Capítulo 15: Despedida

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  Ouvi um falatório ao meu redor de vozes desconhecidas, mas não conseguia entender o que diziam. Tive alguns vislumbres de pessoas de jaleco branco em minha volta e era perceptível que elas estavam nervosas.

— Os sinais vitais dela estão estabilizando. — Escutei uma voz de mulher à minha esquerda. Acho que era uma médica.

— Olha, parece que ela está acordando. — Uma voz masculina falou à minha direita.

— Hum... — Resmunguei com um gemido. — O que houve comigo?

  Ninguém respondeu o que tinha acontecido.

  — Como a senhora está se sentindo? — O homem perguntou medindo a minha pressão. O crachá verde em seu peito dizia que ele era enfermeiro.

  — Mal. — Respondi fechando os olhos.

  Eu não sabia bem o que estava sentindo, mas parecia uma sensação de vazio. Eu não entendia o motivo daquele sentimento.

  — Cadê o... Rob? — Perguntei com fraqueza. — Como ele está?

  — Seu marido ainda está na sala vermelha, mas já está melhorando. — A mulher respondeu. Até que foi bom ouvir a palavra "marido" saindo da boca dela.

  — Eu sangrei... — Disse baixinho. — eu sangrei de novo...

  — Está tudo bem, nós conseguimos estancar o seu sangramento.

  — E o bebê? Está tudo bem com ele?

  De novo, ninguém me respondeu. Aquela informação oculta já estava começando a me dar nos nervos. A incerteza de saber se meu filho ainda estava comigo ou se eu o tinha perdido estava me dilacerando por dentro.

  — Por favor... diga que ele está bem. — Pedi sentindo uma lágrima escorrer pela minha bochecha.

  Meus batimentos aceleraram. Era visível no monitor que media a minha frequência cardíaca.

  — Senhora, precisamos que você mantenha a calma.

  — Eu preciso saber se meu filho está bem! — Pedi, quase implorando.

— Infelizmente, você teve um aborto espontâneo. — Ela revelou.

A princípio, eu não quis acreditar. Preferi enganar a mim mesma e colocar em minha cabeça que aquela informação era mentira. Eu estava passando pela famosa primeira fase do luto: a negação.
Minha ficha só caiu quando a doutora pediu para que eu assinasse uma autorização para realizar um procedimento chamado "raspagem". O nome em si já era autoexplicativo. Basicamente, era preciso raspar as paredes do meu útero para remover qualquer vestígio fetal que não havia sido expulso durante o sangramento.
Então, com aquela papelada em mãos, comecei a ter uma crise de choro. Um choro muito dolorido que me corroía de dentro para fora e me arrancava todo tipo de sentimento feliz. O meu bebê... o meu garotinho... agora era só um resto de feto morto.

— Sinto muito pela sua perda. — A médica acariciou meu antebraço.

— Foi tudo culpa minha... — Solucei. — eu devia ter protegido ele...

— Irei acionar a psicóloga do hospital para vir conversar com você, ok? — Ela se retirou.

Quando a tal psicóloga chegou, mal consegui falar com ela. Eu não respondia mais que três palavras e nem prestava atenção direito no que ela dizia. Eu estava ali somente de corpo, porque minha mente estava muito, mais muito distante.
O que eu tinha feito para merecer isso? O que eu tinha feito para passar por todo esse inferno? Não era justo. Nem comigo, nem com o meu menino.

I chose you // Eu escolho vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora