Capítulo 20

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O FUNCIONÁRIO DA CASA NOS LEVA ATÉ NOSSOS ASSENTOS.

Scarlett cruza os braços e suspira.

— Está se sentindo bem? — pergunto.

Ela faz que sim com a cabeça. Seus lábios se juntam, formando uma linha
reta.

— Tem certeza? Porque, daqui de onde estou olhando, eu poderia jurar
que você está chateada.

— Eu estou bem.

Ainda não consigo acreditar nela e a expressão cética em meu rosto deixa
isso evidente.

— Não tem mesmo nada de errado com você?

— Não tem nada de errado. — Ela descruza os braços, agarra a manga da
minha camisa e muda de atitude na mesma hora. — Quando é que vamos
fazer um boneco de vodu daquele repórter?

Ergo os olhos, fingindo que estou concentrado em algo.

— Bem, vamos ver — respondo. — Tenho horário na minha agenda às
três da tarde de amanhã. Serve?

Scarlett faz vigorosamente que sim com a cabeça.

— Fechado! Você traz os alfinetes e eu cuido dos panos.

— Excelente. Vou encontrar um tutorial no YouTube para fazermos isso direito.

Ela abre um sorriso.

— Eu odiei aquelas perguntas! — ela sussurra para mim no momento em
que a abertura do musical se inicia.

— Ele estava tentando pegar pesado e insistiu num assunto tão inútil. Mas
você mandou muito bem.

— Foi constrangedor — ela diz, e acena para que eu me aproxime mais quando as notas de violino chegam à plateia. — Acha que aquele repórter descobriu algo sobre o nosso acordo?

— Também suspeitei disso, mas acho que no fim das contas ele estava só
jogando verde para colher maduro.

— Você gostou da resposta que eu dei no final, não é?

Se gostei? Eu adorei o que Scarlett disse a respeito das coisas acontecerem rapidamente. Mais até do que gostaria.

— Achei a sua resposta fantástica — digo.

— Coloquei aquele sujeitinho no lugar dele, não foi? — ela se gaba, soprando os dedos com uma expressão triunfante.

Gostaria de poder me enfiar agora mesmo em um buraco no chão. De
repente, me sinto miserável, mas isso é trazido pelo reconhecimento de que
eu queria que houvesse alguma verdade nas palavras dela. Eu queria que alguma coisa nisso fosse real.

— Você foi totalmente convincente — eu digo com um sorriso forçado no
rosto.

Nossa conversa é um lembrete de que, dentro de quatro dias, Scarlett não estará mais comigo. Muito embora eu, por alguma razão desconhecida, não deseje que nosso acordo chegue ao fim. Nosso trato terminará em breve, mas eu não queria que terminasse. O primeiro número começa e eu acho — não, eu tenho certeza — que essa
vai ser a minha pior experiência com um musical.

***

SCARLETT SE MANTÉM EM SILÊNCIO ENQUANTO CAMINHAMOS PELA Times Square, depois de nos despedirmos dos meus pais e dos Offerman. Nós nos misturamos às multidões caóticas no reluzente neon da famosa lata de sardinhas que é Manhattan, um tipo de zoológico de pessoas numa cidade de milhões de habitantes. Um homem caracterizado como um robô prateada executa movimentos vacilantes ao lado de uma cartola que contém algumas moedas. Um cara vendendo chaveiros da Estátua da Liberdade dá um encontrão em Scarlett e a acerta com o cotovelo.

Between Precious Jewelry & Drinks - EVANSSON #CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora