Embora parte 2!

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Carlos

- Como assim? - perguntei impaciente.

- Ana vendeu a pousada e elas foram embora para a irlanda! - o rapaz já começava a tremer.

- Quando? - rosnei. Não deveria ter falado daquele jeito, o pobre rapaz não tinha culpa.

- Tem uma semana! - falou com medo.

Saí de lá queimando de raiva, porque caralho Amalia tinha ido embora sem avisar a ninguém? Porque elas tinham ido embora? Ana precisava tratar o câncer e o nosso hospital era o melhor do país! Suspirei tentando controlar a raiva, eu sabia que elas eram de lá, mas não entendia o porque Amalia aceitaria voltar ao lugar do seu sofrimento! Será que Ana pediu pra ser enterrada junto dos parentes e por isso elas foram? Minha cabeça estava a mil e o arrependimento começou a queimar meu peito, eu era o único que sabia o que Amalia estava passando e não fiquei ao lado dela.

- Merda! - vociferei. - que belo filho da puta eu sou! - sorri frustrado, coloquei as mãos na cintura e olhei para o céu.

Meu coração voltou a acelerar, quando passou por minha cabeça que Amalia tinha ido com a avó para cumprir a promessa que fez! Não, ela não faria aquilo! Eu precisava ir atrás dela, não podia deixá-la sozinha quando a avó partisse ou, ou... não, eu não iria pensar naquilo! Senti um nó formando em minha garganta, pensar em perder Amalia fez lágrimas arderam meus olhos, eu não podia viver num mundo onde ela não existia!

Entrei no carro e rumei para casa, precisava comprar minha passagem e ir atrás dela, não a deixaria sozinha! Enquanto dirigia fiquei pensando o porque me importava tanto, Amália foi apenas mais uma foda em minha vida, eu não tinha sentimentos bons para dar a ela, na verdade, para dar a ninguém.

Minha vida era uma mentira, um teatro, onde eu me escondia atrás de uma máscara para que as pessoas ao meu redor não descobrissem o quão fodido eu sou! Eu odiaria ver os olhos das pessoas ao meu redor com pena ou nojo em minha direção, eu odiava a piedade! Odiava ter que explicar as merdas que passei, deixei tudo para trás quando me mudei para NY!

Mas não podia suportar perdê-la, precisava dizer a ela o que sentia, que desde o primeiro dia em que a vi, fiquei obsecado por ela. Que inventava motivos para vê-la, mesmo nos meses em que passava longe, eu a olhava de longe, observando seu sorriso espontâneo, o jeito que falava sem papas na língua.

Amava o modo como se entregava para mim, como gemia em meu ouvido. Merda! Eu deveria ter passado mais tempo com ela, ter perguntado o tipo de flor que ela gostava, a cor, a música! Amalia era incrível sem toda aquela merda e eu precisava lembrá-la daquilo!

Meu telefone tocou e eu atendi sem prestar atenção em quem era.

- Eu a encontrei! - falou alegre.

- O quê? -  Freei o carro bruscamente, ouvindo as buzinas atrás de mim, mas não me importei, olhei o visor e vi quem era - onde ela está! - rosnei.

- Londres!

- Como assim? Você não já tinha procurado por lá? - falei irritado.

- Sim, mas descobri que ela havia trocado de identidade, por isso foi difícil de achar! - falou sério - o importante é que eu achei!

- Me passe o endereço! - senti meu sangue ferver com a raiva.

- Eu preciso te contar uma uma coisa! - ele exitou um pouco.

- O que é? - perguntei com medo dele dizer que ela tinha morrido, eu precisava dela viva!

- Ela tem câncer terminal!

- O quê? Como assim?

- Câncer de útero, estagio quatro!

Ele continuou a falar, mas eu não ouvia, a palavra estagio quatro gritava e ecoava em minha mente me deixando tonto. Senti meu corpo tremer e as mãos suarem. Tantos anos procurando por aquela mulher e descubro que ela está morrendo! Como vou poder confronta-la? Como vou poder gritar para ela todas as minhas mágoas.

- Merda, merda, merda! - bati as mãos repetidas vezes no volante e chorei, por todas as merdas que passei, por ela ter me abandonado. Porquê? Porque os céus tinham tanto ódio de mim?

Respirei fundo tentando controlar as lágrimas. Peguei o telefone e ele tinha me mandado o endereço. Liguei na companhia aerea e reservei um voo, mesmo que ela estivesse morrendo eu iria até lá, precisava vê-la!

Na manhã seguinte meu voo partiu as dez, liguei no hospital avisando que precisava resolver assuntos pessoais urgentes e fui liberado, eu não tinha nenhuma falta ali e já estava a mais de três anos sem tirar férias, então, ser liberado por alguns dias não seria problema.

Pensei em ligar para Amalia, mas sabia que ela não iria atender e mesmo querendo ir até lá, colocá-la em meus braços e prendê-la a mim até que ela desistisse da ideia idiota de me deixar, eu precisava resolver minhas merdas primeiro, só esperava que Amalia estivesse bem, quando eu fosse até ela!

O voo de NY para Londres durou oito horas, e eu não consegui relaxar nenhum minuto se quer, quanto mais a aeronave se aproximava do destino, mais ansioso eu ficava. Nunca pensei em voltar aquele lugar, onde minha vida foi um inferno. Sair dali quando me formei foi um alívio e eu nunca mais pisei naquelas terras, mas por uma piada sádica do destino, a mulher tinha ido parar ali! O porque eu não sabia, mas iria descobrir!

Quando pisei fora do aeroporto, meu corpo travou, o cheiro daquela cidade ardeu meus olhos e a ânsia me acometeu. Suspirei algumas vezes, tentando controlar meu coração acelerado e pensei em fazer meia volta, deixar aquela merda para lá e voltar para NY.
Mas não podia, precisava ver aquela mulher que procurei por tantos anos, saber o porquê ela estava ali depois de ter me abandonado, para ser vendido como um cachorro!

A raiva ardeu meu peito e eu saí em direção à um taxi, dei o endereço ao homem e ele dirigiu pelas ruas daquela maldita cidade. Parou em frente a uma casa grande e bem cuidada, eu paguei e desci sentindo a raiva corroer meu corpo. Pelos portões altos  e a arquitetura da casa os donos eram ricos, imaginei que ela seria empregada naquele lugar, não tinha outra explicação.

Criei coragem e toquei a campainha, uma mulher jovem vestida com um uniforme o atendeu.

- Boa noite, em que posso ajudá-lo? - a mulher perguntou desconfiada

- Madalena Rodríguez está? - perguntei ansioso.

- Quem? - a mulher perguntou confusa.

Lembrei que ela havia mudado de nome, peguei meu celular e procurei na mensagem o nome dela.

- Diana Jones! - suspirei o nome.

- Quem gostaria? - a mulher questionou.

- Carlos Martínez! Fale para ela que é sobre Ruan  Rodríguez, ela vai saber quem é!

A mulher entrou na mansão e eu sentia meu corpo quente demais e meu coração parecia que sairia do peito. Sentei na calçada e senti meu corpo suar demais, mesmo no frio de menos dez graus, e comecei a hiperventilar, estava tendo um ataque de pânico! O ar não entrava mais em meus pulmões e eu comecei a sufocar, deitei na calçada e a agonia da morte já me abraçava, queria rir daquilo, era cômico se não fosse trágico, eu sofri mais que ninguém nessa cidade desgraçada e no dia em que voltei, morri!

A escuridão começou a me abraçar, me levando a um lugar conhecido e então tudo apagou!

...

Redenção de um cretino irresistível - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora