai ter casamento
de mentira também?

Eu dou risada e balanço a cabeça numa negativa.

— Não vai ter casamento nenhum. Nunca. Vou dizer o que preciso que
você faça. Meu pai vai estar com o comprador dele no nosso jogo de softbol do próximo fim de semana. Tudo o que eu quero é que você aja como se soubesse que eu e Scarlett estamos juntos. Quando chegar a hora, você não pode parecer surpreso nem desconfiado. — Meu pai mantém um time de softbol patrocinado pela Lisa's e eu e Sebastian fomos recrutados por ele para integrar o time neste ano. Sebastian joga softbol mil vezes melhor do que golfe. Ele balança a cabeça para cima e para baixo várias vezes, como se estivesse entendendo as minhas instruções.

— Certo, Chris, vamos ver se eu consegui acompanhar direito. — Ele
passa a mão pelo queixo. — Você está dizendo que eu devo ser perfeitamente capaz de dar respaldo a essa merda toda que vocês inventaram. Tá bom. Acho que posso fazer isso.

— Muito engraçado. Mas é por isso que eu confio em você. Você é uma
fonte inesgotável de sarcasmo.

— Combina com você, é por isso que nos damos bem — ele retruca com
um sorriso.

— Bom, agora eu preciso me mandar, porque tenho aquele compromisso
hoje à noite. O jantar.

Eu começo a me afastar para ir embora, mas Sebastian me chama.

— Isso significa que não posso investir na Scarlett agora?

Meus ombros ficam tensos por um momento e o meu sentimento de posse
retorna ainda mais feroz, como uma águia descendo subitamente do céu e
brandindo as garras mortais. Eu respiro fundo e me lembro de que Sebastian está brincando. É o que ele faz de melhor. Além do mais, eu não sou nem um pouco ciumento nem possessivo. A águia acaba se transformando em um
pombo.

— Só enquanto durar o nosso teatro, Sebastian. Não deve levar mais de uma
semana — eu digo. — Depois ela é toda sua.

Mas essas palavras que acabam de sair da minha boca não me agradamnada. Scarlett pode não ser minha, mas não significa que ela precise ser dele
por isso. E eu não sou nenhuma porcaria de símbolo da paz.

— Eu sempre achei que vocês formavam um casal muito gracinha — ele dispara com voz melosa.

Enquanto bato em retirada, ele zomba de mim até não poder mais, imitando sons de beijos e cantando músicas infantis sobre namoradinhos. Essa é a minha deixa para entrar no carro e largá-lo para trás. Afinal, preciso me preparar para encarnar um personagem esta noite. Porque isso tudo não passa de encenação. É só encenação e nada mais.

Between Precious Jewelry & Drinks - EVANSSON #CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora