Semelhança!

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Carlos

Gemi com a dor que tomava minha cabeça, abri os olhos e fitei o teto branco, estava em um hospital. Suspirei, sentei na cama e aranquei o soro do meu braço.

- Ei! O que está fazendo? - a mulher gritou e eu coloquei a cabeça entre as mãos.

- Puta merda! - gemi e levantei.

- Não pode levantar agora! Espere! - ela segurou em meus ombros me empurrando para a cama.

- O que merda está fazendo! - rosnei. 

- Se não se controlar vou precisar conter você! - ela rosnou para mim 

A mulher vestida de branco me olhou irritada, suspirei antes de fazer uma besteira, não lembrava como fui parar ali, provavelmente alguém me achou e chamou uma ambulância. Sentei na cama e levei as mãos de volta a cabeça que doía como o inferno, então deitei sentindo uma pressão no peito, aquela cidade trazia meus demônios de volta e enquanto eu estivesse ali, seria daquele jeito.

- Senhor olhe para mim! - a mulher me chamou. - enfermeira! 

Eu não consegui mais ouvir o que ela falava, mas concerteza me deu algum calmante porque eu apaguei novamente.

27 anos atrás 

O carro sacolejava fazendo meu estômago embrulhar, mas eu estava aliviado por sair dali, nunca mais veríamos aquele homem e eu e mamãe seríamos felizes. Dois dias depois o carro parou e mamãe desceu, me puxando para fora. Chorou agradecendo aos homens e entregou um envelope a eles e eles foram embora. 

Eu não entendia como iríamos viver ali sem teto ou comida, mas confiava em minha mãe e sabia que ela daria um jeito.

Passamos alguns meses em albergues, não era tão ruim, tínhamos comida, abrigo e o mais importante, paz! 

- Filho, eu achei um emprego! - mamãe sorriu alegre - agora vamos poder sair daqui!

Eu sorri para ela, por mim poderíamos ficar ali, eu já tinha feito algumas amizades e já havia me acostumado com as pessoas, mas minha mãe sabia mais do que eu e se ela estava feliz por sair dali, eu também estava!

Mamãe trabalhou durante seis meses como faxineira de uma casa muito grande, nós continuavamos dormindo no albergue e as vezes ela me levava lá, quando os donos não estavam, para que eu a ajudasse em alguma tarefas e eu ficava fascinado com a beleza do lugar.

No sétimo mês nos mudamos para os fundos da casa, onde ficavam os quartos dos empregados. Eu ficava o tempo todo trancado dentro do quarto assistindo tv, minha mãe falava que o dono era muito rígido e não gostava de crianças, por isso eu não poderia sair, ou ela seria despedida. Eu obedecia, não queria ver minha mãe triste e então, mesmo me sentindo sufocado, ficava ali, sozinho.

Às vezes eu ouvia minha mãe chorando a noite, eu fingia que estava dormindo e a ouvia susurrar uma prece e chorar baixinho. Imaginei que talvez ela sentisse falta de casa, mas logo tirava a ideia da cabeça, ela não sentiria falta daquele homem, de jeito nenhum!

Um dia minha mãe estava bem aflita e me falou que nós sairiamos da casa. Perguntei porque, mas ela não me respondeu, apenas me pediu para juntar as roupas na mala e quando ela chega-se a tarde nós partiriamos. 

Mas ela não voltou, esperei dois dias e ela não apareceu, eu tinha apenas oito anos, não entendia quase nada, imaginei que ela estava com muito serviço e por isso não tinha voltado e esperei por mais um dia.

Já estava morrendo de fome, no quarto só havia água, mas não podia sair porque ela trancava a porta e levava a chave. Desesperado comecei a bater na porta e gritar chamando por ela, esperava que alguém ouvisse e me tirasse dali, mas ninguém apareceu. 

Redenção de um cretino irresistível - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora