Capítulo 01

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1998

Sábado à tarde.

Tempo firme, nenhuma nuvem no céu que doía os olhos de tão azul. Tudo parecia parado. Inclusive, Joel tentava se lembrar quando foi o último sábado que ele se permitiu ficar assim, parado também. Dedilhando notas aleatórias no violão, sentado na cadeira de descanso, enquanto Tommy resmungava tão alto do quintal do fundo, que ele conseguia ouvir da varanda da frente, por ter que limpar tudo sozinho depois do churrasco, que Joel preparou, então, nada mais justo.

Não havia um sinal de brisa, mas o clima era tão agradável, que ele pensou ser capaz de cochilar ali mesmo, sentado na cadeira, se arrependendo de ter comido demais no almoço, mas agradecendo pela cerveja que Sarah havia colocado no freezer na noite anterior antes de ir para a casa de Jules, deixando os músculos dele relaxados o suficiente para que o cérebro dele não pensasse em quanto dinheiro ele estava perdendo por ter se dado ao prazer de uma folga. 

Desde quando ele e o irmão Tommy, decidiram que ganhar pouco já era demasiadamente humilhante, mas ganhar pouco e ainda ter que ouvir merda de patrão que nem se quer fazia ideia do tipo de trabalho que eles tinham que desempenhar, e resolveram que seria melhor ganhar pouco desde que fosse em paz, desde que eles mesmos fossem os merdas dos patrões, e abriram a empresa de empreiteira, ele mal se lembra quando foi que ele não trabalhou. As vezes ele até pensava que, talvez, tivesse sido melhor, ter ficado escutando merda de patrão. 

Mas o desejo de proporcionar uma vida melhor para a sua família, para Sarah, e talvez colocar um pouco de juízo na cabeça do irmão mais novo, empurrando responsabilidades em cima dele, mantendo a cabeça de vento ocupada o suficiente para que ele não tivesse tempo de se meter em encrencas, era tão vívido, que sobrepunha o cansaço. 

Só não sobrepunha a culpa que ele sentia por deixar Sarah tanto tempo sozinha. Dobrando turnos, para conseguir cumprir os prazos de entrega das obras, e deixando a filha sem a presença dele. As vezes ele precisava se forçar a pensar que a ausência dele seria compensada com a possibilidade de mandar a filha para uma boa faculdade, e assim poder dar a ela um futuro que ele e nem ninguém da família teve. Precisava encontrar em todo o seu esforço, um objetivo maior.

Ele estava disposto a sacrificar qualquer coisa por ela, desde que isso significasse que ela teria o seu lugar no mundo, uma profissão, uma boa vida, para que ela entendesse o valor das coisas e fosse um boa menina. E ele ia proporcionar isso a ela. Ele iria proporcionar qualquer coisa que aquela garota quisesse. 

Porque também haviam outras culpas. Sarah não era o tipo de menina que pensaria que o pai estava se ausentando porque tinha demasiada ambição dentro dele, a ponto de querer enriquecer de tanto trabalho. Não. Ela era jovem, mas era uma menina muito esperta para a idade dela. Sarah sabia que o pai trabalharia semanas seguidas sem dormir se fosse aquilo que ela precisasse. Por isso, ela jamais o cobraria pela ausência por seu trabalho. Na verdade, Sarah jamais culparia Joel por nada. Ele era o melhor em ser o melhor pai do mundo. 

Mas Joel não achava que merecia esse posto, nem nas palavras mais doces e carinhosas que Sarah dizia e repetia a ele, afirmando tal posição. 

Joel se sentia culpado também por ter sido irresponsável o suficiente e ter acabado em um cenário em que uma garota linda, inteligente e doce, como Sarah, não tivesse uma mãe presente. Ele jamais superaria isso. No auge dos 20 e poucos anos, engravidar uma mulher que não tinha perspectivas, que estava decolando na primeira oportunidade, na verdade, nunca foi o maior problema para ele, porque no exato momento em que a enfermeira entregou Sarah nos braços dele, e ela imediatamente agarrou os pequenos dedinhos no dedo dele, ele soube que ele faria qualquer coisa por ela. Mas o maior problema dele, sempre foi saber que ele não tinha absolutamente nada a oferecer aquela garotinha tão pura e tão indefesa. Mesmo ele sendo jovem, ele sabia que nem todo o amor que ela conseguiu faze-lo sentir, quase duvidando da capacidade de amar tanto, não seria o suficiente para ela no quesito: mundo real.

Before the Last - JOEL MILLEROnde histórias criam vida. Descubra agora