Before the Last - JOEL MILLER

Capítulo 24

O silêncio de dentro da casa dos Duncan era ensurdecedor. Anna abriu a porta da frente com um cuidado que nem ela saberia dizer o porquê, afinal de contas, um avião havia caído do lado de fora. Era até curioso que ninguém da casa tenha saído para a varanda procurando o motivo de tanto estrondo, assustados ou curiosos.

Com um pé atrás do outro, e o estômago revirando, Anna foi caminhando para dentro da casa. O sobrado muito bem construído, integrava a cozinha com a sala de estar e jantar, a parte térrea da casa quase toda aberta, sem divisórias, apenas portas de correr em vidros entalhados na madeira, para eventualmente trazer um pouco de privacidade.

Anna quis chamar pelos Duncan. Mas a voz dela estava presa dentro de si. O aperto de um medo e apreensão deixando todos os seus órgãos esmagados. Conforme ela ia se aproximando da sala de estar, ela podia ir ouvindo gradativamente o volume da TV. Mas ao invés de ser o som de algum programa aleatório sendo transmitido, era apenas o som do chiado da TV fora do ar. Quando ela chegou até a porta, que estava entreaberta, Anna pode ver a TV cinza, sem imagem, o claro da TV sem sinal iluminando a sala, e Clark sentado em frente a TV sem se mover. Ela franziu o cenho, e suavemente e sem quase nenhum barulho afastou só mais um pouco a porta, para que ela pudesse passar, lentamente.

Clark estava imóvel olhando para o nada que passava na TV. Anna podia sentir todos os órgãos do seu corpo pulsando dentro de si, uma tensão se instalando de forma pesada no ar, como se tudo estivesse parado. Como se o tempo não estivesse correndo dentro da casa, e ela estivesse observando como um ser aleatório dentro do cômodo.

O som do andar de cima, fez com que ela suspirasse prendendo a respiração, olhando imediatamente para a porta. Ela demorou alguns segundos, tudo aconteceu muito rápido.

Alguém havia disparado uma arma. Era o som de um tiro. Ela tinha certeza. Seco. Ecoando pelo ar parado de dentro da casa. Estalando em seus ouvidos.

Mas esse não foi o pior.

O pior, foi a cabeça de Clark girando imediatamente para ela. Ela não teve nem tempo de dar um passo para trás. Ele saltou em cima dela, fazendo um barulho animalesco. Sua única reação foi tentar contê-lo, segurando-o longe de si, mas ele estava violentamente tentando agarrá-la de alguma forma, rosnando para ela, como um cachorro raivoso, até que ela estava no chão, as costas batendo contra o chão num baque forte, e literalmente tentando mordê-la?! Ela não conseguia entender.

"Para." Ela murmurou ofegante, enquanto tentava manter o tronco longe dele. "Clark!"

Mas ele nem se quer parecia escutá-la. Ele continuava incansavelmente tentando alcançá-la enquanto sons estranhos reverberavam por ele.

"Clark!" Ela tentava o afastar de todas as formas, as pernas se debatiam em baixo dele, as mãos agarrando qualquer parte dela que ele conseguia sem limites de força. Os dentes batendo próximo ao rosto dela, enquanto seus braços faziam todo o esforço que ela podia, para mantê-lo afastado de si.

Outro som de um disparo, ecoou em seu ouvido. Clark despencou em cima dela, como um boneco. Ofegante, e beirando ao desespero, ela empurrou o corpo dele para sair de cima dela, se rastejando pelo chão para longe, parando somente quando suas costas encontrou o sofá. Ela olhou para ele caído no chão. Olhou para si mesma vendo o sangue aquoso e quente sobre sua camiseta. As mãos tocaram o liquido, como se para ter certeza das conexões que seu cérebro fazia enviando as informações de que aquilo era sangue, e era sangue de Clark, só se tornassem reais se ela tocasse.

Jake estava com os olhos estalados, na porta da sala, segurando a espingarda. Assim que ele viu as mãos e a camisa de Anna ensanguentadas ele se aproximou dela, se inclinando.

"Você está bem?" Ele tentou segurá-la, mas ela se afastou com tanto medo e horror em seus olhos que ele demorou mais do que gostaria para entender que ele havia acabado de matar Clark, na frente dela.